quinta-feira, fevereiro 12, 2009

«Para quê?»

Encontro por acaso uma antiga conhecida. Não a via há anos pelo que, como de costume, vêm as perguntas da praxe «O que fazes? Como estão os teus? Os teus filhos que fazem? Já tens netos?»
Ela estava acompanhada por outra velha conhecida, mas também deviam ter acabado de se encontrar, porque a resposta veio para nós as duas
Tudo como dantes! Tenho uma neta, a Lili, da minha Joana. Do lado do Mário, ná. Aquilo não casa.»
Sorrimos as duas ‘acompanhantes’ à espera da explicação.
E ela continua entre risos
Para quê? Ele está como quer! Tem a sua casa, cozinha muito bem, passa a ferro, sabe coser, limpa na perfeição... Ná, só casa por um acidente»
Eu sorri um riso um tanto amarelo e despedi-me que estava atrasada.
Até estava, mas o que se responde a alguém com este modo de pensar?!
Se ela própria reduz o casamento a este conjunto de actividades nem consigo entender como aceitou que a filha casasse... para cozinhar, passar a ferro, limpar e coser a roupa do genro?! E ela, casou porquê?
Mas vim a pensar que esta mulher foi (pelo menos parcialmente) responsável pela educação dos filhos.
O que lhes transmitiu?...


18 comentários:

Cris disse...

Oi, lindinha..

O que essa senhora transmitiu: esse modelo aí, de dona de casa. caberá a vítima ( no caso, os filhos), rejeitar ou adotar o modelito.

Beijo, querida. ( Voce se achou lá no meu garimpo? Faz tempo que estás lá.)

fj disse...

Formidável!!!!
Para essa tua «conhecida» casar é mesmo um derivado de casa. Essa conversa toda de afectos, de amor (kéisso?!) de companhia, o tal viver em comum que o casamento (de papel passado, ou à revelia tanto faz) implica, nada disso funciona.
Livra!!!
Que gaja cínica!

cereja disse...

Cris, olha que o meu «astral» tem andado um tanto em baixo, minha amiga. Também por isso tenho feito poucas visitas. Mas adorei a ideia que tens de mim - era bom, era!!! :)
Vou ver se passo mais pela tua casa.

Zorro - é isso. Para ela, pelos vistos, casar é tratar da «casa»! Mas joga mal com o facto da filha ter uma neta, não é? Parece que afinal existe mais alguma coisa para além de limpar o pó e coser as meias...

Anónimo disse...

Acabas o post a dizer uma coisa para mim muito importante: a responsabilidade que nós, mulheres, temos na difusão dos estereótipos.
Esse caso é até caricato, mas em versão mais soft, a coisa funciona muito. definido desde muito criança quais os papeis sociais de cada género e mais nada!
Para ela falar assim, o rapaz não seria gay?

Anónimo disse...

Há umas tantas assim.
Mas o marido deve ser a condizer.
Imagino a tua cara, de sorriso amarelo - eu creio que não tinha ficado calado, mas enfim!

E o «acidente» seria o quê? Engravidar a namorada? Isso contraria a ideia da Mary, que deve haver namorada, tadinha... Com um gajo tão bom dono de casa nem sei se ela resistia.

Anónimo disse...

Até ela dizer o «Para quê?» não estava a ver qual a questão. Realmente casar para quê? É um formalismo como outro qualquer, e estava a imaginar que o tal "Mário" preferia outros tipos de relacionamentos menos formais. OK. Eu também. e muita gente, cada vez mais.
O fim da conversa é que borrou a pintura - afinal ele não precisava de mulher-a-dias, porque sabia controlar as coisas da casa.
Mas, o que a gente pensa é que o relacionamento com uma mulher (e já agora com um homem, why not?) é outra coisa, diz respeito aos afectos de cada um.
Que é coisa que essa senhora - e o filho - desconhece.
Essa agora????
Tão idiota como a posição da Igreja de que o casamento é para reprodução.

josé palmeiro disse...

A senhora, coitada, ainda anda por outros caminhos e aplica o ditado que diz: Quem casa, quer casa!
Que fazer, ela é assim e tem os frutos que tem. O mais triste é, como diz a Cris, que os filhotes se não tenha sabido autonomizar e aí a culpa é toda deles.

cereja disse...

Não foi bem «independentizarem-se» do ponto de vista 'operacional'.Pelos vistos o rapaz é ali completamente auto-suficiente e imagino que a rapariga também.
E, aqui para nós, nem sei bem se quilo que a mãe disse sobre ele 'não precisar de casar' por saber fazer tudo, é partilhado por o tal "Mário", se calhar não casou pelos motivos que nós aqui dissemos, mão ter encontrado a parceira do seu agrado, ainda não se ter apaixonado a sério.
O que achei impressionante foi o ar risonho com que ela nos comunicou os seus conceitos, e a ideia de que ele «não precisava» de casar por dominar tão bem as «prendas domésticas»!!!!

(aqui para nós, nunca tive grande consideração por esta 'conhecida' e lá teria as minhas razões)

Anónimo disse...

Por acaso eu não li assim a coisa.Acho que ela ironizou sobre o estereotipo dito normal.E ele filho estava são e salvo desse complexo de Necessidade e provavelmente procuraria mais...o que nos tempos que correm ao contrário do que seria de supor é mesmo dificil.AB

cereja disse...

O modo como contei permite essa leitura, AB. mas não achei que fosse. Ela poderia ter começado assim, mas terminado exactamente a dizer, «assim tem mais tempo para esperar pela TAL», ou «não é nenhum pinga-amor, não fica logo com a primeira» ou «não precisa de quem lhe faça nada, e quando casar é mesmo por gostar dela» uma porta dessas aberta.
Não foi nada disso.
Mas como eu disse aqui numa resposta a um comentário não gosto lá muito dela...Posso estar a ser parcial!

O Profeta disse...

Construí um abrigo no deserto da emoção
Os vales são as ruas de um Deus
Fecha-se a alegria da terra
Um último olhar de amor, solto dos olhos teus

Na noite tudo se perde
Mora a sombra, o desvario
A indomável vontade do amor
Tem a força de um Rio


Boa semana


Mágic0 beijo

cereja disse...

Bem, «Profeta», foi uma visita que me causou alguma surpresa. Como chegaste aqui a este blog???
Fui ver o teu, onde escreves os teus versos, (ainda há pouco li um post num blog onde se questionava «Publicar em papel? Para quê?» o que me fez alguma impressão) que percebi que serão o embrião de um futuro livro, para além do que já tens.
Fiquei impressionada, confesso quando vi que nas tuas caixas tinhas quase sempre à volta de 200 comentários!
Eu já fico contente quando tenho e ou 4...
Agradeço a visita e também desejo um semana boa para ti.

cereja disse...

Pronto, fiz a pergunta e já tenho a resposta - chegaste aqui através do blog da Cris!!!
(olá, Cris! Vi que já estás ali nos «meus amigos»!!!)
Continuo a espantar-me com tantos comentários, mas aí no Brasil vocês são muuuuitos! Já acho mais natural, afinal de contas. a blogosfera brasileira é enorme!

Anónimo disse...

Tem piada que eu ao princípio pensei tal e qual como a AB. Achei que ela só podia estar a gozar. Mas dado o modo como contavas a história de facto parecia que tinha falado a sério.
Se foi a sério é um espanto.
Se ironizou então f~e-lo mal porque tu achaste que não era.
...
Mas olha que esse "Mário" interessa-me. Um gajo que para variar, tivesse essa total e completa independência doméstica é caso mais que raro, é um fenómeno!!!
O que conheço, na versão melhorada, são os que não se importam com essas coisas e pagam de cara alegre a uma empregada que resolva o problema. Sabem por e tirar a roupa da máquina e depois lá vai a Dona Celeste passar as camisas a ferro.

saltapocinhas disse...

que horror!
pode ser que o rapaz não pense como a mãe!

cereja disse...

Eu cá espero que não.
Que aquilo seja «uma ideia» da criatura...
Bolas, ela gosta dos filhos, 'precisou' de casar para eles nascerem, né?....

Nós, Os Cachorros disse...

Infelizmente muitos pensam assim...
A meses fui ao consultorio do meu médico e ele disse que tinha que me casar para uma mulher cuidar de mim, de minha alimentação...
Eu dei risada, pois bem sei limpar passar, cozinhar e etc... a 12 anos moro só e só penso em casar sem ser por amor...

cereja disse...

Ora cá está!
Esse exemplo é magnífico: o médico «receita» casar para uma mulher cuidar de mim diz aqui o Cachorrinho!
É onde se quer chegar...
e o caso dele é daquelas excepções - até é um rapaz bem independente. Que pensa em um dia casar mas por amor. Normal, não?