terça-feira, junho 23, 2009

«Sem rasto»

Falou-se bastante ontem, na comunicação social, de uma reportagem na PJ sobre o desaparecimento «sazonal» de adolescentes dos 13 aos 18 anos. A Polícia é de opinião que os jovens desaparecem mais nesta época por causa dos namoros de Verão e por causa das más notas. É lógico e eles devem ter indicadores seguros para afirmarem tal.
Por outro lado também ontem se chamou a atenção para o exame de matemática, que parece não ter sido tão difícil como o de há dois anos. A «terrível» matemática, pesadelo de muitos estudantes. E não são apenas os jovens estudantes portugueses que se assustam com a matemática, ela é considerada ‘assustadora’ pelos estudantes de muitos países, e até se encaram como dignos de respeito os alunos que gostam desta matéria e a dominam bem. Não estamos sozinhos.
O que me causa um pouco (poucochinho) de estranheza, é o facto de a perspectiva de receber uma má nota perturbar tanto um rapaz ou rapariga que prefiram fugir de casa a enfrentar a reacção dos pais.
Claro que não estou a duvidar que isso aconteça. Os muitos milhares de estudantes que frequentam o nosso ensino correspondem a muitos milhares de pais, e decerto que o modo dos pais lidarem com a decepção de ter um filho com mau aproveitamento deve ser tão diferente entre si como os diferentes modelos de pais que existem, é certo. Contudo… É quase um lugar-comum pensar que os pais da actualidade são mais tolerantes. Há muito quem os considere até tolerantes demais, muitos professores testemunham que são desrespeitados pelos seus alunos porque os pais apoiam os filhos incondicionalmente, que os jovens de hoje abusam nos seus direitos, que são muito mimados e tudo lhes é perdoado. Temos ouvido isto em todos os tons.
Daí a minha surpresa ao ouvir agora dizer que tantas fugas de casa na altura das notas é por medo da reacção que os pais venham a ter no caso de elas serem más.
Afinal em que ficamos?
Os pais do princípio deste século estão ao lado dos filhos contra os professores, como se dizia? Ou são tão severos que é preferível uma fuga de casa ao medonho castigo que se prevê?
Não sei. Mas inclino-me mais para a hipótese dos tais namoros estivais, que isto da força do calor é terrível.
E isto do amor é forte.

Bem mais forte do que as notas boas ou más.



23 comentários:

Anónimo disse...

por um lado é estranho exactamente pelo motivo que referiste. Também verifico no dia a dia que os pais de hoje são bem menos severos do que foram os nossos (mesmo quando os nossos eram bonzinhos...)
Mas se olhares para a estatística, afinal também são muito poucos os tais putos que fogem de casa.
E no meu tempo eu bem 'ameaçava' - ou pelo menos pensava nisso quando as coisas não corriam de feição!

cereja disse...

OK, OK, tens razão, King. Também não é assim uma avalanche de fugas, mas a verdade é que aqueles casos são os que chegam à Judiciária, o que nos leva a pensar que o número dos que fogem mas são descobertos de um modo mais 'artesanal' é bem maior...

Hoje, e talvez associado com esta notícia, devia ter falado da história das análise de Sida feitas a jovens sem a autorização dos pais, que está a dividir tanto as pessoas... Não estou ainda a perceber o que indigna tanto os pais - preferiam que não se fizessem os exames?... e os filhos tivessem Sida sem o saber?

Anónimo disse...

Não li essa.
De que se trata? Não encontro no jornal.

cereja disse...

Eu ouvi na rádio.
Está AQUI
Mas deve vir noutros locais.

Joaninha disse...

Pois é. São conhecidos os «amores de Verão»... Há por aí muitas cantigas e até filmes
:)

Quanto à outra história, eu vi no Diário de Notícias. Nesta reportagem e também fiquei um pouco perplexa. Assim à primeira vista parece que a Associação dos Pais não quer é nem saber... Porque aquilo que eu imaginava que fariam força era para o «direito» a serem informados no caso de haver azar. Não sei se há esse direito, mas como mãe gostaria que houvesse, queria apoiar o meu filho nesse eventualidade. Agora opor-se à análise, onde é que leva?...

sem-nick disse...

Tanta informação!!!!

Quanto à educação que se dá, é certo que se olharmos para os "grandes números" também ando convencido que a maioria dos pais de hoje são bem mais benevolentes e tolerantes do que foram os nossos. A tal "culpa" de se ter menos tempo para os filhos, e por outro lado o facto de o modelo actual ser assim. Por todo o lado, telenovelas, romances, filmes, vemos teenagers muito seguros de si, e tantas vezes os pais indecisos e atrapalhados... a hierarquia familiar está muitas vezes anulada ou até invertida.

Contudo, com certeza que há muitos casos de pais muito severos e agressivos. E miúdos que por feitio são tímidos e assustados. Talvez fujam, sim. A ver se a tempestade passa.

josé palmeiro disse...

Ouvi, de raspão o inspector da PJ, falar sobre o assunto e concluí que ele estava a desdramatizar a situação.
Certo que a mobilidade de hoje, não tem comparação. Quando me lembro que Há miúdos que só vêem os pais ao fim de semana, não me parece difícil que perante qualquer estimulo dos referênciados, se tente uma escapadinha. De resto a exposição é imensa, basta ver as saídas que os jovens fazem aos fins de semana, digo às sextas e isto na melhor das hipóteses a partir dos 12 anos, com a condescendência dos progenitores, daí ao facto, não é um passo é um pé.
Quanto à notícia do despiste da sida, estou de acordo, pois tudo o que se fizer para despistar a doença o mais cedo possível parece-me benéfica e nós, pais e avós, que costumamos meter a cabeça na areia, perante as situações mais complicadas, temos aqui uma hipotese de mudar para melhor. Nada como saber!

Mary disse...

Exactamente como o Zá acabou de dizer, a graaaaande diferença em relação ao «nosso tempo» é sobretudo na idade da 'independência'. Eu fico de boca aberta quando vejo garotos bem novinhos a irem com a maior descontracção para as discotecas, e olhando com ar sobranceiro para os 'cotas' que querem saber onde vão.
Oh pai!!! Já tenho 14! como se fosse a maioridade, quando no meu tempo a maioridade era aos 21. Quem queria tirara a carta mais cedo tinha de ser 'emancipado' pelo pai!!! Dá um pouco que quem faz as regras (quando as há) são os miúdos!
Mas, exactamente por isso, acho muito bem, que sejam responsáveis e se imaginam que pode haver alguma probabilidade com a Sida que queiram saber. Que mal tem?!

fj disse...

Olá!

Ouvi as duas notícias.
A primeira ouvi ainda ontem na rádio sobretudo ( ouvi o telejornal com um ouvido desatento, não sei se passou lá) e a da análise da Sida ouvi esta manhã no carro.
Olha que pensei um pouco o mesmo.
As tais 'fugas' parecem mais uma chamada de atenção, e 16 - que foi o número que ouvi - também não parece assim um número muito alto! Em relação aos relacionamentos dos jovens e ao alastrar da Sida, quanto mais tarde pior. Mas, se os pais podem não saber, por ser essa a condição da colaboração dos miúdos, por outro lado o acompanhamento médico e psicológico deve ser fortíssimo. Seria importante convencê-los a falar com os pais (mesmo que os médicos servissem de intermediário)

fj disse...

Assino por baixo do que Joaninha disse.
Já quanto a Mary, concordando, não deixo de notar tb. o contrário, o prolongamento de certa depend^ncia até muito tarde, embora com aspetos que objetivamente se compreendem e diferentes de outros tempos.

Mary disse...

O Fj, decididamente ficou afectado pela campanha do Rangel!!! Agora assina tudo!
:)
Bem tenho de reconhecer que tens razão, os jovens de hoje são a tal «geração canguru» como se diz, ficam dependentes até bem tarde, mas é uma dependência económica e não é social como a gente estava aqui a falar.
Ficam em casa dos pais até depois dos 30 anos mas é porque lhes convêm e não se sujeitam às regras dos pais. Eu cá, pelo menos, não conheço nenhum caso.

cereja disse...

Olá a todos!!!
(vá lá que hoje está mais animado do que ontem quanto a comentários; já estou a bater agora o número de comentários de ontem...)

Bem, não estamos assim tão discordantes como isso. Realmente o número que eles avançaram não é assim uma coisa assustadora se pensarmos na quantidade de teenagers que existem. Eu só chamei a atenção para que, se calhar, o factor «amores» seria maior do que parecia.

cereja disse...

O segundo comentário da Mary entrou quando estava a escrever o meu, e nem o vi.
Apontas um aspecto importante. O FJ tem razão porque diz «certa dependência até muito tarde, [...] diferentes de outros tempos» e não levaste em conta o certa e as tais diferenças. Eu imagino que seria mais ou menos aquilo de que falas o que ele estava a referir. De facto, hoje, mesmo os que trabalham, ficam na casa dos pais até casarem e às vezes até depois! Mas isso é porque a namorada(o) até dorme lá, coisa que no nosso tempo nunca poderia acontecer. Esse aspecto de liberdade é completamente de outro nível!

Anónimo disse...

Não acompanhei a notícia mas, tal como tu, Emiéle, causa-me alguma estranheza os motivos da fuga. Talvez, para eu perceber melhor, precisasse de contextualizar os jovens nas respectivas famílias. Reconheço o laxismo e a permissividade excessiva, de alguns pais, em relação aos seus filhos/educandos mas, também sei que há o aposto, num registo igualmente pernicioso. Os meus filhos tiveram amigos que, ao receberem uma nota de 15 valores no secundário, era motivo de choro (sobretudo nas raparigas), devido à grande pressão exercida pelos pais, no sentido de alcançarem a "média" (nalguns casos muito alta) de acesso à faculdade.
Sei, pelo menos, de dois casos recentes de suicídio de jovens um no secundário e outro no 2º ano de medicina. Vindos de famílias, de extractos socioculturais diferentes, que era sabido, pelos próximos, dessa pressão, no entanto, não vou dizer que terá sido essa a causa( poderá ter sido o móbil?). Esses casos são sempre muito mais complexos!
Quanto aos testes de despiste da sida, estou de acordo; mas, com o conhecimento e esclarecimento aos pais e acompanhamento adequado ao jovem, caso o resultado assim o requeira .Ao ler a notícia, vejo que, esse ponto não será descuidado, senão, corre-se o risco de servir só para dados estatísticos.

Anónimo disse...

Volto, porque queria dizer que nem sempre os jovens ficam até tarde em casa dos pais só porque lhes convém, penso que em muitos casos é por falta de independência económica. O ordenado médio de alguns jovens não chega para pagar uma renda de casa e falo com conhecimento de causa. Tenho um filho com 28 anos, licenciado, auferindo mensalmente, a recibo verde, 850 euros que depois dos descontos fica à volta de 600 euros.
Os jovens são muitos e cada um é um caso diferente do outro e isto serve também para as famílias.
Agora, que somos nós, os Pais, os responsáveis pela sua "existência" não há volta a dar!

Anónimo disse...

Peço desculpa,não li o comentário da Mary, ela já tinha falado na dependência económica, o meu já não acrescenta nada.

Fabulosa disse...

com estas notícias todas que vão surgindo, fico a pensar se as crianças e jovens de hoje em dia estão mesmo expostas a mais perigos, e os seus pais a mais preocupações... ou será a comunicação social a fazer das suas? claro que a vida de hoje é diferente, mas antes (no tempo dos nossos pais e avós) também havia fugas de casa, etc... ou não?

Joaninha disse...

Bem, isto é muito difícil, sobretudo encontrar o ponto de equilíbrio certo.
Em «resposta» (mais ou menos, é claro) à Maria e começando pelo fim:
Tens toda a razão quando chamas a atenção para a correlação «rendas de casa/ordenado». É chocante e quase impossível. Sobretudo porque tivemos umas vacas gordas depois do 25 de Abril (O meu pai conta muita vez que quando casou ganhava pouco mais de 2 contos e a renda de casa era ‘um-conto-cento-e-dez’ ou seja nessa altura a ginástica resultava) Mas, conheço vários filhos de amigos meus que até estão empregados, ganham como o teu filho ou pouco menos, e gastam praticamente tudo na prestação do carro e a gasolina, na roupa que vestem, numas noitadas de vez em quando e nas férias com viagens muito boas. E se calhar o erro é dos pais que os habituaram a que as coisas básicas estão asseguradas. Afinal quando os franceses inventaram a imagem de «geração canguru» era nisso que pensavam, apesar de os casos como o teu filho serem para se pensar.
O equilíbrio entre os pais que esperam médias altíssimas dos filhos e os que que quase nem sabem que notas é que têm também é difícil. Conheço mais de um caso como o que falas, com pais que põem o alvo altíssimo por causa da média para a Faculdade. Afinal também fruto do nosso tempo e da competição brutal em que vivemos. Talvez seja esse o caso

sem-nick disse...

Bem uma gracinha para desanuviar que isto hoje está muito sério:
A Joana à hora do jantar declara:
- Tenho umas coisas para vos contar. Estou aflita porque esta manhã quis levantar dinheiro do multibanco com o cartão que roubei à mãe mas enganei-me no código e ele ficou lá, portanto não consegui dinheiro para pagar ao dealer lá da escola e ele diz que me vai dar uma terei que me manda para o hospital. E isso é muito mau porque confirmei ontem que estou grávida, não sei exactamente de quem, mas se apanhar uma carga de pancada ainda perco o bebé.
Quando viu que os pais tinham ficado brancos e sem voz, deu uma risadinha:
- Ná. Não foi nada disso. Tive foi um 2 a matemática.


Ufff....

Anónimo disse...

Realmente, sem-nick, que alívio!!!!
Quando se relativiza, os factos tomam outra proporção. O que é afinal um 2 a matemática, senão uma cena de humor, perante a eventualidade de tamanha tragédia (obra completa)?!
Apreciei a "gracinha", como lhe chamaste.

Anónimo disse...

Eheheh! Bem metido, sem-nick!
Eu conhecia essa anedota muito mais comprida e com mais floreados, mas em resumo é isso tal e qual: meter um susto aos pais com algo de terrível, para depois 'passar' a má nota.
Realmente, tiveste razão a nossa comunidade hoje estava um tanto pesada. Até o FJ que tem usualmente uma nota de ironia, hoje deu para o sisudo.
E claro que as duas Marias, a nacional e a outra, puseram o dedo na ferida - pode ser comodismo mas há muito de questões de dinheiro no facto de os miúdos ficarem independentes mais tarde.

(mas claro que os costumes serem diferentes também é importante; muitos de nós saímos de casa para estar à vontade com a namorada...)

Castanha Pilada disse...

É verdade que ainda há muitos putos com muita pressão em cima por causa das notas e dos estudos.

cereja disse...

Vocês têm razão.
Contudo prefiro pensar que o maior motivo para as fugas são mesmo os amores...
:)