O ‘gosto’ educa-se, dizem
Li há dias uma ‘história de embrulhar castanhas' num dos meus blogs de estimação, e desde logo aquela história fez soar uma campainha na minha memória.
Temos a velhíssima afirmação de que «gostos não se discutem», a que os mais sabidos contrapõem «mas... educam-se». E se, quando falamos de uma pessoa adulta com a personalidade já muito estruturada, essa coisa não é fácil porque virá a logo a contestação «porque raio é que o meu gosto é pior do que o teu?!», no caso das crianças, é mesmo natural. A história que a Castanha Pilada contou é simultaneamente engraçada e enternecedora e relembrou uma outra passada na minha meninice e que nunca esqueci:Quando eu ia para a escola - e ia para a escola sozinha apesar de ser longe, porque naquele tempo os miúdos era mais autónomos - passava por uma grande loja que vendia louças e cristais. Fica numa esquina e digo ‘fica’ porque ainda existe naquele local. Durante muito tempo, semanas e semanas, uma das montras esteve 'armada' artisticamente: Sobre um pano de veludo, uma cena toda em porcelana! Uma carruagem com a porta aberta, uma dama (princesa, decerto) arregaçando as saias de balão, saía da carruagem, colocando o delicado pezinho numa almofada que um belo jovem (príncipe também, com certeza) ajoelhado à sua frente segurava. O coche tinha aí umas 3 parelhas de brancos corcéis, um cocheiro de libré, e umas damas também de saias de balão junto à porta.
Lindo.
Lindíssimo.
Tudo de porcelana pintada. Quer à ida quer à volta da escola, eu perdia ali uns minutos enlevada perante aquele quadro, perfeita obra de arte. E, tanto insisti, que um dia consegui que os meus pais fossem também apreciar aquela composição digna de museu.
Ia morrendo, quando eles dizem «Isto??! Emiéle, por favor, coisa mais pirosa é impossível imaginar-se! Se fosse oferecido deitava-o para o lixo»
Nããããõ! E eram eles meus pais? Podiam dizer tal barbaridade?
Claro que hoje eu pensaria exactamente o mesmo se visse aquela montra. Mas não me esqueci do choque que senti.
Gosto infantil, é claro. Não tem nada de mal, mas... vai-se educando
12 comentários:
Pobre Emielezinha....
Imagino bem a carinha de desapontamento. Aconteceu-me exactamente o mesmo tinha também uns 7/8 anos. Exactamente não digo que fosse o mesmo conjunto, mas era um quadro que eu achava o supra-sumo, e tive o desgosto e espanto de ouvir a crítica mais trocista da boca de quem eu admirava muito. Fiquei ainda uns tempos na dúvida: eram eles que eram parvos ou eu estaria errada? Optei pela primeira durante bastante tempo!
No meu caso, Joaninha, eu tinha uma admiração incondicional pelos meus pais que considerava cheios de sabedoria. Só imaginar que não estivessem de acordo comigo deixava-me de boca aberta, e a sentir que o mundo começava a girar ao contrário...
São uns tratamentozitos de choque que a gente tem que ir levando, lol!!!
Como é bom, a esta distância, termos a percepção dos "gostos" e entender, o porquê das coisas.
É que há gente, que não muda e mantém o mesmo gosto de criança.
Emiéle, gostei imenso da declaração que fazes no comentário, sobre a, "admiração que sentias...".
Na actualidade, constato isso mesmo com a minha neta, mais velha, que anda nessa idade.
Impecável a tua descrição do «quadro» que te encantava. é mesmo assim que uma menina pequena vê a coisa. Tudo Reis e Rainhas nos seus atavios mais belos.
como aqui lembrou o Zé palmeiro, o complicado é quando crescem e continuam nesse registo. Mas por isso é que as revistas sobre as social-lights têm tanto êxito. Quando não são princesas de coroa, são do dinheiro!...
Mas calculo a tua decepção. Uma coisa tão liiiiinda!
Olhem que é mais do que um «estudo» aquilo é um LIVRO!!! Muito material, heim?!
Estive a ler o link todo, e de facto dá ideia de que o DN teve de encher páginas... pode ser que o resumo fosse mal feito e a coisa tenha mais conteúdo, mas tal como ali se vê parece completamente balofo. "Exercitar grandes grupos de músculos aumenta o crescimento dos neurónios e sobe o fluxo sanguíneo para o cérebro." Cérebro de quem?! Quando muito de quem faz o exercício, que não é o feto!
Lindo este quadro. Digo sim.
O gosto educa-se.
O meio envolvente, leva-nos a refinar ou não o gosto.Diz-se que o gosto é subjectivo, mas acho que é uma expressão mais social do que outra coisa. Ou é belo ou não . O resto depende da nossa "formatação" ao longo do crescimento, porque depois será dificil mudar de gostos, a não ser aqueles que nos são impostos pela moda, mas esses são efémeros!
Pois foi, o King enganou-se, deve ter lido tudo e depois para comentar clicou no mesmo em vez de ser no debaixo!!! :)
Pois é Zé Palmeiro, temos uma idade especial para estas fantasias. E, sim, eu tinha um respeito enorme pela opinião dos meus pais. Daí o ter ficado apalermada com esta discordância.
Foi mesmo um "tratamento de choque" Castanha, podes crer! Não me esqueci, estás a ver...
Tens toda a razão, Kika, o nosso gosto é fruto da educação e do meio onde crescemos. Claro que há diferenças pessoais, mas a as raízes v~em daí.
ai os gostos das crianças!! eu que o diga!
mas mesmo em adultos o nosso gosto muda! entre os 20 e os 30, teria comprado muitas coisas se não fosse paupérrima. agora dou graças a deus por nessa altura o dinheiro só chegar para o essencial, senão tinha a casa cheia de lixo!!
cruzes, credo!!
Olhem que a menina da gravura está mesmo «a condizer» com a história!
Estou plenamente de acordo com a Saltapocinhas. Até eu, já gostei de coisas que agora penso «mas onde é que tinha a cabeça?» ou ... o gosto.
Afinal a moda (que eu imagino que não sigo) é baseada nessa nossa mudança de gostos.
Contudo tem muito a ver com a classe social ou cultural. O menino com a lágrima, que se vende por aí, muita gente tem na parede da sala. E o quadro que no «conta-me como foi, o casal Lopes tem na parede é um exemplo desse gosto foleiro.
E hoje saiu a resposta ao teu desafio.
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