terça-feira, abril 28, 2009

Falsas aparências I



«Quem vê caras não vê corações» dizia o povo ou, quando eu era mais nova dizia-se muito, na paródia, «
as iludências aparudem», gozo à frase sensata «as aparências iludem», é claro…
Bem, isso é completamente evidente no que se trata de pessoas, mas não só. Até mesmo os objectos podem em certa medida iludir e passarem-se situações engraçadas com eles. Esta introdução vem a propósito de uma história de certas cadeiras que passo a contar (mas vai em duas partes que a história é comprida e ficaria aqui um grande lençol!):
Há muitos anos fizeram-se umas partilhas na minha família. Nada de mais, porque se passou entre irmãos amigos e que o continuaram a ser, mas nalgumas coisas a 'partilha' levou-se exageradamente à letra! Por exemplo, a minha avó tinha uma meia dúzia de cadeiras que se decidiu ficarem 3 para a minha mãe e 3 para o meu tio (ideia peregrina, que 3 é coisa que não serve a ninguém!)
OK, os anos passaram, a minha mãe desapareceu herdando eu essas 3 cadeiras a que tinha especial estima por me recordarem a linda casa da minha avó. Era uma avó que eu adorava e tinha muito bom gosto, fazendo a sua casa parte do meu imaginário de criança. E cuidei-as sempre muito bem, polindo-as e substituído a palhinha do fundo quando era necessário. Estavam bonitas.
Ora acontece que, entretanto, os meus tios também já não existem, e eu vim encontrar já quase irreconhecíveis, duas das 3 cadeiras da parte deles – digo irreconhecíveis porque a palhinha de origem tinha sido substituída por um estofo a condizer possivelmente com um conjunto de sofás, mas a aparência com que ficaram não era nada boa. Já só havia duas talvez porque uma delas se tivesse desconjuntado e tivesse sido deitada fora, imagino… A minha prima, a herdeira legítima, quando viu que eu estava interessada naquelas cadeiras, generosamente ofereceu, «fica tu com elas!» e assim, toda satisfeita, me vi possuidora do que restava da original meia-dúzia. Cinco, três bem conservadas e bonitas e duas que nem pareciam fazer parte do mesmo conjunto.
…………
E a continuação segue amanhã.


5 comentários:

sem-nick disse...

Olha que esperta esta sujeita...
Amanhã cá estou para saber o final da história....
Contudo reconheço que está bem contada. E essa coisa «salomónica» de partir meia dúzia ao meio, já tenho visto, nas partilhas rigorosas. eheheheh!!! Se fosse uma chávena, um ficava com ela e o outro com o pires!

Anónimo disse...

A imagem inicial está muito gira mas fica-se a pensar, querias dizer que era engano o que parecia, e o pintaínho ia comer o São Bernardo ou que cão era aquele?... :)))
Mas é mesmo que quem vê caras não vê corações e por vezes há graaaandes surpresas.

josé palmeiro disse...

Fico aguardando o final da história. Quanto ao resto e com uma introdução daquelas, suportada pela maravilhosa foto do S. Bernardo com o pintaínho, está bem engendrada a acção, esperemos pela segunda parte...

kika disse...

Compreendo essa afectividade pelos objectos que herdamos e essa tua tentativa de repor tudo como antigamente, tambem aprecio, mas não sou muito do estilo, e acho muito mal as pessoas ficarem com peças despassaradas , quase sem utilidade."Ah mas eu quero isso que era da minha mãezinha".Ufa já ouvi isso várias vezes . E quando os irmãos se zagam por causa das cadeiras... o que não o teu caso felizmente.

cereja disse...

Claro, fiz «render o peixe», mas dei-me conta quando estava a escrever que ficava um post muito grande.
E assim arranjo leitura para dois dias eheheeh!!!

Kika, essa cena de partilhas agressivas é horrível e acaba por deixar vir ao de cima o que há de pior em nós. Tenho visto coisas que nunca pensei. mas eu sou muito sentimental, nesse aspecto. tenho imensa coisa em casa exactamente pelo valor afectivo. Seria muito capaz de ter a chávena desirmanada, só que a punha numa vitrina, era apenas uma doce recordação.