sexta-feira, fevereiro 06, 2009

A falta de emprego

Não se pode falar ou pensar noutra coisa.
É um tema que é impossível esquecer ou arrumar lá no fundo da gaveta, porque ele salta-nos de qualquer gaveta que se abra, aparece-nos por todo o lado.
Preferi chamar-lhe «falta de emprego» e não o mais comum «desemprego» porque isto está a ser tão transversal a todas as idades que, se já é grande e em crescimento o grupo dos que têm trabalho mas o perdem, não é menor a enorme fatia daqueles que após uma preparação ‘normal’ para entrarem no mercado de trabalho não conseguem um primeiro emprego, ou seja nunca chegam a estar "desempregados" porque nunca estiveram empregados.
Os estudos vão-se eternizando.
Fazem-se os 3 anos que Bolonha manda.
Depois o mestrado, que afinal já é indispensável.
Depois um doutoramento.
E depois... começa-se a coleccionar formações diversas e a «enriquecer» currículos nem se sabe bem para quê.
Dêem uma olhadela aos jornais grátis cujas páginas centrais são só de anúncios. No alto da página diz «emprego» e depois o que se lê são os mais variados cursos de formação que, segundo os promotores, são excelentes para arranjar trabalho. Pelo menos trabalho para os formadores desses cursos...
E, uma coisa curiosa e em certa medida ‘esperável’, é o caso
do mercado negro de teses de doutoramento
Como agora se multiplicam os ‘doutoramentos’ começam a vender-se teses por milhares de euros (podem chegar aos 50 mil euros) e o pior é quando o ‘comprador’ dá conta de que o negócio foi mau: aquilo que comprou saiu de um copy/paste da internet!!!

Mas esta vigarice é daquelas que têm raízes escuras e estranhas. Por aquilo que eu sei, o trabalho de um mestrado ou doutoramento tem um professor-orientador.

Então que raio de «orientação» foi essa???


13 comentários:

fj disse...

Muito oportuno o teu post.
Ainda hoje no DN se pode ler o truque de cosmética que fez o governo para ‘diminuir’ o número de desempregados: a inserção de 10 mil pessoas com mais de 35 anos em estágios de 9 meses , e «no Inquérito ao Emprego os aprendizes e estagiários remunerados são considerados empregados».
Já tá!!!
Para este fim estão «empregados» mas quando termina esse estágio não podem pedir um subsídio de desemprego... Ou seja, afinal aquilo não era um emprego !
QED!
....
E vai até aos 35 anos!!!
O título do artigo diz que «plano anticrise retira até 57 mil desempregados das estatísticas», vejam bem das estatísticas que é o que interessa.

Anónimo disse...

Bom essa dos orientadores de doutoramento é uma meada que nunca mais acaba.Depende tanto ...Conheço quem acumule trabalho académico com,por exemplo poilitica e os pobres dos doutorandos esperam meses sem conta a disponibilidade de agenda.Depois há aquela fase em que as pessoas precisam das bolsas e tem de apresentar trabalhos para as terem e lá vão pedir ao orientador que se despache e as respostas são "não se preocupe que eu assino"o que parece uma facilidade mas na verdade apenas impede que quem pede possa começar a assinar por si e assim se garante a permanencia ad infinitum do Sr.Prof.Dr.(falta o feminino para continuar a ficar politicamente(in)correcto).Mas dá muito trabalho explicar esta rede toda.Tem muitas incidencias e depende muito das universidades.A propósito de trabalho e douturamentos:os da Católica tem sempre emprego e os que deram uma volta por sitios como Macau ou mais modernamente Timor também.Porque será?.Sobre a compra de teses de doutoramento....bem essas são as descaradas.AB

Anónimo disse...

Sobre o que o Zorro disse é uma realidade:há muito que se governa para as estatisticas.Mas perdem-se milhões de fundos estruturais por incompetencia total.Enfim!Mas a culpa não é nossa?È.AB

cereja disse...

OK Zorro, o teu comentário podia ser a segunda parte do meu post. :)

AB, francamente faz-me impressão saber que isso é possível. De outra geração, antes de Bolonha, quando uma tese de licenciatura era quase o correspondente ao que é hoje a de um doutoramento, tudo isto me faz muita confusão.
por outro lado, acompanhei, posso dizer, uma prima que fez um doutoramento que lhe levou 7 anos a concluir e eu confirmei o trabalho exaustivo que aquilo foi. Ver a ligeireza com que agora as coisas se fazem deixa-me de boca aberta!....
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Quanto à maior facilidade de emprego para quem andou aí pelas terras do Império... «pois», como dizia a prima do Solnado que gostava de dizer coisas...

Anónimo disse...

AH mas o tempo para concluir é o mesmo...ou mais.A orientação é que é "depende".E às vezes já tudo concluido qd. se chega à constituição do juri e o "tipo" que nem leu o trabalho todo resolve desdenhar de supõe dois paragrafos em 500 paginas?AB

Anónimo disse...

Só agora fui ler o artigo.Bom está lá tudo ou quasi tudo....AB

Anónimo disse...

Uma questão um tanto maldosa:
Se se admite que uma pessoa fique em situação de «estágio» até aos 35 anos, na melhor da hipóteses começará a contar para a reforma a partir de então. Ora 35 anos mais 40 de trabalho, dá 75 anos.
Se um trabalhador começar a receber uma reforma aos 75 anos, quer dizer que a receberá uns 5 ou 6 anos antes de transitar para um 'mundo mais justo'...E como há ainda os que ficam pelo caminho, a questão das reformas fica solucionada!!!!

Anónimo disse...

Tal e qual.
É melhor dizer «falta de emprego» porque afinal essa coisa do «desemprego» pode ser manipulada.

Não fazia a mais pálida ideia de que se falsificassem teses, sobretudo de doutoramento! Ainda uns trabalhos escolares normais, uns trabalhinhos para nota final da cadeira, até podia ser, mas uma coisa como uma tese, é preciso descaramento!

Anónimo disse...

É realmente uma palhaçada, com a desculpa para os palhaços.
Quem é que imaginam que enganam???

Essa história dos trabalhos de escritores fantasmas, não imaginei que chegasse a teses de doutoramento, até por ter a ideia de que eram seguidas de perto por um orientador. Pelos vistos nem isso!

josé palmeiro disse...

Está tudo dito!
Isto daqui ser uma hora menos permite-me chegar atrasado aos comentários e depois já está tudo dito e, ainda por cima tal qual eu diria. Depois essa coisa do desemprego ou da falta de emprego ou da (in)segurança social, tudo isso passa cá por casa. Coisas de ter uma família grande, está visto que nem isso me salva, pois, nesta altura já nem tenho direito ao abono de família...

Anónimo disse...

Muito certeira essa tua ironia «Pelo menos trabalho para os formadores desses cursos...» .
Parece que é a única coisa que «está a dar»: ser 'formador'.
e então formador de formadores , upa, upa!!

Anónimo disse...

É o LIMBO.
Para os crentes à moda antiga, as almas podem estar no Inferno, no Céu, ou ainda no Purgatório, não é?
Mas aquelas que por motivos estranhos não merecem nem Inferno nem Purgatório mas não têm entrada no Céu, vão para o tal Limbo.

Estes «eternos estagiários», estão no Limbo. Nem têm trabalho nem deixam de ter, é assim «uma coisa»....

cereja disse...

Caríssimos, este é um tema que acho que toca a todos hoje em dia.
Todos, todos, é um modo de falar, é claro. A gente sabe que há alguns jovens filhos do pai, que mal terminam o curso já são assessores e dai para cima, mas...

O mundo de gente de sangue normal, (porque nesses 'especiais' parece que lhes corre outra coisa nas veias, já não é azul deve ser esverdeado, a cor do dinheiro) é o que se vê.