quinta-feira, fevereiro 26, 2009

O trabalho mais difícil do mundo



Tenho reflectido nestes últimos tempos, mais ainda do que é meu costume, num tema que é para mim muito importante: filhos, educar, relação pais filhos ou filhos pais. Pela vida que tenho levado, pela minha idade, pela minha actividade profissional, este é um tema que está sempre presente.
Ontem fui conhecer um bebé, filho de uma amiga minha. Andava um pouco arreliada porque não tinha visitado a mãe no hospital, ela saiu de lá num instante, e agora nunca mais me dizia que era bom dia para lá ir a casa. Esta criança até tem um significado especial para mim porque nasceu na altura em que eu perdi a minha amiga mais antiga, de sempre, e este bebé foi um pouco uma chamada de atenção de que a Vida se vai sempre renovando.
E achei graça e muito enternecedor o modo como a mãe e o pai, procuravam adivinhar o motivo da rabugice daquele serzinho de um mês. Neste momento da vida a dependência do filho é total e absoluta, e a responsabilidade dos pais também.
E, por coincidência, também ontem troquei uns emais com um amigo, pai de dois filhos na casa dos 30 anos, que o estavam a preocupar porque se tinham zangado um com o outro e ele como pai queria intervir de modo a apaziguar a questão, mas sentia que era coisa delicada. E era mesmo. Entre dois homens de 30 e tal anos a questão tem de ser resolvida sem intervenção paterna. São independentes, adultos.
E, já agora para completar o trio, também ontem troquei umas palavras mais ásperas com o meu filho, rapaz também já relativamente crescido que na minha opinião tinha respondido de um modo menos educado a uma pessoa. Achei que o meu papel de mãe implicava chamar-lhe a atenção: «Sabes que eu acho que TUDO se pode dizer, depende do modo como se diz. E o ‘modo’ que escolheste não foi o certo».
É complicado. Quando eles são pequeninos, há regras, normas, valores que consideramos importante transmitir-lhes. Isso é educar. Depois, eles felizmente crescem e a educação continua mas noutros moldes, aparentemente mais diluída. Mas está cá. E nós ralamo-nos com eles. De que maneira!!! Ralamo-nos sempre. Ficamos muito felizes com os seus êxitos, sofremos quando eles fracassam (ou sentem que fracassam o que é parecido) e custa-nos tanto deixar de planear a intervir na sua vida...
Ainda por cima, o velho ditado de «Filho és, pai serás; assim como fizeres, assim acharás» pode ter algum valor nos aspectos morais e de comportamento, mas o certo é que os costumes e a sociedade é tão diferente hoje do que foi para a geração passada que não pode servir de modelo.
É difícil, sim. Educar, preparar alguém para a vida é o trabalho mais difícil do mundo. E não vale muito estudar por manuais que todos os casos são diferentes.




13 comentários:

fj disse...

Claro.
Contudo...
Também pode haver «pais-galinhas»? É que «pais-galos» não dá!
........
E já agora, quanto ao modo como a sociedade e a vida actual é tão diferente da que era há 30 anos vejam
isto

Eu fiquei a pensar...
Gaita, que é muita areia para mim.

Anónimo disse...

É verdade que volta não volta falas neste tema, mas também a verdade é que ele é inesgotável!!!!
Está muito bem visto isso de a gente ter dificuldade em aceitar plenamente que os putos já não são putos e temos é que os deixar bater com a cabeça na parede, mesmo que fiquem com um enorme galo.
Sei por mim, que estou sempre a dar conselhos e depois mordo a língua.
mas é irresistível!

Anónimo disse...

Olha, antes que me esqueça, acho lindamente que escrevas dois posts!
Chega muito bem, a dá para a gente ter um pouco mais de tempo para ficar em cada um deles.
Aqueles dias em que entro no Pópulo e encontro quatro, cinco, seis posts, fico atarantado...
...........
E agora passando ao que interessa.
Sem negar a tua razão, aliás o que dizes é quase consensual, para mim devemos ter em atenção que os «pais modernos» quase que se preocupam excessivamente com o 'fazer bem feito' e gastam imenso tempo a ler artigos de pedagogia, a ouvir psicólogos, a discutir o modo certo de educar. E muitas vezes até fazer asneira (no meu ponto de vista) por recear 'traumatizar' os seus rebentos. se hoje se é demasiado permissivo, cá para mim, a «culpa» é do excesso de psicologislação (?!) da educação.
E, é claro, que é difícil aceitar que 'eles' crescem, afinal isso quer dizer que nós envelhecemos, né...?!

cereja disse...

Olá king!
Tens razão. Hoje não estava grandemente inspirada e ao contrário do costume fiquei-me por estes dois. Isto não é nenhum concurso para o Guiness...
:)
Zorro: O teu link é interessante e sugestivo. Pelo menos abre portas para pensarmos muitas coisas. o que estará a mudar tanto e tão depressa...?!
tens muita razão quanto á ânsia que os pais actuais mostram em seguir os conselhos dos «educadores profissionais». Às vezes fariam melhor em ir pelo seu bom-senso.
Mary - a verdade é que o tema educação é irresistível para mim. e sei bem que estou muuuito longe de ter sido uma boa educadora. E, segundo o ditado, deveria ser porque tive uns pais de cinco estrelas nessa capítulo.

cereja disse...

Esperem aí!
Baralhei as respostas. Parte da resposta ao Zorro era para o King, mas não faz mal. Vocês percebem...

Anónimo disse...

Gostei deste post.
É que chamas a atenção para uma «faixa» de pais-e-filhos que foge ao que estamos habituados. Como dizes, a gente está preparado (??? estará?) para educar um bebé, uma criança pequena. Menos para um adolescente. De qualquer modo nas relações pais/filhos é sempre aí que nos fixamos.
E quando eles crescem completamente, quando como no post que escreveste no outro dia, o filho passa a ser pai por sua vez, quando o ciclo se completa? se, como ali disseste, lá por passar a ser pai (ou mãe) não perde a sua qualidade de filho, por sua vez o pai, por passar a ser avô, não deixou de ser pai também.
Difícil...

josé palmeiro disse...

Há uma imagem extraordinária para definir isto tudo de pais, de filhos, de netos e de amigos, até. É "a corda bamba".
Parece-me que andamos todos, sempre na corda bamba e o difícil é o equilíbrio. Vamos a isso, treinar para nos equilibrarmos.

Anónimo disse...

Contrariei por instinto essa coisa do "by the book" na educação.Ninguém vai lá pelo livro até porque não há livro para cada uma das pessoas que educamos(ou tentamos educar).Cada filho é diferente de outro e nós dizemos sempre-"vejam lá educados da mesma maneira e sairam tão diferentes".Sairam ou eram?Porque parece estarmos a aplicar uma "forma"para que os comportamentos sejam...mas apetece-me uma pergunta:o que é afinal a educação?È a formatação ou a passagem de valores que permitam um desenvolvimento e preparação para a vida adulta como seres completos e inteiros?AB

Anónimo disse...

O unico "book" que tentei foi o manual de boas maneiras e mesmo esse tem dias de exito e outros de desgraça completa.AB

saltapocinhas disse...

engraçado que hoje o tema de conversa no intervalo lá da escola com a minha colega foi o mesmo assunto.
um filho é um comprommisso para toda a vida e nós vamos perdendo alguma influencia à medida que eles vão crescendo (felizmente!).
Mas, apesar de perdermos influencia não perdemos as preocupações, antes pelo contrário!
e é ainda pior, porque não estamos sempre ao pé deles!

cereja disse...

É isso saltapocinhas. esse delicado equilíbrio entre o tentar-se ajudar mas não nos intrometermos não é nada fácil! (falo do quando eles crescem, é bom de ver!)
AB, a verdade é que até é difícil encontrar irmãos parecidos... Assim à primeira vista não me lembro de nenhuns. Educados do mesmo modo, filhos dos mesmos pais, netos dos mesmos avós e depois... cada um tem o seu feitio.
Essa do tal «manual de boas maneiras» foi a causa da questão aqui com o meu herdeiro, que até costuma ser rapaz educadinho, mas...

Cris disse...

Oi, querida,

Educar com independência e liberdade é uma arte. O único modo de não errarmos ( muito ) e amá-los muito . E respitá-los. O resto fica mais fácil.

Beijão, linda.

cereja disse...

Apoiado, Cris.
concordo plenamente contigo, com um pequeno ajuste: amá-los, respeitá-los e ensinar também a respeitar os outros que o Amor dificilmente se ensina, não é?
Esta ressalva, é que encontro em pais jovens e um pouco confusos por vezes, uma dificuldade em ensinar limites aos seus filhos - o tal respeito pelo outro que tão importante é.