sábado, agosto 16, 2008

Cenas de pantomina

É sabido que o facto de agarrar um volante de um carro é mais revelador do que uns copos de vinho – faz vir ao de cima as facetas mais violentas e agressivas de cada um. Já tenho visto doces mães de família a soltarem palavrões que na sua vida normal nem sequer pensam, ou serenos intelectuais, magrinhos pacifistas, que saltam como leões de dentro do seu carro, dispostos à maior violência contra quem lhes provocou uma microscópica mossa… Também já repararam, não? É um estranho fenómeno, mas para mim é quase uma lei. Assim como tantos e tantos condutores que sentem uma perturbação profunda que lhes agita as entranhas ao contemplar por pouco tempo que seja, as traseiras de qualquer veículo. Custe o que custar têm de tirar de frente dos olhos aquela visão arrepiante, e ver apenas à sua frente a estrada limpa e sem mais ninguém, o que se apressam a fazer passando pela esquerda, pela direita, furando seja por onde for!
Mas o mais interessante é quando a raiva de constatar que afinal não são os «filhos únicos» do trânsito os leva a situações completamente estúpidas:

Estava ontem, aqui no estaminé onde deixo os meus posts (diários, sempre que possível) e assisto à cena mais caricata que imaginar se pode!
Este local é o que se poderia chamar uma 'tabacaria' – vende sobretudo jornais e revistas, tem uma maquinazinha que serve cafés, tem uns escaparates com brinquedos e bijouterias de adolescentes, e no fundo da sala dois computadores um dos quais é o que eu costumo usar e no outro estão frequentemente uns putos em grande algazarra a jogar os seus jogos preferidos.
A porta, emoldurada de jornais e revistas, dá para uma rua, estreitinha como todas aqui. A aldeia foi construída no tempo onde se andava de burro ou de cavalo, e as ruas dão à vontade para passarem dois cavalos, mas um carro já tem de ter cuidado com as paredes. E claro que é de sentido único! Só pode!...
Pois estava eu ontem aqui no fundo da loja a abrir o Pópulo e entra um sujeito a comprar o jornal. Normal. Como não quis andar dois metros e deixar o carro no largo – como eu fiz – veio até à porta de carro, e deixou-o no meio da rua enquanto veio comprar o jornal. Enfim, também normal...
Mas acontece que teve o azar de um outro querer passar por ali e lhe apitar para tirar o caro. Fez ouvidos de mouco e continuou a escolher o jornal e a olhar os títulos. O outro toca a buzinar! Ele lá arranca, furioso, enquanto o dono da loja, tipo bem disposto, ironiza «Pois. Julgam que aqui é o Alentejo ou quê? Não é o Alentejo onde só passa um carro por dia. Aqui é um trânsito infernal!» e fica-se a rir, enquanto o freguês deu a volta ao quarteirão e poisou exactamente no mesmo sítio. Estava o dono a brincar com ele e a repetir a piada do Alentejo, quando Oh, azar!, a cena se repete, e chegou outro carro a querer passar e a buzinar.
Agora o caricato disto tudo: É que o sujeito que das duas vezes tinha estacionado a bloquear uma rua, ameaçava aos berros «Eu devia era ir chamar a Guarda! Não se pode buzinar a não ser uma emergência!… qual é a sua emergência, diga lá??? Se está atrasado levantasse-se mais cedo!!!» e lá foi aos urros com o jornal debaixo do braço, para calmamente o ler numa esplanada…
Quase que desejei que ele fosse realmente fazer queixa à polícia pela businadela do outro, que vinha de lá com uma multa bem maior pelo seu mau estacionamento!….

Ele há cada maduro!

9 comentários:

Anónimo disse...

Essa tua aldeia, é que, para parafrasear ali o Zé Palmeiro, parece o cenário ideal para sketches teatrais.AB

Anónimo disse...

Tal e qual!...
Estou mesmo a ver a criatura a bufar pela apitadela, e na vez seguinte é ele a apoiar a mão na buzina e nem a tirar até o outro aparecer!....

Anónimo disse...

Olá, olá, olá!!!!!
Cá estou eu!

É mesmo uma cena cómica e completamente plausível...
A gente conhece bem essa raça de tipos. E, cá por mim, deliava-me se de facto passasse ali um carro de polícia e multasse os dois! Sobretudo ELE!!!

cereja disse...

Mas olha que é, AB!
Eu até nem escrevo tudo aquilo que vejo, porque algumas eram de rir mesmo de gargalhada...

Olá King! Fim de férias?....
Olá Mary. É isso, tal e qual, se a coisa fosse ao contrário ele era o primeiro a apitar cheio de fúria.

Anónimo disse...

Pois é, Emiéle. Estão a acabar...
E passei logo por aqui! Vês como me porto bem?
Ainda por cima como tens escrito pouco (eheheheh) até consigo ler o que está para trás!

De resto, voltando ao que disseste, de facto a gente ver-se com um volante nas unhas parece que passam do Dr. Jekyll para o Mr. Hyde num minuto. Que susto!....
(Cá eu não, tá visto! Ahahahahah!!!)

josé palmeiro disse...

O gozo, é ser aí, na calma aldeia da Emiéle.
É realmente teatral e poucos o fariam tão bem.
Saúdo vivamente os meus antecessores, em especial o King, que tem andado por fora
As situações de trânsito, aqui no Algarve, são exponencialmente, em maior número, também tudo, cá vem parar, mas relativamente aos comportamentos, são iguais, em todo o lado, o que é preocupante.

Anónimo disse...

Ehehe!
Essa de ir fazer queixa por uma infração menor, qunado ele faz uma bem mais grave é de cabo de esquadra!!!!!
Há cada madura, realmente!

Anónimo disse...

E quem diz que os homens é que «se passam«?...
Ó pra mim, que sou tão compostinha e também disparato se vejo uma asneira daquelas, quando estou ao volante!....

Lá se vai a compostura. :D

Anónimo disse...

É de facto uma «cena de pantomina»! É fácil imaginar o tipo a dar a volta ao quarteirão e voltar ao mesmo ponto só para comprar o jornal! Dá outro estatuto, não é?!