domingo, dezembro 28, 2008

Poesia

A porta aporta

a porta roda ao invés da lua
a porta roda bússola enterrada ao invés dos olhos
a porta geme é um cão nocturno
a porta geme extinta na trela da noite
a porta areia

a porta caruncho pária de mar
a porta maré que vem e que vai que bate e que fecha
a porta com máscara de morte
a porta sem sorte

a porta joelho na alma das portas
a porta mulher da casa de passe
a porta manchou a manhã com o grito de porta

a porta enforcada no mastro da casa
a porta por asa
a porta roda
a porta sexo a vida toda
a porta tosca da madrugada pregos são estrelas mortas

a porta pregada

a porta leilão

a porta batente
a porta aranha por coração
a porta tu
a porta eu

a porta ninguém na terra pequena

a porta roda

a porta geme
a porta facho
a porta leme


Luiza Neto Jorge
Quarta Dimensão

Poesia


(de vez em quando volto a deixar aqui um poema da Luiza;
não resisto, para além da poetiza que foi. é também a amiga que eu evoco)


5 comentários:

Anónimo disse...

Realmente já tinha notado que não é a primeira vez que aqui deixas poemas da Luísa Neto Jorge.
Com a tua nota de hoje, explica-se um pouco.
Conheceste-a pessoalmente?....

josé palmeiro disse...

Muito bem recordada, esta enorme poetisa que a morte levou, antes de completar cinquenta anos no, já distante, 1989.
Para além de grande poetisa, foi uma excelente tradutora e dramaturga e, agora, sei-o, tua amiga.
Havemos de voltar a falar dela!

Anónimo disse...

Boa lembrança.
Portugal está sempre muito bem representado na Poesia, e é uma arte onde as mulheres brilham alto.

André disse...

Muito bem relembrado!

cereja disse...

É verdade sim, Zé Palmeiro. Não consigo ser muito imparcial porque vejo a mulher para além da poetiza.