domingo, dezembro 07, 2008

Poesia

Há Dias


Há dias em que julgamos
que todo o lixo do mundo
nos cai em cima

depois ao chegarmos à varanda avistamos
as crianças correndo no molhe
enquanto cantam
não lhes sei o nome
uma ou outra parece-me comigo

quero eu dizer :
com o que fui
quando cheguei a ser luminosa
presença da graça
ou da alegria
um sorriso abre-se então
num verão antigo
e dura
dura ainda.

Eugénio de Andrade
de «Os lugares de Lume»


5 comentários:

josé palmeiro disse...

Que dizer do Eugénio de Andrade?
Nada!
Só se pode ler e andar com as suas palavras de ricochete em ricochete o dia a semana o mês inteiro.

Anónimo disse...

Olha! Afinal cruzei-me com o Palmeiro!!!

É uma poesia que é «mesmo ele»!
sabe-os bem começar o dia assim. Até porque a mensagem (?) é positiva: afinal «todo o lixo do mundo» pode desaparecer ao chegarmos à varanda e....

Sabe bem.

Anónimo disse...

Belo Domingo. Muito artístico.
Poesia, música....

Temos tudo.
:D

Anónimo disse...

Nem sempre estou na mesma onda do Eugénio de Andrade, mas este poema foi muito bem escolhido.

cereja disse...

Mary, tens razão, todos reconhecemos que é um grande poeta, mas nem todos se identificam...
Eu gosto.
E gostei deste poema que vem a propósito, para mim, do que quero sentir.

(Como já se viu não vou falar do Alçada Bastos. Chega de necrologia. Talvez me venha a passar, mas ainda não....)