Um drama em dois actos
Contou-me a minha amiga R.
«-Calcula tu que, ontem, a minha mulher-a-dias mal entrou em casa procurou-me com um envelope aberto na mão. Pediu-me se lhe explicava o que aquilo queria dizer.
Um tanto duvidosa olhei o endereço, e perguntei em nome de quem me fazia aquela pergunta, porque a carta não era dirigida a ela. Nem a ela nem, pelos vistos, a quem a abriu, uma minha vizinha de quem ela é amiga. A carta era de um Banco e vinha endereçada à filha dessa minha vizinha.
Fiquei preocupada, quis saber quem tinha aberto a carta, se tinha sido a própria e porque me vinham fazer aquela pergunta. Não, a carta tinha sido aberta pela mãe que nem por sombras achou que estivesse a cometer nenhum crime, a filha era dela e a carta estava na sua caixa de correio, logo estava no seu direito. Tentei explicar que não era assim, a Constituição, etc e tal - mas era chinês, o que eu estava a dizer não fazia sentido nem para a minha Dália nem para a D. Fátima que queria era saber o que lá vinha.
A primeira coisa que entendi, é que nenhuma das duas ‘descodificou’ o papel porque se a minha quanto a estudos tem uma antiga 3ª classe incompleta, a D. Fátima nem sequer sabe ler! Este ponto teve de me ser repetido. É que a minha vizinha, D. Fátima, viúva de um empresário falido nem sequer é pessoa muito idosa. Como é possível, uma lisboeta de cerca de 60 anos, ser completamente analfabeta?! Custou-me acreditar. Mas pronto. O que é que eu ia fazer, quando ela tão aflita me estendia o papel? Li-o.»
- E então?
«-Segundo acto! O Banco vinha avisar que o crédito tinha sido largamente ultrapassado, que o cartão ia ser cancelado e ela (a miúda) devia pagar metade da dívida de imediato, e a outra metade dentro de curto prazo.
Eu sentia-me muito mal com aquilo tudo, estava a violar vários segredos - de correspondência e bancário - mas perante aquela aflição não consegui recusar-me. E o drama é que a quantia em débito era de várias vezes o salário da rapariga, pelas contas da mãe nem trabalhando 5 meses ia conseguir saldar aquilo!»
Esta história é real. Passa-se em Lisboa, finais de 2008.
Uma mulher completamente analfabeta, e uma filha que acumula um crédito de várias vezes o seu salário.
O que se pode dizer?
«-Calcula tu que, ontem, a minha mulher-a-dias mal entrou em casa procurou-me com um envelope aberto na mão. Pediu-me se lhe explicava o que aquilo queria dizer.
Um tanto duvidosa olhei o endereço, e perguntei em nome de quem me fazia aquela pergunta, porque a carta não era dirigida a ela. Nem a ela nem, pelos vistos, a quem a abriu, uma minha vizinha de quem ela é amiga. A carta era de um Banco e vinha endereçada à filha dessa minha vizinha.
Fiquei preocupada, quis saber quem tinha aberto a carta, se tinha sido a própria e porque me vinham fazer aquela pergunta. Não, a carta tinha sido aberta pela mãe que nem por sombras achou que estivesse a cometer nenhum crime, a filha era dela e a carta estava na sua caixa de correio, logo estava no seu direito. Tentei explicar que não era assim, a Constituição, etc e tal - mas era chinês, o que eu estava a dizer não fazia sentido nem para a minha Dália nem para a D. Fátima que queria era saber o que lá vinha.
A primeira coisa que entendi, é que nenhuma das duas ‘descodificou’ o papel porque se a minha quanto a estudos tem uma antiga 3ª classe incompleta, a D. Fátima nem sequer sabe ler! Este ponto teve de me ser repetido. É que a minha vizinha, D. Fátima, viúva de um empresário falido nem sequer é pessoa muito idosa. Como é possível, uma lisboeta de cerca de 60 anos, ser completamente analfabeta?! Custou-me acreditar. Mas pronto. O que é que eu ia fazer, quando ela tão aflita me estendia o papel? Li-o.»
- E então?
«-Segundo acto! O Banco vinha avisar que o crédito tinha sido largamente ultrapassado, que o cartão ia ser cancelado e ela (a miúda) devia pagar metade da dívida de imediato, e a outra metade dentro de curto prazo.
Eu sentia-me muito mal com aquilo tudo, estava a violar vários segredos - de correspondência e bancário - mas perante aquela aflição não consegui recusar-me. E o drama é que a quantia em débito era de várias vezes o salário da rapariga, pelas contas da mãe nem trabalhando 5 meses ia conseguir saldar aquilo!»
Esta história é real. Passa-se em Lisboa, finais de 2008.
Uma mulher completamente analfabeta, e uma filha que acumula um crédito de várias vezes o seu salário.
O que se pode dizer?
4 comentários:
Este post como se dá a entender é «dois em um».
Por um lado, de facto na era em que o ensino são no mínimo 9 anos, encontrar-se uma senhora que não é tontinha pelo que dizes, mas é completamente analfabeta, é coisa estranha.
Mas por outro, esse da rapariga que tem um cartão de crédito que não controla, é caso vulgar. Infelizmente muuuito vulgar. e se é caso de cartão, não é o tal crédito da habitação que parece ser o responsável por tantas crises.
«E assim vai o Mundo...» dizia-se naqueles documentários que passavam antes dos filmes.
Não é nenhuma novidade essa da jovem que faz despesas que são várias vezes o deu ordenado. E os Bancos que lhe facilitam os cartões de crédito?! Aparentemente o plafond máximo deveria ser o do seu ordenado, né?....
Vocês têm razão, nada disto é de estranhar, mas é como o fado «tudo isto existe / Tudo isto é triste / Tudo isto é Fado!!!»
Não me parece de estranhar que mesmo numa cidade como Lisboa existam pessoas analfabetas, olha que não é para quem viva atrás do sol posto. Contudo, se dizes que o marido era um empresário, mesmo fraquinho, seria uma senhora não exactamente indigente... e isso já faz pensar.
Assim como faz pensar como é que a filha ou vive com dificuldades ou não controla de modo nenhum o dinheiro que tem, Que gastar uma quantia que dizes ser várias vezes o ordenado, é obra!!!!
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