quarta-feira, novembro 26, 2008

Quando a vítima sente vergonha de se queixar

Ando já há tempos para abordar este tema, e quase sem saber como o fazer. Como apareceu agora uma referência ao facto, e se fala até de uma linha telefónica «SOS – Pais», avanço com o que sei.
Como já aqui tenho referido, sou amiga de uma técnica que faz atendimento telefónico, desses que estão ligados 24 horas por dia. De vez em quando conta-me coisas inacreditáveis, mas que eu acredito primeiro porque a conheço bem, segundo porque nem dava para inventar algumas das situações!.... Naturalmente que não posso contar aqui nada, seria um risco estúpido a pessoa reconhecer-se na história, mas até é pena não poderem ser divulgadas.
Ora uma das coisas que ela já me tinha contado muitas vezes é que se lhe deparam muitas situações de pais agredidos por filhos.
Quando pensamos em ‘violência doméstica’ o que nos vem à ideia é sempre a agressão marido-mulher, a mais corriqueira, aquela onde se aconselhava a não meter a colher.
Mas filhos a baterem em pais?! Isso não. Até porque como diz a juíza que impulsionou o movimento Este é um dos principais tabus da nossa sociedade e – ponto muito importante, que aliás também se passa nas agressões marido mulher – é "um fenómeno transversal, que atinge todas as classes sociais e não apenas, como muitos pensam, as mais desfavorecidas".
Tal como a minha amiga me tinha contado, são sobretudo mulheres que vivem com os filhos, sem companheiro, que são ameaçadas não apenas verbalmente como até com pancada.
E o chocante é que estas mães ficam 'paralisadas' até por se sentirem culpadas «Se fui eu que o eduquei, onde é que errei?», é o que pensam. Duplamente vítimas, vítimas das agressões e vítimas da sua culpa.
Como é um fenómeno crescente, está na altura de o encarar de frente e sem vergonhas. E começar uma certa 'prevenção'.
Muitas crianças e pré-adolescentes, estão a tornar-se ditadores com pais atarantados que não conseguem estabelecer limites. Não é justo nem adianta ‘culpabilizar’ mais estas mães ou estes pais maus educadores.
Devem entender que não é ser mau pai ou mãe não deixar que a criança seja chefe-de-família
Esse papel é deles.
E têm de o assumir, com firmeza, sentindo que assim é que serão Bons Pais.

15 comentários:

Anónimo disse...

Não sei se é só por aí.(ou seja mais uma vez a culpa é dos pais que não se souberam impor)Aliás casos que conheço,os agressores já passaram a adolescencia e os pais estão na fase mais para lá que para cá.As motivações essas são várias e desde o tipo que vem bebedo ou drogado até ao que acha que o "lar" paterno é apetecivel e a morte teima em chegar e há que dar uma ajudinha há de tudo.AB

Anónimo disse...

Por acaso acho curioso achar-se (por comentários e alguns posts )que a classe "filhos" é sempre criança ou adolescente.AB

cereja disse...

Não, não, expliquei-me mal. As tais queixas que apareciam na tal linha telefónica, eram de mulheres até idosas, e os filhos de que finalmente se queixavam eram matulões de 40 anos!
Eu se calhar baralhei aqui as coisas.
Há uns tipos que (questões de álcool, drogas, e sobretudo maus instintos) okupam a casa dos pais (leia-se sobretudo mãe) e acabam quase por a expulsar a ela de tal forma a tratam. a minha amiga contou-me de vários casos por esse Portugal fóra.
O que eu pretendi dizer, é que se devia 'prevenir' isso e desde criança educar para o respeito pelo outro, e estabelecer ordem em casa. E cada vez vou reparando que isso se verifica menos. Vejo crianças ao pontapé às pernas dos adultos que se limitam a fugir deles, e até já vi, uma mãe que se baixou porque o filho a chamou e depois lhe pregou um enorme estaladão sem que ela reagisse. Perdão, reagiu a dizer «Se soubesse que era isto não me tinha baixado».
Claro que a violência a sério que comecei por referir se passa entre adultos, filhos crescidos, mas como se chegou lá?...
E, atenção, que é transversal a toda a sociedade.

Anónimo disse...

Depois do «Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres» apareces com este post!?!
És imprevisível!
Mas penso que de facto começa a vir agora á superfície situações que estavam escondidas durante muito tempo.
Como se diz no artigo que citas a verdade é que tal como o que se passa entre casais, também uma mãe ou pai terá vergonha de se ir queixar publicamente de um filho.
E esses filhos, adultos e brutais, podem causar danos terríveis. É verdade que se pensa que são casos de vinho ou droga, mas isso não justifica que existam.

Anónimo disse...

Tens toda, toda a razão.
Muitas vezes nem é preciso ser violência física.
A AB falou, e eu conheço vários casos, de matulões que tomam a casa dos pais (mãe, sobretudo) como sendo a deles, e às tantas quem se vê na rua é a dona da casa!...
Como disse a AB com graça, «os pais estão na fase mais para lá que para cá» e eles instalam-se mais a companheira de ocasião e os rebentos que apareçam, e os pais que se sujeitem...
Isto em homens 'normais' não estou cá a falar em bêbados nem drogados. «Apenas» brutos, e com força.

Farpas disse...

Nem mais, e o caminho não está a ser para melhor isso vos garanto! Os filhos comeram os país... os pais desapareceram e agora há é uma ou duas pessoas mais velhas que partilham a casa com os miúdos dando-lhes um ordenado.

cereja disse...

É isso, Mary, King e Farpas.
A sociedade está a dar uma reviravolta impressionante.
Eu sei que não podemos generalizar. Há muitos jovens que desejam sinceramente a sua independência e lutam por isso. E até se sentem muito mal por continuarem sem emprego ou tão 'temporários' que não podem investir num espaço próprio e continuam atrelados aos pais.
Mas conhecemos muitos outros que de facto se instalam como se fosse dever dos pais sustenta-los enquanto forem vivos. Claro que isto não tem a ver com maus-tratos reais, dos que metem polícia, mas é uma atitude de falta de respeito, quanto a mim. Tratar a mãe como empregada doméstica e ir deixar lá a roupa para lavar e passar, como conheço vários casos...

Anónimo disse...

Aqui já foi dito muuita coisa interessante,mas na minha opinião tem muito a ver com a desagregação da celula familiar.Quando ocorre um divorcio, e não sou contra, a verdade é que a mãe geralmente fica com os filhos e fragilizada emocionalmente, assume culpas que não tem etc etc.Daí o afecto se virar totalmente para os filhos e estes, espertos, aprendem a manipular e daí para a frente é só um salto.As maes são "culpadas" passam a vivenciar com os filhos tudo que respeitaria ao casal, e dão muito poder aos filhos que se vão tornando cabeças de casal e mais velhos é o que estamos a ver.Educar é dificil mas dizer Não com firmeza devia ser mais comum

Anónimo disse...

Post muito interessante e importante.
É claro que tudo vem com a Educação que se recebe no berço, mas há também muito poder social, digamos assim. O modelo que se vê, é de pouco respeito pelos mais velhos e pelo contrário incensar a juventude e até os miúdos.
Quem estuda um nadinha de sociologia da família vê o que se tem mudado através dos anos. Há duzentos ou até cem anos, a autoridade numa família estava nas mãos dos mais velhos sem a mais ligeira dúvida. Não passaria pela cabeça de ninguém ver uma criança levantar a mão ou dar pontapés ao pai ou à mãe... O castigo, que nessa época até era corporal, seguia-se de imediato! Seria o que mais faltava...
Porque o que para mim é bem grave é que estes jovens não só não respeitam os pais como não respeitam nada! a relação social em que cada um respeita o seu semelhante fica muito alterada.

Anónimo disse...

Os comentários deste post são grandes e parece-me que também aqui vou deixar um lençol...
É que por coincidência, também tenho uma amiga que trabalha nessa área dos SOS e diz exactamente o que aqui relatas. Mulheres por esse Portugal fora, que lhe ligam a altas horas da noite, a chorar, porque o filho a pôs fóra de casa e ela nem sabe para onde ir e tem vergonha! É isso que se torna mais chocante, a desgraçada ter vergonha de se queixar, como aqui dizes no título.
Eu penso que também haja muitos casos de doenças mentais. A saúde mental é parente pobre de uma saúde que já é má. E, não sendo apologista de que existam os velhos «manicómios» de antigamente, a verdade é que mandar para casa um doente mental sem a família ter um apoio muito forte é uma barbaridade.
Claro que podem ir com receitas de medicamentos, mas é necessário que os tomem! E muitas vezes não é uma mãe velha e cansada que tem capacidade para os obrigar a engolir aquilo que eles não querem! Como se vez em quando se l~e nos jornais há casos de agressões mortais até, praticadas por indivíduos que são inimputáveis. mas então quem é que é responsável?...
Claro que depois há aqueles brutos que são umas verdadeiras bestas e que apetece particar a justiça do 'olho por olho', e dar-lhes uma valente sova a eles!

Didas disse...

Esta geração anda a criar monstrinhos.

cereja disse...

É, Didas. Que raio...
e eu gosto imenso de crianças, mas por isso mesmo não lhes dar regras nem ensinar respeito pelos outros (começando pela família!) é um grave erro.

saltapocinhas disse...

eu conheço algumas mães (e também pais, mas principalmente mães) que desautorizam professores e que fazem aos filhos cedências que não cabem na cabeça de ninguém!!
e trata-se de crianças com 6 ou 7 anos.
um dia vão apanhar deles!
e andam a fazer tudo para o merecer!!

cereja disse...

Mas Saltapocinhas, quando eu digo que JÁ os vejo apanhar agora é a semente disso. Quando se dá impunemente pontapés nas pernas dos adultos ou como eu contei (e foi mesmo verdade) se vê uma criança pequeníssima que manda a mãe baixar-se para lhe dar uma estalada e todos se riem... é a semente de um futuro sem limites onde tudo se pode fazer.

Anónimo disse...

Olha que coisa!
Voltei aqui (até porque este post teve tantos comentários que chama a atenção)e só desta vez me deu para clicar onde dizia em azul «ditadores» e «criança seja chefe-de-família» e só agora vi que nos remetes para dois livros.
Fiquei mesmo muito interessado. O que li da sinopse faz com que pelo menos um vá comprar!...