Sobre crianças (e não só)
[Ora vamos lá ver como é que vou conseguir entrelaçar três histórias sobre o mesmo tema]
Aqui há uma semana li um post que considerei muito sugestivo. A «Castanha Pilada» contava uma cena do seu dia a dia: tinha observado a relação entre uma mãe e o seu filho de 4 anos que brincava num jardim, e a tolerância e enlevo que aquela mãe mostrava em relação à criança
A nossa Castanha, perante o que viu diz: «Imaginei-o daqui a alguns anos, gordo, mimado e mal-educado, a ver televisão sentado no sofá», acrescentando que «há uns anos atrás, quando eu tinha aquela idade, éramos vários irmãos e partilhávamos um triciclo que fazíamos andar a força de pernas, agora um filho é uma coisa única e preciosa, que se cria à custa de muito sacrifício».
Bom, a outra história, diz respeito a uma conversa entre mim e o meu filho. Estávamos a apreciar uma espécie de ‘árvore genealógica’ de um ramo da família, e ele espanta-se «Mas como é? Aqui os trisavós tiveram 10 filhos, e só há descendência de dois?!!» Pois era. Vendo com atenção, os outros 8 tinham morrido ainda de berço, ou muito novos. Há cento e tal anos, sem vacinas, sem antibióticos, as doenças infantis eram fatais e a mortalidade infantil elevadíssima. E as famílias, mesmo tratando os filhos o melhor possível, sabiam que era um bem perecível, e portanto era normal terem muitos até como defesa da espécie.
E agora vinha lembrar uma notícia que li e ouvi, há poucos dias, sobre a dificuldade que muitos pais têm para pagar uma creche para os seus filhos
Porque nesta terra, onde a percentagem de mulheres que trabalha a tempo inteiro é uma das maiores da Europa, uma creche é vital para se poder ter uma família.
Ou seja – uma criança hoje, na Europa, tem muito melhores condições de vida material, tem muitíssimo mais saúde, tem roupa adequada, come como precisa, tem muitos brinquedos, mas para isso tem menos «tempo de pais» e menos regras, menos capacidade de aprender a frustração.
O exemplo da história de cima, da criança que brincava com uma mini-scooter movida a bateria que a mãe se encarregou de carregar em peso quando a brincadeira acabou, vemos por aí constantemente. São os lugares nos transportes públicos para "pessoas com crianças ao colo" mas que são ocupados só pelas crianças ficando a mãe em pé, são as mochilas com rodinhas para ser mais fácil levar e afinal quem carrega com elas são as avós, são meninos que não aceitam respeitar a sua vez, falam interrompendo todos e exigem uma atenção absoluta, são crianças que se sentem o centro do mundo, com uma arrogância e má educação que podem chocar quem vê e envergonhar um pouco os pais que, contudo, não conseguem evita-lo.
É que estas regras deveriam ser absorvidas gota a gota, na relação diária entre pais e filhos. Mas os pais de hoje, que só conseguem ter um único filho por razões económicas, sentem-se tão culpados daquilo que imaginam como ‘abandono’ que em contrapartida entregam-lhes as chaves do poder.
Sabem que é um erro.
E depois? Como o evitar?
Aqui há uma semana li um post que considerei muito sugestivo. A «Castanha Pilada» contava uma cena do seu dia a dia: tinha observado a relação entre uma mãe e o seu filho de 4 anos que brincava num jardim, e a tolerância e enlevo que aquela mãe mostrava em relação à criança
A nossa Castanha, perante o que viu diz: «Imaginei-o daqui a alguns anos, gordo, mimado e mal-educado, a ver televisão sentado no sofá», acrescentando que «há uns anos atrás, quando eu tinha aquela idade, éramos vários irmãos e partilhávamos um triciclo que fazíamos andar a força de pernas, agora um filho é uma coisa única e preciosa, que se cria à custa de muito sacrifício».
Bom, a outra história, diz respeito a uma conversa entre mim e o meu filho. Estávamos a apreciar uma espécie de ‘árvore genealógica’ de um ramo da família, e ele espanta-se «Mas como é? Aqui os trisavós tiveram 10 filhos, e só há descendência de dois?!!» Pois era. Vendo com atenção, os outros 8 tinham morrido ainda de berço, ou muito novos. Há cento e tal anos, sem vacinas, sem antibióticos, as doenças infantis eram fatais e a mortalidade infantil elevadíssima. E as famílias, mesmo tratando os filhos o melhor possível, sabiam que era um bem perecível, e portanto era normal terem muitos até como defesa da espécie.
E agora vinha lembrar uma notícia que li e ouvi, há poucos dias, sobre a dificuldade que muitos pais têm para pagar uma creche para os seus filhos
Porque nesta terra, onde a percentagem de mulheres que trabalha a tempo inteiro é uma das maiores da Europa, uma creche é vital para se poder ter uma família.
Ou seja – uma criança hoje, na Europa, tem muito melhores condições de vida material, tem muitíssimo mais saúde, tem roupa adequada, come como precisa, tem muitos brinquedos, mas para isso tem menos «tempo de pais» e menos regras, menos capacidade de aprender a frustração.
O exemplo da história de cima, da criança que brincava com uma mini-scooter movida a bateria que a mãe se encarregou de carregar em peso quando a brincadeira acabou, vemos por aí constantemente. São os lugares nos transportes públicos para "pessoas com crianças ao colo" mas que são ocupados só pelas crianças ficando a mãe em pé, são as mochilas com rodinhas para ser mais fácil levar e afinal quem carrega com elas são as avós, são meninos que não aceitam respeitar a sua vez, falam interrompendo todos e exigem uma atenção absoluta, são crianças que se sentem o centro do mundo, com uma arrogância e má educação que podem chocar quem vê e envergonhar um pouco os pais que, contudo, não conseguem evita-lo.
É que estas regras deveriam ser absorvidas gota a gota, na relação diária entre pais e filhos. Mas os pais de hoje, que só conseguem ter um único filho por razões económicas, sentem-se tão culpados daquilo que imaginam como ‘abandono’ que em contrapartida entregam-lhes as chaves do poder.
Sabem que é um erro.
E depois? Como o evitar?
15 comentários:
Nem mais.
Quando tiver os meus não sei como será mas, do que vou vendo, encaixa na perfeição do que escreveste. Embora conheça situações "trágicas" que me deixam algo perplexo. Desde o alheamento entre paredes com os putos a chamarem a atenção frequentemente, só fazendo asneiras. Tipo, ao pequeno-almoço, depois de tomar banho e estar toda vestida a miúda de 9 anos decidir, deliberadamente, entornar o leite com chocolate em cima dela. A mãe a ameaçá-la com uma valente sova e ela completamente nas tintas. E eu horrorizado com o que a minha amiga me ia dizendo - trauma de infância, com toda a certeza.
Passando por amigos em que os putos, como bem descreveste, interrompem a toda a hora e falam mais alto para serem ouvidos. A solução passa por berros, palmadas e estalos. Fico igualmente horrorizado porque, em toda a minha vida, apanhei uma palmada do meu pai por ter feito chichi no canto do apartamento dele por não ter pedido para ir à casa-de-banho e uma tentativa de chinelada da minha mãe - ahahahahahaha eu fui mais rápido! - por ter sido extremamente mal educado com ela. Mas a solução dos berros e estalos não funciona porque os putos estão na mesma lol.
Até ao levar literalmente ao colo os putos e tornarem-se depois, nos casos mais extremos, em "projectos" falhados - falo de "dependências", falo de perfis de personalidade, etc.
Bom, fico-me por aqui senão nunca mais me calo e tenho que trabalhar!
Tchi, vai lá que o trabalho é sagrado, mas fico bem contente por teres estes minutas para perderes aqui comigo :)
Sabes que até pela minha actividade, vejo constantemente erros educativos bem graves, que daqui a uns anos como boomerangs vão recair em cima das próprias crianças que não criaram os «anti-corpos» necessários a viver-se em sociedade. Mal comparado, é como se criássemos os filhos numa redoma asséptica, e ao ir à rua pela primeira vez, apanhassem todas as doenças que é possível. Faltava-lhes a vacina. Psicologicamente, também é importante aprenderem a lutar por alguma coisa, ou deprimem-se e ficam infelizes quando enfrentam a realidade.
Mas eu entendo os pais! O filho é um bem tão precioso e tão amado, sentem que estão pouco tempo com ele que dizem «então quando estou não posso estar sempre a chatia-lo». É preciso muito esforço para ver o sofisma que isso é.
Ainda na resposta ao Miguel, a verdade é que quando se entra nessa espiral de berro dos pais e berro dos filhos já a coisa está mal. As regras e alguma disciplina deviam ter começado ainda 'no ovo' digamos assim. Por isso tu dizes que só apanhaste uma ou duas palmadas em criança, e eu também só me recordo de umas duas vezes. Contudo bastava abrirem-me os olhos para sentir que estava a pisar o risco.
(tal como com o meu filho, o pai nunca lhe bateu, e eu creio que também terá acontecido uma ou duas vezes; não era preciso porque cá em casa havia autoridade reconhecida)
Hoje passo por cá mais cedo, ou seja deixo o comentário mais cedo (muitas vezes passo mas só tenho ocasião de dizer da minha justiça mais tarde)
Tens batido bastante neste ponto, mas nunca é demais. E está bem imaginado teres entrelaçado as 3 histórias. A da Castanha está muito bem contada e é exactamente o que se vê a cada passo. O brinquedo, já em si foi concebido para poupar esforço, e o adulto ainda carrega com ele!!!!
Depois os comentários do Miguel e teus, vão dando mais exemplo dos erros mais comuns, Afinal, por aquilo que também observo, existe um geral «falta de autoridade». Como se fosse politicamente incorrecto dar uma ordem a um puto. Tudo tem de ser 'negociado'!
Ai, ai, ai, ai...
O que apetece dizer «é, porque sim!» Claro que é correcto explicar-se uma ordem, mas não torná-la uma espécie de pastilha elástica: mastiga-se, estica-se, volta à boca, mastiga-se mais, faz-se uma bola, ... e acaba por rebentar a bola na nossa cara.
E o absurdo de tudo isto é que se leva os filhos de carro para percorrer uma distância de 100 metros, carregamos com as suas mochilas de rodinhas e as 'mini-scooter movidas a bateria' e depois paga-se um balúrdio de ginásio para eles fazerem exercício os pobres anjinhos.
Olha, olha...
Anda tudo muito apressadinho hoje.
Costumo passar aqui a esta hora e ver os comentários vazios.
Pois...
O que é que se diz?!
A gente sabe, Emiéle, saber, sabe-se.
O pior é passar à prática.
Como relembras a culpabilidade é pesadíssima - tem-se a sensação de que 'abandona' os filhos e depois cede-se em tudo. Por outro lado eles aprendem cedo a fazer as suas chantagens, o amigo tem e ele coitadinho não tem... que maus pais nós somos!
E sabes que é geral. Em toda a Europa se vê isso, e mais, imigrantes de outros continentes, mesmo que na terra delas as coisas sejam diferentes, ao chegar cá entram no sistema. A extrema tolerância é a palavra de ordem.
A redoma que falas não é virtual. Uma criança hoje em dia passa muitos anos até se encontrar pela primeira vez sózinha, ou seja sem ter um a adulto a vigiar, controlar, animar ou a dirigir. e não estou a falar só dos pais.
Obviamente que não falo em abandonar crianças mas o sufucar também é perigoso.
É uma equação difícil.
Que se passa com esta coisa?
Estive eu para aqui a alinhavar, com todo o cuidado um comentário e quando passo à publicação, diz-me que o Blogger caíu e que lamentavam o erro. Até aqui tudo bem, o pior foi que o comentário desapareceu no espaço, enfim.
Vamos lá então.
Depois das palavras de Emiéle do Miguel e da Joaninha,(gostei muito daquela da pastilhe elástica) nada mais há a acrescentar, todavia repiso que regras e parâmetros, são para estabelecer e, essencialmente, para CUMPRIR!!!
Ainda ligado a estas coisas, salientar a magnífica entrevista, de ontem à noite na RTP-2, no "Bairro Alto" com uma jovem russa, que foi, só, a melhor aluna do Secundário, aqui em Portugal no ano lectivo passado, com 19,7 de nota final, porque queria entrar para um qualquer curso que escolhesse, sem ter que estar preocupada com décimas!!!. Hoje, estuda Bioquímica. Paralelamente tem desenvolvido estudos de "piano", seno já reconhecida como um caso de raro talento, tudo fruto de trabalho, de regras e de ua imensa felicidade por poder fazer o que gosta e quer. Acho que é o contraponto perfeito.
Uma última referência, á belíssima ilustração.
Confiar a educação das criancinhas aos Pais.
Uma vez que o principal está dito, venho chamar a atenção para uma coisa de que ninguém falou: o boneco é sensacional!
Está lá tudo!!!
:)
O sofá e a TV.
As batatas fritas à esquerda.
O refrigerante no braço do sofá.
O puto bucha que eu sei lá e com o bonezinho (esse toque é formidável,porque é um boné que deve ser só decorativo, aquelas perninhas nunca correram)
E claro, a graça final o comendo que caiu e ele nem se estica para o apanhar, chama... a mamã!
Genial!
bem escrito o post (o teu e o da Castanha) e espectacular a imagem!!
Como deves imaginar, conheço meninos e meninas assim!!
Ah, sem-nick,e saltapocinhas merecem um abraço. Estava a ver que ninguém reparava na imagem que escolhi com tanto cuidado!!! (e esta não fui buscar à net- apesar de, se calhar, também lá estar!)
Já volto a responder a todos, mas queria dizer ao Pedro que claro que ele tem toda a razão. Contudo quando falei em «redoma» estava aqui a imaginar uma espécie de metáfora, a comparar a saúde física de quem vivesse debaixo de uma redoma, à saúde social ou mental de quem esteja super-protegido como aqui muito bem citas.
Quanto à Saltapocinhas, evidente que aqui é o teu domínio, não é? Deves estar fartinha de ver cenas destas. E, claro que muitos pais pensam que o papel dos professores é exactamente ensinar essas regras aos alunos, enquanto eles ficam «os bons da fita»
Bom volto agora para responder aos outros:
Também achei graça à imagem que a Joaninha inventou para as explicações que as crianças «exigem». Realmente ér como a pastilha elástica mastigada e mais mastigada... lol!
Ups! Só agora li com atenção o comentário do Zé palmeiro e vi que afinal ele também reparou no boneco. Fui muito injusta, mas foi sem querer...
Ese caso da menina russa, já o tinha mencionado uma vez creio que numa resposta a um comentário, ou coisa assim. É realmente um espanto, um pequeno génio. Ficamos à espera de ver como é ela como pianista.
Desculpem vir atrasado, mas acabei de ler isto, e lembrei-me logo deste post:
Um menino britânico de 8 anos resolveu experimentar o carro do pai. Roubou-lhe as chaves do BMW X5 e saiu para dar uma volta [....]não conseguia chegar aos pedais do automóvel, acabou por embater em três carros que estavam estacionadosMais a propósito não pode vir...
Bolas, um BMW é um prejuízo de vulto, não?
E isso foi na Inglaterra.
Afinal passa-se por tudo o lado.
Ena, ena, leitores destes poucos se gabem de ter!! Ver uma notícia e lembra-se do meu post! Fico vaidosa!!...
:)
Apesar de não dar para outro post (por acaso pensei nisso...) ontem tive uma experiência, neste campo, quase 'assustadora':
Em conversa com uma criança, como ela me contou que na semana passada tinha feito 10 anos, quis saber como tinha sido a festa e que prendas tinha tido. Fiquei estarrecida, quando ela me enumera uma série de coisas caríssimas, umas dadas pelo pai, outras pela mãe -estão separados - acompanhadas com o seu preço. Imaginei a minha cara ao ouvir «tive uma bola de futebol verdadeira, custou 100 euros, e uma moto para o meu tamanho, custou 200 euros, e um par de ténis nike, que foram 220 euros, e outros marca Adidas também 200 euros; recebi também uma consola que foi.....» etc.
Eu estava sem respiração. Ainda consegui perguntar: «mas como é que sabes os preços???» e ele encolhendo os ombros «então, vi pagar!» «viste pagar? mas foste comprar os teus próprios presentes? não foi surpresa?» e apanhei com a resposta «já não tenho idade para essa coisa das surpresas; gosto de ir para não receber coisas de que não goste»
Acho que é uma história que nem precisa que eu diga nada, não é?..
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