sexta-feira, junho 19, 2009

Mas o que é que custa?!

Estava ontem a fazer a minha visita habitual aos blogs amigos cujos ‘ultimos posts’ mantenho actualizados na coluna da direita, e encontrei uma história no Charquinho. Ia escrever «história interessante», mas detive-me no adjectivo porque o interesse dela é pela negativa. Mostra como ensinamos aos nossos meninos que a falta de pontualidade e o improviso constante afinal não são nenhum mal.
Irrita-me muito. E porque é uma atitude tão enraizada que quem não funciona assim parece «esquisito». É olhado um tanto de lado, uma espécie de maluquinho.
Eu sei que peco um tanto pelo extremo oposto. Já contei aqui que sou um tanto obessiva e o que é demais, é demais. Mas, por outro lado, orgulho-me de, sendo também teimosa, conseguir levar a água ao meu moinho quando penso que é importante.
Há muito anos, tive um cargo de algum (relativo) relevo, num gabinete equiparado a secretaria de estado. Dentro das minhas funções deram-me uma vez a tarefa de organizar um seminário sobre um determinado tema. Deu-me muito trabalho. Apesar de ser apenas de dois dias, convidámos muitos especialistas estrangeiros, e decidiu-se que seria no Porto e não em Lisboa, pelo que tive de sair da «minha zona de conforto».
Mas organizei tudo e quase sozinha. Os participantes das mesas, a ordem por que falavam, o tempo de cada intervenção, as águas, os cafés, os programas, os cartazes, os hotéis, o jantar de convívio...
Escolhi uma hora de início razoável. Nem cedo, nem tarde segundo pensei. E uns 10 minutos antes da hora já lá estavam os convidados, a sala estava composta, a mesa com as flores e as águas, e liguei para a minha chefe que iria abrir as conferências. Estava calmamente no hotel. «Ah, Emiéle, acabei o pequeno almoço, vou-me arranjar mas dentro de meia hora estou aí» responde-me toda bem disposta. «Não se preocupe, eu vou organizar isto de outra forma!» e desliguei. Subi ao palco, peguei no microfone e anunciei: «Houve uma alteração, a Sra. Dra. XYZ fará antes o encerramento destes trabalhos, que vão ter início dentro de minutos» e continuei fazendo uma curta apresentação.
Começou à hora. Uma hora mais tarde aparece a Dra. tal, muito fresca, o motorista tinha-a a deixado à porta. Ficou estarrecida ao ver que estava a falar o segundo orador, o primeiro já tinha acabado! Delicada e firmemente expliquei-lhe que tinha achado de boa educação iniciar os trabalhos mas que tinha avisado que ela faria o encerramento. Nem me conseguiu dizer nada.
E acabou a horas. No dia seguinte começou a horas e no final lá falou a senhora. Tudo dentro dos prazos. E fiquei desvanecida quando várias pessoas me vieram cumprimentar dizendo que «nem parecia em Portugal».
Era um elogio.


14 comentários:

Anónimo disse...

BOM DIA !!!!!

:)

Muita gente acha que «o atraso» faz parte dos nossos genes. Reparem como não se leva nada a mal o que se chama ‘pequenos atrasos’ (até + OU - 20 minutos por reunião) e se olha de lado os pontuais, como se fossem palermas ou estrangeiros.
Há por cá atrasos de todos os tipos: de pagamentos de salários, atrasos de obras (quando é que terminam no prazo?!) e sobretudo o Estado a pagar é por sistema atrasado. Vá lá, vá lá, que alguns transportes já começam a não andar atrasados, mas foi difícil.
E afinal, todo o país em geral, anda atrasado e muito.

Joaninha disse...

Sabes, Emiéle, tudo isto é uma bola-de-neve. No caso que contas, bastava a tal tua directora ter feito como pensava - chegar uma hora depois - e cada orador aumentar o seu tempo uns 10 minutos, para já se ir almoçar duas horas mais tarde, e regressar-se pela hora do lanche acabando por se ir directamente jantar e já tarde.
É assim que funciona.

Repara no que disse o King, 20 minutos por reunião, faz com que ao fim de umas 4 se esteja com hora e meia de atraso...
É assim!

Joaninha disse...

Bem, reli o que escrevi, e esclareço: é claro que estou a somar 20 minutos a cada reunião, porque já se sabe, que ao saber a hora a que começou a primeira, os participantes da segunda reunião, ajustam o seu 'relógio mental' e por aí fóra... Por isso é que os atrasos se somam.
Todos sabemos isso.

E aqueles senhores que agendam várias coisas quase que para a mesma hora. Eu conheço vários!

fj disse...

Bom post e comentários.

Mary disse...

Como o Kimg diz, é genético. A malta ri-se como se fosse engraçado, e vai encolhendo os ombros.
Olhem os programas de tv. Os únicos que chegam a horas é o telejornal e os jogos de futebol! Nunca entendi porquê porque os anúncios são cronometrados ao segundo, e os programas normais têm um tamanho rigoroso. Mesmo os em directo minutos antes da hora de acabar já o realizador manda aviso de que só falta X tempo!

Como é possível que NUNCA se cumpra as horas a que os programas deviam passar?!

josé palmeiro disse...

Quanto aos "atrasos", estamos falados.
Eu, sou como tu, gosto de cumprir e nada me demove, ou então, não vou.
Acho que já contei uma história passada comigo na Holanda, em 1991, quando da "Gimnaestrada". Eu era atleta e actuava em Amstredão. Resolvemos ir visitar um amigo, algarvio que vivia em Utreque, mas tinhamos que estar no Estádio Olímpico a determinadas horas. Foi-nos garantido que os transportes eram certíssimos e que bastava sair a determinada hora, que estaríamos no sítio certo à hora certa. Nunca acreditei, até comprovar!
Já agora uma pergunta: - Depois da tua saída, de génio, ao dares início ao encontro e relegado a "chefe" para o final, à posteriori, qual foi a sua actitude, para contigo? Isto apesar do sucesso.

fj disse...

Estava a penar o mesmo que o Zé Palmeiro - faltava o final da história. Acabou bem?...

De resto, é claro que estamos todos de acordo, apesar de se calhar todos nós, darmos umas facadinhas nessa coisa da pontualidade. E é giro que detestamos quando a coisa é contra nós.
Quero dizer, quando somos os «autores» dos atrasos consideramos que é coisa pequena, quando somos «as vítimas» ficamos a bramar!

Está bem visto isso da tv, Mary. Fico furioso quando ponho um programa a graver e quando chego afinal gravei o anterior que não me interessava nada!

fj disse...

Ele há gralhas parvas! Queria dizer «a pensar» e não, evidentemente «a penar» !!! Caiu o s e alterou o sentido.

cereja disse...

Zé Palmeiro e Zorro - OK, eu contei esta história porque não acabou mal. Apesar desta senhora ter um feitio bem difícil, neste caso engoliu o orgulho e não senti nenhuma represália. Mas tenho de dizer que deve ter pesado bastante o ela ter ouvido muitos cumprimentos em relação a este Seminário, e afinal ter sido o seu gabinete que recebeu os louros, não fui eu individualmente, como imaginam...

Quanto à questão de se cumprirem horários, é como o Zorro diz, fechamos sempre mais os olhos quando a coisa se passa connosco, temos excelentes desculpas, mas a mim irrita-me um tanto. Como por exemplo «não vale a pena chegar a horas porque ninguém vai chegar», como se diz muitas vezes.

snowgaze disse...

dois exemplos:
conheço chefias (não em Portugal) que quando alguém se atrasa um minuto que seja para uma reunião franzem logo o sobrolho.
tenho uma amiga que nunca consegue chegar a horas a lado nenhum. Aquilo é tão grave que num ano em que trabalhámos juntas até eu já só aparecia meia hora depois da hora combinada. É que eu odeio esperar... (a esta amiga já lhe cheguei a dizer que o encontro era meia hora antes da realidade, para que não se atrasasse... mas isto são tudo águas passadas, ela agora está muito mais pontual!)

cereja disse...

Olha snowgaze, quando contaste isso, de «lá fóra» não se perdoar o menor atraso, lembrei-me de ter feito um estágio em França, e um dia em que entrei um minuto depois, a coordenadora gritou-me logo (naquele tom agressivo que os franceses sabem ter)batendo no relógio de pulso: «une minute!!! une minute!!!» e nada de justificações com o metro nem coisa nenhuma. Desde aí passei a ir mais cedo e tomar o café e croissant antes de entrar, se tivesse tempo, senão entrava logo!

Mas, com franqueza, isso é um exagero
:)

sem-nick disse...

Credo, Emiéle! E és tu pontual... Com a amiga da snowgaze, a francesa devia ter uma coisinha má!

E tens razão, eles quando são agressivos é de fugir!

Tem piada a tua história. Afinal serve de exemplo, vale a pena arriscar.

Anónimo disse...

Esforço-me por ser pontual; por vezes, se não sou, é porque estou dependente de outras pessoas ou situações que me fazem atrasar (hoje em dia nem tanto os filhos já cresceram...)
Há uma situação que, para mim, é sintomática da nossa cultura do "atraso", não são raras as vezes que, nos espectáculos ficamos sentados na sala a aguardar a entrada de algumas pessoas que, embora já estejam no Teatro, estão à conversa, no "foyer", até serem chamadas.

saltapocinhas disse...

Primeiro que tudo essa tua doutora era uma mal educada e ponto final.

eu fui ler a histõria do charquinho e o que parece que aconteceu ali foi um problema de organização (falha da escola ou da empresa de transportes, ele não diz) que não tem nada a ver com falta de pontualidade!