segunda-feira, junho 22, 2009

O óptimo, o bom e... o impossível


«Não sei se vá ou se fique
Não sei se fique ou se vá,
Se vou lá não fico aqui,
Se fico aqui, não vou lá!»

Quando era criança cantava-se um sambinha brasileiro com este refrão ou pelo menos estes versos (não me lembro de mais nada da cantiga). Passaram-se tantos anos e nunca a esqueci porque de uma forma divertida, resume o que se sente tantas vezes quando precisamos de fazer uma escolha. É verdade que em determinadas situações podemos conseguir ficar com duas ‘alternativas’, mas de um modo geral escolher significa perder a coisa que não se escolhe mesmo que ela também seja boa…
Isto vem a propósito de que quando falo aqui dos meus fins-de-semana, ou pequenas férias, - ou até grandes férias! – numa aldeia muito sossegada, a maioria dos comentários é no sentido de apoiarem estas minhas fugas, mas há um ou outro tocando a tecla do «eu cá não sou assim» ou «que bom gostares porque eu morria de pasmaceira» mais ou menos.
E é curioso que, apesar de repetir aqui vezes sem conta o bem que me sinto lá e a pena com que regresso a Lisboa, o certo é que também não me imaginava a viver sempre lá. Consigo fantasiar que inverto os tempos, que passo 4 ou 5 dias na aldeia e 2 ou 3 em Lisboa, e mesmo assim é uma troca que não me deixa muito confortável. Com todas as vantagens que tem o campo, o certo é que só conheço dois casais que optaram por fazer da sua casa nessa aldeia a sua residência de todo o ano. E qualquer deles têm umas casas maravilhosas e um tipo de profissão que os obriga a vir a Lisboa algumas vezes por semana. Um exílio verdadeiro, mesmo dourado, é uma opção difícil.
Sei de um casal (de quem sou mais ou menos amiga) que depois de se reformar tomou essa decisão: construíram uma casa à sua medida no meio de um pinhal, venderam a que tinham em Lisboa, e instalaram-se em definitivo no campo. Fui visita-los algumas vezes e reconheço que estavam muito bem instalados - uma casa muito bonita e funcional, espaço para tudo e até um belo atelier porque ele é artista plástico, um lindo jardim, garagem para 2 carros – enquanto em Lisboa tinham 3 divisões, mais ou menos acanhadas, num segundo andar. Contudo já vai para uns dois anos que não sei deles. A pouco e pouco vamo-nos afastando mesmo sem querer. E creio que se eu tomasse a mesma opção me acontecia o mesmo.
O que vou pensando é que são duas faces que se completam de uma mesma realidade. Eu adoro estar na minha 'casinha de brincar', exactamente porque sei que depois regresso à minha vida mais movimentada. Se tivesse de optar por uma delas, digo sinceramente que tinha a maior das dificuldades.
Alterando a cantiga o bom seria «ficar aqui» sabendo que posso «ir lá».

12 comentários:

Anónimo disse...

Bom Dia Emiéle!!!

Este fim-de-semana nem passei por aqui. Andei a ver se apanhava fresco todo o dia (quero dizer todos os dias...)
A imagem que deixaste ali em baixo é mesmo agradável, mas está na cara que aquilo é foto de outro fim de semana - sempre disseste que escrevias os posts antes de saíres de Lisboa - até porque se estivesse lá o calor que sentimos nem dava para a espreguiçadeira de leitura.

E é curioso como muitas vezes penso aquilo que hoje escreves. A tal coisa da «galinha da minha vizinha». A gente deseja uma certa 'qualidade de vida' mas há pontas que é difícil juntar. E o silêncio, bom ar, tranquilidade que descreves muitas vezes, também implicam menos convívio, pior acesso à cultura, coisas que também nos sabem bem.
O tal «óptimo» é ir temperando uma coisa com a outra como dizes que fazes.

josé palmeiro disse...

Começo pela imagem de "conto de fadas" com que nos brindaste, elucidativa.
A tua dissertação é magnífica e eu, que já vivi em tanto lado, sem ser uma testemunha priveligiada, tenho a minha opinião sobre o assunto e que coincide maioritáriamente com a tua.
No fundo, só estamos bem onde não estamos. Essa dicotomia, "campo/cidade" não é fácil a não ser que rodeada de inúmeras coisas a que nos habituamos ou fizeram habituar e que, ou há condições para as recrearmos, no novo ambiente que elegemos para viver, ou então, não sei como será. Neste momento divido uma casa na periferia de Ponta Delgada com outra no Algarve e, de repente dou-me com a falta de coisas, aparentemente sem préstimo, mas só tenho, ou estão no outro sítio, que não aquelle em que estou a viver e isso é, muitas vezes um drama. Por outro lado lembro-me que, quando regressei ao Alentejo, trinta e tal anos depois de o ter deixado, a alegria e o bem estar que senti, ao rever-me naquele lugar mas, ao mesmo tempo a nostalgia de verificar que as mudanças as alternativas, as vivências, se mantinham, de uma forma geral, iguais, com o prejuízo de ter passado todo aquele tempo.
Viver fora da grande urbe, significa rodarmo-nos de bons meios de transporte, que nos permita chegar onde quisermos, quando quisermos e conseguirmos recriar, no "paraíso" que escolhemos para viver, algumas, senão todas, das mais valias a que nos fomos habituando. Enfim, complicado mas gostoso!!!

Joaninha disse...

Realmente tens o dom de passar a escrito muita coisa que sentimos sem o dizer dessa forma...

tal como o Zé Palmeiro também já vivi em vários lados e fico com o sentimento de que queria TUDO. Tem as vantagens das terras pequenas com as das grandes cidades. No dia em que os transportes forem como se sonha em ficção científica, podemos viver numa casa simpática de aldeia, e irmos ao cinema em Paris, ou ver uma exposição em Londres, e voltar a dormir na cama da casa de campo!

A imagem que descobriste leva-nos a pensar assim
:)

Joaninha disse...

Ah, esqueci-me de acrescentar deste meu devaneio, que com essa facilidade de transportes, também os amigos nos visitavam num abrir e fechar de olhos... Porque essa parte do convívio é importante também!

Anónimo disse...

Olá Emiéle, não tenho comentado, como gostaria, porque tenho um problema com o meu computador que volta e meia desliga-se e o antivírus avisa que o pc não está protegido, por isso, receio entrar na internet, aguardo um técnico.
Compreendo o que sentes, a mim também, volta e meia, se me coloca essa dúvida quanto ao desejo de me fixar na minha segunda casa, o meu "refúgio".Mas, também, verifico que tenho cada vez tenho mais dificuldade em estar repartida por dois espaços, sinto uma sensação de descontinuidade que, há uns anos atrás não me causava estranheza, será da idade?!

sem-nick disse...

Acredito que se possa sentir essa sensação, mas cá eu só tenho a minha casa una e indivisível...
E não é mau!
Há quem a não tenha.
:)
.......
Mas acredito que seja complicado a escolha como aliás todas as escolhas como bem dizes. «Escolher» é sempre rejeitar alguma coisa.

estrela-do-mar disse...

Está bem visto.
E a ideia da Joaninha das viagens de ficção científica é fenomenal!... Isso é que era!
:)

Joaninha disse...

Emiéle, isto hoje está muito mansinho. Deve ser do calor, ficamos sem força para escrever nada.
Que, por mim, até achei o teu post interessante, mas dá para ver que não dá discussão e não anima o post.
E até julguei que alguém pegasse no caso dos teus amigos que aproveitaram a reforma para realizar o seu sonho de paz, longe aqui da Capital. Ná, tá murcho isto hoje, tá.
É segunda, não há que ver!

cereja disse...

Joaninha, eu estava era mal habituada ultimamente... Olha que 7 ou 8 comentários não é mau!
E, como reconheces, este tema era mais consensual.

King, não sei se será a «galinha da minha vizinha» exactamente, afinal a galinha é minha, mas a capoeira é que é diferente... lol!

Zé palmeiro, então tu é uma diferença formidável! Entre o Alentejo, Açores e Algarve só a inicial é que é igual :)
Mas é como dizes, temos tendência para o preto ou branco para a dicotomia, e não é tanto assim, há muitas tonalidades entre a Cidade e o Campo assim estereotipados.

cereja disse...

Maria, que chatice isso do computador. Tenho pena de te ter por cá menos tempo mas o pior é o motivo ser esse. A gente já nem sabe como é que há 20 anos vivíamos sem «esta coisa»...
Já tinhas dito que também tinhas um refúgio e para mim dá-nos uma melhor saúde mental poder ir para um outro sítio de vez em quando. Somos umas sortudas, não é sem-nick? :)

Castanha Pilada disse...

Isto é como se costuma dizer: Cada um é como cada qual!

cereja disse...

Nem mais!
:)