terça-feira, setembro 29, 2009

No rescaldo

Bem, como tem acontecido muitas vezes cada vez mais, a maior vitória foi do P.A. «Partido da Abstenção».
E, como sempre, os demais partidos, todos à uma, trataram de menosprezar essa vitória. Que não senhor, o P.A. não ganhou, foi um mal-entendido, afinal as listas não estão actualizadas, por outro lado entraram muitos eleitores novos que nem sabiam que podiam votar, esteve bom tempo (se estivesse mau também servia...) os eleitores distraíram-se - a lista é grande.
OK, tudo isso é certo mas, a verdade pura e dura, é que houve eleições e a abstenção foi enorme. E vem aumentando. Nas legislativas de 75 a abstenção foi de pouco mais de 8%, alguém se lembra?...
Contudo alguma coisa tem de ser melhorada se queremos motivar eleitores. Soube ontem uma historieta verdadeira, passada com a minha «fada-do-lar»:
Desta vez ela queria votar.
Portanto, arranjou-se e dirigiu-se à Escola onde sempre o tinha feito. Ao chegar lá, perguntou ao sujeito que estava à porta orientando os ‘votantes’ mais despassarados, onde era a sua mesa de voto. Ele olhou para o cartão de eleitor e atira-lhe acusador e sobranceiro: «A senhora não votou nas europeias!!» Ela ficou estarrecida. Lá gaguejou que não, assustada e imaginando que haveria uma multa ou coisa assim... «Pois», respondeu o sujeito, «assim é que a gente as apanha!» Aflita, acaba por perceber que o seu local de voto tinha mudado, e já assim tinha sido nas eleições de Junho! O tipo mal encarado, lá se resolveu a informa-la onde era agora a sua mesa: num certo Clube Recreativo que ela não conhecia. «Não conhece?! Mas afinal vive aqui no Bairro?...» insiste, continuando o seu inquérito desagradável.

Bom, nervosa, viu-se livre dele, e lá procurou o outro local que achou com dificuldade. Era numa rua que, de facto ela não conhecia. Conta-me que ao chegar esteve quase a fugir, porque a dita «Sociedade» ficava num prédio assinalado com vários bêbados à porta (deviam estar a recrear-se) e, para chegar às salas de voto, precisava de subir por uma escada suja, velha e íngreme, feito bem difícil até para ela habituada a tarefas de esforço ...
Quando finalmente descobriu a sala correspondente ao seu número de eleitor, diz que a 'frase de recepção' de uma senhora, elemento da mesa, foi:
«A senhora não tem medo?»
Ela arregalou os olhos
«Medo???»
«Vem para aqui assim?! Com esse fio de ouro? É que neste bairro pode ser assaltada
Disse-me que teve a coragem de responder:
«Está enganada. Se calhar não conhece o meu bairro. Até já me assaltaram o carro, mas num bairro bem mais chic!»
São os chamados «espanta-eleitor»!

12 comentários:

Joaninha disse...

É evidente que esse P.A. (o Partido dos Abstencionistas) é o que mais tem crescido e mesmo que seja combatido por todos os Partidos...
Era importante ver-se porquê, mas o primeiro palpite é que a desmobilização vai sempre crescendo.
Lembraste as primeiras eleições que foram uma festa a que pouca gente faltou, porque estava tudo muito empenhado.
Hoje caiu-se no outro extremo. O desinteresse é enorme, e o mal é não se ver boas opções.

Joaninha disse...

Ah, quanto à história que contaste - deve ser verdadeira - era realmente de de desmobilizar qualquer um!
O idiota da primeira conversa devia estar a querer «fazer-se engraçado» mas imagino que a pobre senhora deve ter imaginado que só de olhar para o seu cartão se verificava se tinha votado ou não!!! Pior do que as escutas!

sem-nick disse...

Olha que falando a sério, essa conversa que a tua empregada teve à porta, ou com o «segurança», do local do voto, devia ser denunciada! Até posso concordar que ele estivesse a «meter-se» com ela, mas bastava ter visto que ela o estava a levar a sério para esclarecer tudo. É uma falta de profissionalismo incrível!
Coitadita, deve ter imaginado que havia uns modos secretos para ver no cartão se tinha sido utilizado!!! e talvez em quem é que tinha votado, já agora...

fj disse...

Apoio completamente o sem nick. A história é estranha, e contra a corrente. Terá a sociedade ficado lixada por lhe prejudicarem negócios?
Mas o primeiro sujeito ( que não devia dizer o que disse, nem saber ou mostrar saber outras votações) ainda intriga mais.
Claro que o que disseram é verdade, mas calculem que os novos cartões únicos não podem ser descodificados pelas mesas quanto ao número de eleitor, isso exige máquinas próprias que não estão disponíveis,obrigando os orgulhosos neo-cidadãos -hipermodernos a contactar as juntas,se para aí estiverem voltados. Outros serviços também não descodificarão? hhhmmmmm.

cereja disse...

Sem-nick e FJ, só venho confirmar que a história foi-me contada tal e qual assim! Fiquei logo com a ideia de a deixar aqui no blog :)
Olhem que ainda ontem ela estava nervosa, e garantiu-me que se não fosse querer mesmo votar nestas eleições tinha desistido e ido para casa!

cereja disse...

fj, já me tinham dito isso dos novos cartões. Mas se a pessoa souber o seu número de eleitor, isso não facilita? Procuram nas listas e confirmam com o CU (cartão única, claro) não é?

[eu tenho a sorte de ter um número de eleitor facílimo de decorar...)

Mary disse...

A Emiéle a passar por aqui a meio da manhã, é raro.
:)
Se calhar passar passa, só que não se manifesta!

Claro que o «Partido da Abstenção» é sempre grande (excepto em 75 mas aí era outra coisa) só que os motivos são tão diferentes que seria difícil terem um programa comum
(ouviram aquela ontem, nos Gatos, de que quem leu o programa do PS e viu o governo, é como quem sai do cinema a pensar que gostou mais do livro do que do filme?! aqueles tipos são o fim!!!!)

Anónimo disse...

O «Zangado» da Branca de Neve está bem escolhido. Muitas vezes quem se abstém está zangado, mas só isso. Por mim fico até muito zangado de vez em quando, mas se não voto sujeito-me a alterar as percentagens e até a quem eu não goste mesmo nada venha a ganhar...
A história que contas é espantosa. e se garantes que é verdadeira...

Mary disse...

Esqueci-me da triste experiência da tua empregada.
Mas que parvo!
Também dá ideia de que estava a brincar, mas o dizer assim é que a gente as apanha! não podia ser de mais mau-gosto!
E a outra com o «medo» devia ser uma das «asfixia democrática»!!!!

Unknown disse...

A meu ver abstêm-se em 1º lugar - os preguiçosos que, se assim se pode chamar, não exercem o seu direito/dever cívico (?) depois, a disparidade dos “números” (tão falada) conforme notícia da RTP (on line) de Agosto "Os cadernos eleitorais têm 9,3 milhões de nomes - diz a DGAI (Direcção Geral da Administração Interna), enquanto o Instituto Nacional de Estatística (INE) aponta que a população residente em Portugal é de 8,6 milhões
Os cadernos eleitorais contêm 650 mil nomes de pessoas que morreram ou já não residem em Portugal, o que representa uma taxa de abstenção de sete por cento acima da real. Esta diferença "custa dinheiro aos contribuintes" uma vez que o número de mandatos está relacionado com o número de inscritos, aponta o sociólogo André Freire" - a seguir virão, então, os desmotivados, zangados, etc. …Alguns políticos, agora, subestimam a “abstenção”, aos mesmos já ouvi, em outra altura, o contrário, vai-se lá saber por quê.:))
Agora, nesse caso da tua “fada do lar” - estou com o sem-nick - “merecia uma denúncia”.
Fada do Lar - jeito carinhoso de chamar - lembrando a “senhora” que não tem aparecido -:))
No dia das eleições, também, registei um caso, para mim, estranho – através da RTP-Açores vi uma repórter à saída de uma mesa de voto e pela manhã a inquirir pessoas de modo que, estas, respondiam sobre a adesão às urnas e muitas diziam que iam votar bem por ser neste ou naquele partido - essa reportagem foi para o ar ainda as urnas, pelo menos, aqui nos Açores não tinham fechado, mas, pior foi quem estivesse ali à volta ouviria perfeitamente a revelação em quem elas tinham votado.

Pedro Tarquínio disse...

Ano inscritos votantes
2009 9347315 5658495
2005 8944508 5747834
2002 8902713 5473655
1999 8864604 5415102
1995 8906608 5904854
1991 8462357 5735431
1987 7930668 5676358
1985 7818981 5798929
1983 7337064 5707695
1980 7179023 6026395
1979 7249346 6007453
1976 6564667 5483461
1975 6231372 5711829

O nº de votantes em eleições legislativas não se tem alterado muito, ao contrário do nº de eleitores.

fj disse...

Olhando para os números do Pedro Tarquínio (obrigado!)até podemos começar a pensar que afinal são sempre os mesmos que votam!!!!
:)

Não fora alguns já terem morrido, e outros começarem a votar afinal.
Mas tem muita graça ver os números. Variam pouquíssimo.