Poesia
A porta aporta
a porta roda ao invés da lua
a porta roda bússola enterrada ao invés dos olhos
a porta geme é um cão nocturno
a porta geme extinta na trela da noite
a porta areia
a porta caruncho pária de mar
a porta maré que vem e que vai que bate e que fecha
a porta com máscara de morte
a porta sem sorte
a porta joelho na alma das portas
a porta mulher da casa de passe
a porta manchou a manhã com o grito de porta
a porta enforcada no mastro da casa
a porta por asa
a porta roda
a porta sexo a vida toda
a porta tosca da madrugada pregos são estrelas mortas
a porta pregada
a porta leilão
a porta batente
a porta aranha por coração
a porta tu
a porta eu
a porta ninguém na terra pequena
a porta roda
a porta geme
a porta facho
a porta leme
Luiza Neto Jorge
Quarta Dimensão
Poesia
(de vez em quando volto a deixar aqui um poema da Luiza;
não resisto, para além da poetiza que foi. é também a amiga que eu evoco)
5 comentários:
Realmente já tinha notado que não é a primeira vez que aqui deixas poemas da Luísa Neto Jorge.
Com a tua nota de hoje, explica-se um pouco.
Conheceste-a pessoalmente?....
Muito bem recordada, esta enorme poetisa que a morte levou, antes de completar cinquenta anos no, já distante, 1989.
Para além de grande poetisa, foi uma excelente tradutora e dramaturga e, agora, sei-o, tua amiga.
Havemos de voltar a falar dela!
Boa lembrança.
Portugal está sempre muito bem representado na Poesia, e é uma arte onde as mulheres brilham alto.
Muito bem relembrado!
É verdade sim, Zé Palmeiro. Não consigo ser muito imparcial porque vejo a mulher para além da poetiza.
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