quarta-feira, agosto 27, 2008

Pavões na capoeira


Neste sítio onde passo as minhas férias, tinha há uns anos a companhia de vários grupos de amigos. Aliás viemos morar para aqui atrás de uns amigos nossos que por terem cá casa nos desafiaram e de seguida fizemos nós esse papel – fomos convidando outros casais para virem morar para aqui. Ou seja, houve uma época onde não faltava aqui companhia, quase era demais! Depois os filhos cresceram e queriam ir para onde estavam os seus próprios amigos, muita gente começou a rumar para o Algarve onde a água é bem mais quente, outros, mais velhos, já achavam esta terra desconfortável e vêm cá muito pouco. Ou seja, actualmente a minha companhia são visitas que vêm de fóra.
Na segunda-feira encontrei-me com uma amiga, ex-colega de trabalho, a quem trouxe à minha casa para lancharmos. Foi agradável, ela está hospedada aqui num hotel de uma praia próxima mas é claro que a vida de hotel é uma seca, a vantagem é que sai do quarto e entra na praia, contudo gostou de uma tarde de conversa num ambiente caseiro e eu também, porque há muitíssimo tempo que não conversávamos com calma e sossego.
Nós temos feitios muito diferentes e ela tem mantido contacto com ex-colegas que nunca foram da minha simpatia, e desde que me tinha mudado de trabalho nunca mais tinha sabido nada delas, nem pensava em tal. Mas claro que também não repeli as informações que ia recebendo agora.
Esse grupo destas 3 ou 4 criaturas (de quem eu nunca gostei) tinham entre si uma habilidade maravilhosa: sabiam fazer as famosas omeletes sem ovos! Ou, pelo menos, com uma única clara, e uns pós de perlimpimpim saía um prato de encher o olho. Recordo-me de uma delas, há já muitos anos, ainda nem se sonhava em usar power-points a apoiar as nossas exposições, ter no final do ano ao expor o trabalho que tinha efectuado deixado tudo de olho arregalado com a projecção de umas transparências onde aquilo que tinha feito – igualzinho ao trabalho dos outros colegas – brilhava em gráficos com umas cores tão vistosas que só com isso a sua avaliação subiu muitos pontos! O trabalho em si mesmo não era nada de especial, mas com o embrulho de celofane e laçarotes de cetim, arrumou a concorrência.
Bom, não era a única. O truque nem era difícil e desde que se tenha estômago para isso, valia a pena. E fui reparando que aparecia afixado nas portas de alguns gabinetes «coordenador do projecto XYZ», mesmo que só se coordenassem a si mesmo, e então no caso de terem de facto alguma função de chefia a arrogância com que intervinham e falavam aos outros era coisa de pasmar. Eu tenho mau feitio para esse tipo de pessoas. Não as suporto. E, ou começo a ser trocista e agressiva ou me afasto, o que é o mais vulgar. Portanto há muito que não sabia nada delas.
A conversa com esta amiga deixou-me consolada porque tal como eu previa, os pavões só ficam bem nos jardins, mas nas capoeiras se se pretende é ter ovos, dão mais jeito as pobres e feias galinhas. Ou seja, aquelas brilhantes cozinheiras que faziam a mousse de chocolate completa com um quadradinho de uma tablette, verificaram que quando os convidados começaram a avaliar a sério os seus cozinhados o brilho desapareceu.
Não é «com o mal dos outros posso eu bem», neste caso é «o mal dos outros dá-me um grande gozo»….
Cá por coisas!

8 comentários:

Anónimo disse...

Ai minha querida Emiele, se chapeus há muitos como já aqui tens citado, olha que pavões ainda há mais... E aí o género não conta, há homens, mulheres, e até dos que acumulam. (que politicamente tão incorrecto...!)

Eu conheço o tipo até à náusea!
Quem se desunhe a trabalhar e quem quase nem faça nenhum mas aquilo que faz é apresentado com tal arte que parece o suco do sumo!...
Grrr!

cereja disse...

Pois é King. mas olha que eu não disse se estas aves de espimação era mulheres ou homens... E, se queres saber, nesse mini grupo havia de tudo!
Também tenho pensado GRRR, mas com a conversa da minha amiga/colega fiquei vingada, porque sacanearam-se tanto entre eles que afinal a careca ficou à mostra.
Pfff....

Não vale a pena alguns arrivismos.

josé palmeiro disse...

Comungo das opiniões do King.
Nada mais há a dizer, a não ser que ainda são muitos/as.

Anónimo disse...

Eu conheço a raça, oh se conheço!!!
Pavões arraçados de cuco!
Porque muitas das coisdas de que se gabam, afinal são trabalhos cujos alicerces foram cavados a muito custo e trabalho por outros! Eles apenas põem as penas do fim e colhem os louros.
Quem não conhece?....

Anónimo disse...

Mas olha que os pavões (as pavoas) põem ovos...
Mas o pior é que nascem mais pavõezinhos.
Não é costume comer-se ovo de pavõa estrelado.

Anónimo disse...

Bom,como vivi num mundo altamente competitivo,nada disto me espanta.O que me espanta é que haja mundos em que pressupostamente isto não se passaria e passa.Um mundo,que por ser de "causas" se pressuporia solidário.Não é.È preciso uma cara ou duas ou três para a "causa"e de preferencia,no final um busto ou uma estátua...Enfim!AB

Anónimo disse...

Só não sei se concordo muito contigo nas questões de apresentação.Primeiro um ditado popular"Todo o burro come palha a questão é saber-lha dar"Depois nesse exemplo de que falas (a menos que tb. seja metáfora)há uns anos (15,20)ninguém usava power-points ou transparencias...(a publicidade fazia apresentações em VHS ou em animatics, por exemplo)e sei muito bem o efeito de uma apresentação tecnicamente original contra outra mais comum...AB

cereja disse...

(desculpem esta coisa hoje esta sem acentos...)
AB, power-points nao havia, e claro. Nem sequer se usava computador. Mas usava-se transparencias quando tal se justificava. Simplesmente nao eram usadas internamente, entre colegas, para falar do trabalho que se tinha feito durante o ano... Estamos a falar de mundos diferentes. Nao era uma 'apresentaçao' a um cliente nem sequer a um serviço diferente do nosso, tratava-se de, no final do ano mostrar ao resto da equipa aquilo que se tinha feito. E a dita «palha» daquele modo parecia assim a modos que 'trouxas de ovos'!
E um tanto trouxa era tambem o nosso chefe, que nao distinguiu o brulho das luzes da realidade que retratava. O que me deixou divertida foi ver que anos depois, veio ao de cima que a competencia dessas pessoas era bluff...