sexta-feira, dezembro 12, 2008

As meias rotas

Muito bem, seu sei, vocês sabem, todos sabemos, que os tempos mudam, as mentalidades também, e o que era natural há uns anos hoje é estranhissimo e vice versa.

Eu sei.
Aliás quase todas as semanas sai aqui uma observação, um post, um comentário, referindo isso.
Mas, de vez em quando há umas coisas que chocam ainda mais pelo contraste com aquilo a que fui habituada e com o ambiente em que cresci.
Estava num grupo e ouvi uma conversa entre duas amigas conhecidas. Não consigo agora reconstituir exactamente o que se disse, mas uma delas queixava-se um pouco da nora que andava sempre a fazer-lhe queixa do filho. Aquilo que eu ‘descodifiquei’ é que a nora no fundo a estava a acusar de ter educado mal o filho, actual marido da cachopa.
E na véspera tinha estado a queixar-se do desmazelo do rapaz, que (imagine-se) andava com as meias rotas!
Eu, no meu canto, não me pude deixar de rir a imaginar a cara de qualquer das minhas avós se uma das noras lhe fizesse semelhante observação!

Evidentemente que aí nos anos 50, qualquer boa dona de casa, velava pelas boas condições da roupa da sua família. Era o seu papel. Todas as senhoras tinham uma airosa «caixinha de costura» e sabiam fazer uma bainha, cozer um botão, e até existia um ovo de madeira para os tais buracos das meias... Claro que nem todas tinham muito jeito para a costura mas, enfim, estas 3 operações eram básicas.

Cinquenta anos depois, tais prendas já não se aprendem. Há lojas que se encarregam de fazer uns arranjos, e em muitas casas quando a roupa se rasga é como um prato que se parte, conclui-se que se ‘estragou’ e vai para o lixo.
Pelos vistos as meias também.

E esta jovem estava escandalizada porque o rapaz com quem casou tinha distraidamente calçado uma meia com um buraco. Creio que ela não estaria zangada por ele não ter cosido o buraco. Também nem lhe passava pela cabeça cosê-lo ela.
O ‘desmazelo’ é que ele nem reparou e devia já ter deitado a meia fora!

Ora vejam lá o homem com que casou...!

18 comentários:

Anónimo disse...

Ai chega,chega,chega
minha agulha
afasta afasta afasta afasta meu dedal
menina não sejas trafulha...
Realmente se não é uma piada dos anos 40 parece!AB

Anónimo disse...

De resto, a toda a gente, neste momento ,o que interessa é o buraco...Lá ser na meia é um pormenor.AB

Anónimo disse...

:)

É mesmo para rir, e tens razão, de um modo geral hoje quando uma coisa se descose ou rasga a atitude é a que se tem quando se parte um copo ou um prato - deitamos fóra.
No tempo do meu pai ainda havia homens que sabiam coser botões porque aprendiam na tropa!

A tua história é mesmo gira, e a paciência da sogra, heim?...

josé palmeiro disse...

Este, fica para mais tarde...
Vou coser as meias...
Estou a brincar, mas com os tempos que se adivinham, qualquer dia não há dinheiro para comprar, novo.

Farpas disse...

Eu há uma coisa que cozo (e sim muitas vezes até sou eu que cozo, de máquina e tudo! São muito a anos a trabalhar para o melhor carnaval do país, e aprende-se muito :D) as calças de ganga. A minha mãe fica à beira de um ataque de nervos mas eu não deito fora um par de calças... com uns remendos ou uns pedaços de ganga cozidos por baixo... é que depois eu posso sempre usá-las (e uso mesmo) em caminhadas, ou quando estou a fazer alguns trabalhos mais "sujos"...

... agora sou sincero, meias... quando se rompem vão para o lixo, se tempo é dinheiro já não compensa estar a remendar, até porque me faz depois confusão se ficar um altinho da linha, já sei que vou andar todo o dia a mexer os dedos a tentar ver-me livre daquilo LOL!

Anónimo disse...

Ganda Farpas!!!!

O pai do King aprendia na tropa, ele aprende para o Carnaval! E coser de máquina e tudo é uma habilidade que se calhar nenhum dos comentadores machos que aqui vêm se gaba!....
As meias, bom, eu não sei fazer. E as mulheres da minha família o que dizem é que se o buraco é grande não vale mesmo a pena. Se for pequenino e bem feito, olha que nem se nota, Farpas. e eu também sou um tanto esquisito...
De qualquer modo a história é engraçada como prova da completa reviravolta nas gerações. Também imagino que as minhas avós caíssem para o lado com uma queixa dessas...

Anónimo disse...

Chamaste á tua personagem do post Cachopa,pois então não me admira nada essa atitude.Usar e deitar fora está muito em voga e não e´só nas meias, podiamos-nos alongar por aí fora...nos paises "ricos USA," derperdiçavam tanto, que tambem ca chegou essa essa epidemia ,lembro-me de virem sacos de roupa dos USA para cá e tudo, como novo. Consumo e mais consumo .O desenvolvimento só dependia disso, Cá mandam-nos poupar e consumir ao mesmo tempo, que só dá vontade de rir...A maioria, das pessoas nao sabe nada de costura e essas lojas levam um dinheirão, um negocio que nasceu á medida de crise, pois a crise não começou hoje e está a ficar bem velhinha, podia ir para o lixo de TGV...

Anónimo disse...

Olha que achei muita piada a esta tua observação.
para ser completamente franca, a costura não será das minhas artes preferidas (domésticas, é claro). Coso aquilo que tem de ser. mas faz-me uma confusão do caraças ver que há quem mande fazer uma bainha ou coser uns botões a essas lojas que agora apareceram a aproveitar a onda. Até na minha Praça há uma mulher que faz umas coisas de costura - uma bainha à máquina 5 euros. Cinco euros?!?! Um conto de réis?! E pelo que vi é a tabela mínima, qualquer coisa que ela faça é daí para cima.
Se calhar sou sovina, mas nunca, NUNCA, mandaria fazer isso fora!!!

snowgaze disse...

Dois comentariozinhos:
1. o meu pai e o pai dele cosiam, à mão e à máquina. Principalmente coisas duras - ainda hoje o meu pai cose guarda-chuvas ou malas e coisas assim - mas também um botão, se fosse preciso. Provavelmente, por causa da profissão do meu avô, mas faziam-no (o meu avô só já não faz porque entretanto morreu).
2. Ainda hoje apanhei o meu filho com uma meia rota. Deitei o par fora sem pensar. Mas mesmo que pensasse deitaria fora na mesma. Quando eu era miúda cosiam-me os buracos nas meias e fazia-me impressão a linha de coser no pé.

josé palmeiro disse...

Gostei KIKA! Tens razão, no que dizes.
Quanto às coseduras, sei que hoje, é complicado, até por falta de tempo, tempo, nos dois sentidos, até porque é mais barato comprar novas que remendar.
Quanto às coseduras da tropa, sítio onde os homens, que era o que só havia, na altura, aprendiam a desenrascar, havia vários métodos e só vou citar dois o primeiro era cozer aqueles botões dos bolsos do busão, que tinham uns botões com pé e que bastava colocá-los na pala do bolso e enfiar-lhes um pau de fósforo por detrás e ficavam cosidos, para sempre, bastando só levantar a pala para ter acesso ao bolso.
O outro, mais sofisticado e que exigia mais paciência, consistia em não fazer a vontade ao superior e coser mesmo. Passo a contar: Estava eu em Mafra na EPI, na recruta quando nos distribuiram umas "gabardines", era Inverno e chovia, portanto os "cadetes" não se podiam molhar. A que me foi distribuída, nunca a desdobrei e, no dia do espólio, tentei entregá-la, como me tinha sido entregue.
Surge a voz do sargento que diz para o cabo: "Dsedobra lá essa "....." e conta as descosidelas!", "São dez, meu sargento!". Diz o cabo, depois de, cuidadosamente, inspeccionar todas as costuras.
Depois de umas contas, com lápis, o sargento olhou para mim e disse: "O sr. cadete tem dez escudos para pagar, pois são dez tostões por cada descosidela e tem dez".
Perante tamanha desfaçatez, solicitei-lhe uma factura, porque tinha contas para dar e porque, apontamentos a lápis, não me davam muita confiança.
A cólera, subiu-lhe à cabeça e ordenou ao cabo que me desse a "gabardine", e que só a aceitava cosida, ordem que o cabo executou sem pestanejar.
Conclusão: Eu, cosi a "gabardine", que nunca usei, mas ele recebeu menos dez escudos o que para uma caserna de cerca de trezentos ocupantes, não lhe deve ter feito muita mossa, mas, pelo menos, o meu dinheiro, não lhe foi parar ao bolso.

cereja disse...

Excelente recordação, Zé Palmeiro!!!! Acho que nos fez sorrir a todos.
Eu tenho observado que as «novas tecnologias» têm ajudado muito quem não é capaz de enfiar uma agulha. Não é a primeira vez que assisto no meu serviço a quem agrafe a bainha das calças ou saia, ou até a «cosa» com fita-cola!!!!

Agora em resposta às diversas pessoas que se queixaram de que a meia cosida incomoda o pé, devo dizer que isso é porque quem faz esse trabalho não sabe fazer uma «passagem» como deve ser. Lembro-me de ser criança e ver quem sabia dessas coisas, passajar alguns buracos da roupa e depois de pronto quase nem se via onde é que tinha estado roto. E uma meia cosida como deve ser (por isso é que havia os tais ovos de madeira) não incomoda nada.

Castanha Pilada disse...

Está certo...
Está certo.
Ou não?

cereja disse...

Olá «Castanha».
Pois é. Ficamos com alguma dúvida - de facto os tempos são mesmo diferentes, e nalgumas coisas mais fáceis.

Alex disse...

Bem...
Quando eu usava marido, o tal usava meias. Um dia entra-me na cozinha com um par de meias na mão e, com ar de "puto", anunciou-me que tinha as meias rotas. Olhei, pensei... e respondi-lhe:
dá cá que eu trato disso, amanhã estão novas.
Acto continuo prantei-as no lixo perante o olhar aterrorizado dele.
- Eram só uns buraquinhos, a minha mãe cosia...
Então apresentei-lhe duas hipóteses:
Ou coses as meias ou esperas por amanhã e eu compro-te umas meias. Eu sou perdulária e tu preguiçoso.
Fim de papo.

Mas por que raio havia eu de coser as meias dele? Não é preciso tirar um curso na Nasa... Passa pela cabeça de alguém que ELE COSESSE AS MINHAS? Ah, pois...

cereja disse...

Alexzinha, tens toda a razão na tua história.

Mas...Tal como contas não foste foste fazer queixa à tua sogra!!! O meu espanto não foi a questão da meia rota ou cosida foi
o ir queixar-se à sogra. Eu sei que muitas vezes educamos mal os nossos filhos, mas ali era um pouco demais. E quanto ao resto do post queria só chamar a atenção para o contraste das eras – ante e post ovo de madeira :)

(kékéisso?!)

Nós, Os Cachorros disse...

Demorei um pouco a compreender o que seria "rotar", pois em português do Brasil não existe tal palavra, mas lendo pude perceber o que significa... rs
Realmente os tempos mudaram, me lembrei que minha avó paterna sempre me dizia que "problemas familiares" ficavam dentro de casa e não ficava se falando com os outros como fazemos nos dias de hoje.
Se entendi bem o que quiz passar e usou as meias apenas para exemplificar, concordo plenamente.
Aqui mesmo, na Terra do Sol Nascente, muitas vezes me espanto em ver como existe diferença entre o jovem e o velho japonês e suas tradições...
Abraxos

mulher disse...

ei ainda tenho um ovo desses...

cereja disse...

Olá «mulher»... O teu 'perfil' não diz mais nada não sei se tens blog, mas se «ainda» tens um ovo desses entendes o que eu disse.

Chachorro, de facto era um pouco um modo de falar. Nós em Portugal dizemos que uma coisa está rota quando tem um buraco ou está esburacado. No caso de ser uma meia dizemos que a meia está rota. E, dantes essas coisas, coziam-se se era um buraco pequeno.
Hoje, por um lado há mais consumismo e não se aproveita tanto as coisas, mas o que achei graça foi a nora jovem, ir fazer queixa à sogra de uma coisa que decerto a sogra acharia normal...