segunda-feira, maio 11, 2009

Emigrar

Nos últimos dias tem-se falado muito de emigração e emigrantes.
Com muita «objectividade», muita frieza, muito rigor (?). Argumentos pró e contra a entrada de imigrantes, claro que sempre na perspectiva do país que os ‘acolhe’. Se estimulam a nossa economia, ou se vêm disputar postos de trabalho a quem cá nasceu, se o país necessita destes trabalhadores ou se estão a mais.
Falando economicês os argumentos chovem.

Eu tenho tendência a ser mais emotiva e nestas coisas focalizo muito o ângulo dos sentimentos. A verdade é que não vejo trabalhadores, vejo pessoas. Vejo pais, ou mães, ou irmãos, ou filhos, que largam as suas referências, os seus hábitos, os seus amigos, e têm de se adaptar a uma sociedade estranha e desconhecida. É difícil. É duro.
Na minha vida nunca emigrei mas, por duas vezes, migrei. E digo assim, porque os locais para onde fui viver alguns anos estavam ainda sob dominação portuguesa, mas eram terras muito diferentes de Portugal, ou seja emocionalmente estava 'a viver no estrangeiro'.
Tinham coisas boas, sem dúvida. Para quem é um pouco aventureiro, conhecer uma terra nova, pode ser muito interessante, fascinante até. E foi. Contudo…
Contudo ficavam para trás, da primeira vez, a casa em que tinha crescido, os meus avós, primos, colegas de escola, a minha cidade, os meus locais de férias, as recordações da minha vida até esse dia; da segunda vez, ficavam todos os meus amigos, a minha mãe, a minha casa, os hábitos que me traziam conforto e segurança. E isto, tendo partido para terras onde até dava para falar na minha língua materna!
Consigo portanto imaginar o que seja, emigrar para Portugal vindos do Brasil, de África ou, pior um pouco, de países do leste, ou da China, onde nem costumes, nem religião, nem língua são semelhante aos que vêm encontrar.
Duríssimo.
E, para se sentirem mal, não precisam ainda por cima da hostilidade das pessoas. Já chega tudo o resto!

13 comentários:

miguel disse...

Estou um bocado a leste. De todo o modo, concordo plenamente contigo que a vertente emocional do fenómeno é cada vez menos considerada. O mundo mudou Emiéle. De certa forma, algo tragicamente. Lembro-me quando era miúdo, no bairro lisboeta em que vivia e onde, depois da escola, ia para a rua jogar à bola no meio da estrada e a porta da garagem de um laboratório a servir de baliza, que lá na rua viviam alguns estrangeiros. Em plenos anos 70, um brasileiro, barbudo e cabeludo (claro!) que fazia lembrar o Falcão, e alguns africanos. Era tempo de solidariedade então. As pessoas preocupavam-se umas com as outras. Bom, também o ambiente era muito de esquerda. Lembro-me, como se fosse hoje, a mãe de um amigo, em conversas "sociais" lol, ruborizar-se perante uma determinada situação e gritar "fascistas! São uns fascistas!". Voltando ao tema do post, naquela altura, apesar de tudo, era diferente porque eram tempos difíceis onde quase todos passámos por momentos menos bons.

O mundo mudou. Hoje em dia, claro que isto é só a minha opinião, tudo é visto numa perspectiva de "produtividade" pura e dura, quais os factores de produção que me permitirão atingir o rédito maximizado. A desumanização da sociedade, em múltiplas vertentes, é totalmente transversal à mesma pelo que, os imigrantes, são igualmente incluídos neste processo. Mais do que sinais dos tempos, é um processo que teve início há mais de uma década e tem vindo a evoluir de forma catastrófica, assistindo-se hoje a fenómenos que evidenciam de forma inacreditável a alienação colectiva relativamente ao indivíduo, isolada ou colectivamente. A todos os níveis. Hoje, vivemos o primado da racionalidade sobre a emotividade. É claro e transparente.

Fala-te um tipo particularmente racional que, apesar de tudo, não se revê no nosso modelo de desenvolvimento "civilizacional".

As palavras foram saindo e o comentário não está muito bem estruturado. Um dia destes, deixo aqui a tese ahahahahah!

PS-Claro que por cá, somos vistos da mesma maneira, ie, quantos empregos é que roubamos, o que roubamos, etc e tal...

cereja disse...

Ora cá está!
Diz aqui o Miguel: por cá, somos vistos da mesma maneira, ie, quantos empregos é que roubamos, o que roubamos, etc e tal...De resto, ele tem toda a razão, há mudanças profundas na sociedade. Não podemos olhar o mundo de hoje como era há 30 anos, nós próprios também somos diferentes.
O que pretendi quando escrevi isto, não foi analisar de modo nenhum a questão social e sim a psicológica. Que também existe. E dar um pouco o meu testemunho.

Joaninha disse...

Belo 'comentário' (não é só isso, pois não?) o do Miguel.
Este post presta-se a muitos desabafos.
De facto o Mundo tem mudado, e muito. Em muitas coisas para pior, noutras - também muitas - para melhor. E nesta coisa de emigrantes e estrangeiros, se o Miguel tem muita razão ao dizer que, e faço copy/paste: A desumanização da sociedade, em múltiplas vertentes, é totalmente transversal à mesma pelo que, os imigrantes, são igualmente incluídos neste processo. é também importante aceitar que se estão incluídos, eles tal como nós, não têm a responsabilidade nem da «crise» nem da criminalidade. Há criminosos que vêm de fora, assim como os temos nacionais, e a visão a preto e branco de certos sectores da direita e completamente injusta e errada.

fj disse...

Ai, ai...
Cá vou eu ter de voltar mais tarde.
Isto não se comenta em 5 segundos!

Anónimo disse...

Este «formato» que escolheste também não está mal! Referes uma coisa da actualidade, numa perspectiva pessoal.
OK, aprovado, cá por mim.

De facto, só quem já emigrou ou tem família lá longe, se pode meter na pele de quem hoje procura a nossa terra para trabalhar. Uma coisa é quem vem em turismo, a qualquer momento pode ir embora e também nunca está por muito tempo, mas outra é quem tem de se esforçar por ganhar o sustento.

josé palmeiro disse...

Emiéle, não por duas , mas por uma, passei pelas experiências que relatas, também eu migrei para uma terra que, falando a nossa língua era "outra", eu pelo menos, assim a sentia, como aliás, tu muito bem relatas. Concordo em absoluto com a tua análise, do problema.
Depois, chega-nos o comentário do Miguel e coloca-nos nos dias de hoje, em que tudo mudou e em que os valores que nos fizeram adultos, se esboroaram em nome de, não sei quê, mas é assim e é esta a realidade em que vivemos. Depois vem a Joaninha que acrescenta mais uma acha para a fogueira e com toda a razão.
Por fim, colocando tudo numa balança, continuo a pensar e a sentir, como tu, não o sei fazer, nem ver, de outra maneira.

cereja disse...

Pois é Zé Palmeiro, a comunidade portuguesa em África, era grande, mas a gente sabia que não era a nossa terra. E em Macau era bem pior, porque aí éramos de facto uma pequena minoria. E sentia-me de facto estrangeira, que tinha ido para lá para ganhar melhor a vida, tal como os ucranianos ou moldavos ou seja lá quem for devem sentir, aqui nesta terra.

sem-nick disse...

Muito bem visto. Uma coisa são as perspectivas económicas. Outra as sociológicas. Outra (ou talvez um conjunto das duas) a política.
Mas há também, como aqui o lembras, a perspectiva psicológica, chamemos-lhe assim! E essa é comum a todo o imigrante, seja de luxo, classe A (também os há) seja um pobre que se amontoa num quarto com mais 10.

fj disse...

Foto espantosa de adequação ao tema.
Miguel e Joaninha creio, já disseram tudo.

fj disse...

E para pre reforma não está mal...

cereja disse...

Obrigada, FJ. A foto fui buscá-la à net como quase sempre. o meu trabalho aqui é procurar uma imagem que condiga com o que deixei escrito.
Sem-nick, por acaso pensava nisso (o emigrante classe A, de luxo) porque quando eu experimentei essa ida para terras distantes, era emigrante de luxo. Vivíamos muito bem. Mas as saudades eram iguais...

Alex disse...

Querida Emiéle, tu já sabes que eu tenho uma grande panca e que a assumo com a maior das inconsciencias do conviniente; então aqui vai mais do mesmo:
Li o teu post, simultaneamente "flashando" mentalmente as dramáticas imagens dos noticiários e, depois, seguindo a leitura, das caras de amigos que escolheram viver longe do nosso pais, daquela que nos é próxima particularmente...
Quando cheguei ao fim do teu post e vi a imagem arrepiei-me dos pés à cabeça;
Oh mulher... com os milhões de fotos que há na net...
Vai lá ver:
http://alexilr-realgana.blogspot.com/2009/02/nela-in-memoriam-uma-vez-escrevi-te.html#links

cereja disse...

Pois, Alex, afinal ....pero qué las ay, las ay!

Fiquei boquiaberta.
É que, como dizes, há milhões do fotos na net e eu procurei imenso até concluir que era esta que queria.
...................?????????????