quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Meios de comunicação, que poder?

Ontem ia de carro e tinha o rádio ligado. Muitas vezes faço zapping entre as estações quando começo a ouvir uma música que não me agrada ou um discurso que também não me interessa. O certo é que não costumo parar no Rádio Club Português, mas foi onde fui dar desta vez. Aliás até tenho achado alguma graça a este programa de que vou falar e dura quase toda a tarde – chama-se «Janela Aberta» e é dirigido por Aurélio Gomes e Teresa Gonçalves.
Estavam numa alegre cavaqueira, até engraçada embora forçando um pouco o tom e a páginas tantas entra no ar um ‘convidado’ creio que repórter da estação que até entrou fora de tempo com alguma atrapalhação, mas ultrapassada com muitos risos e piadas de todos.
OK. Também me diverti.
Ele vinha mostrara a gravação que tinha feito a uma espécie de questionário-de -rua-relâmpago. [Já agora gostaria de saber se as pessoas que foram inquiridas sabiam que aquilo que estavam a responder iria passar na rádio e com comentários] E agora passa a um ponto que deixou de ter graça.
As perguntas aos transeuntes desprevenidos eram sobre o Código de Trabalho que ontem entrou em vigor com as alterações que o PS fez à lei de Bagão Felix. Era um tema sério. Muito sério. É sabido que as Leis do Trabalho têm vindo a ser construídas de modo a beneficiar os patrões e a prejudicar os trabalhadores que podem ser despedidos com facilidade acrescida. Mas também é natural que um transeunte normal, apanhado de surpresa com um microfone à frente não alinhe duas de seguida sobre o tema a não ser que seja um sindicalista ou um jurista de Direito do Trabalho, coisa que nenhum dos «apanhados» era.
E a risota que foi naquele estúdio com as respostas das pessoas!!!
Por exemplo, um hesitava e o locutor comentava em off «ele está a pensar... vai continuando a pensar... e pensa mais...»; ou um desgraçado tinha o azar de dizer «eu ainda não li nada, mas do que li parece que vai ser pior para os trabalhadores» o que servia para a galhofa «ehehe, não leu mas o que leu...» quando talvez ele quisesse apenas dizer que não leu a lei mas leu comentários à dita; ou um outro que se embaraçava e falava em recibos verdes, contratos tudo com uns resmungos que se ouviam mal, e eles a comentarem «oiçam a clareza, o fio condutor desta brilhante exposição!»

É certo que as pessoas não eram citadas com nome, mas talvez as vozes fossem reconhecidas. Eu achei profundamente humilhante e ofensivo o tom de chacota que aqueles senhores usaram para gozar com o que consideraram ignorância sobre um tema que talvez mais depressa do que imaginam lhes pode bater à porta.
É que os jornalistas também podem ser despedidos. Mesmo que sintam no momento o poder de gozar com os outros.

10 comentários:

André disse...

Muito bem alinhavado esse post. É extraordinária a arrogância de quem se sente pairar sobre o mundo como uma espécie de balão de ar. Quem sabe o balão esvazie um dia; nesse dia, são capazes de brincar com eles mesmos... ou não.

fj disse...

Queres crer que também ouvi isso?!
Irritou-me tanto ou mais do que tu.
que uns desgraçados aceitem ir a Big Brothers ou coisas dessas, enfim, sabem com que contam e se fizerem figuras tristes apesar de tudo ganham alguma coisinha. Mas naquele caso, as pessoas entrevistadas, eram apanhadas à má fila, e depois gozadas indecentemente pelos 3 meninos que estavam no estúdio.
E a verdade é que o assunto era bem sério!
Que parvalhões! Eu mudei de estação!

Anónimo disse...

Há uma brincadeira que se diz em rádio que è "palavras leva-as o vento".Só que entre vento e ouvido alguma coisa fica.Bom não suporto este tipo de coisa e mais acho que quem é apanhado e acha que o que disse é atado sem dignidade dve pedir o livro de estilo da dita rádio e confrontar os jornalistas com o que lá vem sobre dignidade profissional e forma de conduzir programas.Agora anda para aí uma coisa que se acha que é humor e que é apenas forma de "avacalhação".Os tertulianos cor-de-rosa com todo o seu cortejo de Lilis Mayas e Castelos Brancos são a face mais visivel de um modelo que serve quem os põe a servir de palhaços públicos.Quanto pior melhor.E depois fazendo coisas para as audiencias insultam as próprias audiencias...e elas deixam.AB

Anónimo disse...

Onde está atado leia-se tratado e por aí fora para os restantes erros.AB

Anónimo disse...

Eu já tenho ouvido esse programa que se estende por várias horas e portanto com muitos sub-programas. uns até escapam outros menos, mas vocês falam de uma coisa que a mim também me irrita e é esse tom trocista e «super-leve» com que se focam as questões sejam elas quais foram. por mim, também concordo que nada é sagrado e se pode brincar com tudo. Só que há brincar e ... brincar. E isso a que te referes é de uma enorme arrogância do 'jornalista'(?) e total falta de respeito por os outros o que é mau seja onde for e assim em público é detestável!
Eu, pessoalmente não gosto lá muito do programa (comecei por dizer que o ouvi, mas não quer dizer que seja reincidente!) exactamente por aquela cavaqueira entre pares, que pode ter muita graça, mas...

josé palmeiro disse...

Tenho vind, como é meu hábito desde o primeiro escrito que aqui colocaste, para o último e têm sido umas atrás das outras.
Vergonhoso! Deontologicamente deplorável!
Gente dessa deveria ir imediatamente para o DESEMPREGO!!!! Estes sim, é lá que é o seu lugar.
De resto, não posso deixar de estar mais de acordo com os comentários já aqui colocados.

Anónimo disse...

Em concreto esse de que falas não ouvi, mas conheço bem o estilo.
E, é curioso, eu que adoro o humor (e ainda ontem aqui se falou no RAP e gosto imenso de o ouvir) detesto o tipo de programas de rádio onde os locutores estão permanentemente a rir. Um coisa é uma graça de vez em quando, outra coisa é um programa mesmo de humor - que nunca pode ser muito longo - e uma terceira coisa é um programa de entretimento, que pode e deve ser bem disposto mas sem quem fala estar sempre a rir. A mim irrita-me!

Anónimo disse...

Sabes, eu sinto como tu, e quando começam com aquelas risadinhas, se vou de carro e é só carregar na tecla mudo logo de estação. Mas. Mas, olha que há quem aprecie. estas coisas não são tão de ânimo leve como nos parece. De certeza que há indicadores de que os ouvintes gostam daquele estilo.
Olha que se a estação pensasse que havia muitos como nós era num ápice que o «estilo» mudava, podes crer!
F.R.

cereja disse...

Começando pelo último, FR, tens razão. Deve haver uma explicação desse tipo. De a maioria das pessoas fosse como os comentadores aqui do Pópulo eles deviam já ter mudado o registo.

Em relação aos outros comentários, (olá, Palmeiro, de volta?...:) )o que creio que eu senti e vocês também, é que era uma graça que tinha muito de falta de respeito humano. Evidentemente que as pessoas se atrapalhavam, havia algumas respostas um pouco tontas, mas fosse como fosse nada que justificasse a chacota feita. Revoltou-me um bocado. Acho que faz parte de uma boa formação, o respeito pelo seu semelhante. não sei se estou a ser muito moralista mas é assim que penso.

josé palmeiro disse...

Volto só para pegar no teu comentário aos comentários e dizer que o "Palmeiro", continua vivo ebem vivo no: www.factor_infra. blogs.sapo.pt, não hesites/m em visitá-lo.