Proibir um efeito sem atacar a causa?
A notícia apareceu por aí:
Que se proíba uma vigarice, é normal. Se uma pessoa for pressionada a dar dinheiro sob falsos motivos, isso é errado, é um crime. E isso tanto dá em quem nos bate à porta a angariar fundos para projectos inexistentes, como a quem peça esmola com a ajuda de criancinhas emprestadas ou exibindo moléstias teatralizadas.
Mas proibir a mendicidade num local porque aí há mais turistas, é cínico, é varrer o lixo para debaixo do tapete.
Em Lisboa temos notado um aumento impressionante de mendicidade. O que uma Acção Social decente deveria fazer era estudar os casos e tomar medidas. Ver um por um (e tinham aí trabalho que nunca mais acaba) analisar de que vivem, e porque é que andam a pedir. Uma vez que existe um RSI, essas pessoas não têm acesso a ele? E porquê? Se o têm ele é insuficiente? Não se lhes consegue arranjar trabalho decente? Muitas questões que deveriam ser respondidas e procurada uma solução.
Por vezes ouvem-se histórias, que nem sei se são ‘lendas urbanas’, se realidade, de pedintes que vivem muito bem das esmolas. Custa um pouco acreditar que se escolha o «pedir» como meio de vida, mas perante certas mazelas fica-se a pensar o que move aquelas pessoas. No outro dia, um homem sem pernas ‘andava’ a pedir no meio dos carros que paravam no sinal vermelho; o perigo de ser atropelado por quem não o visse era enorme! E também todos conhecemos os cegos do metro (aqui tão bem descritos!) que talvez tenham feito nascer a tal lenda.
Mas o facto de se proibir a mendicidade, seja como for, é sempre chocante porque, como entra pelos olhos dentro, ela é o produto de alguma coisa que está mal e não a sua causa.
Em Veneza, foi proibida a mendicidade (mas só no Centro Histórico) Então este pormenor de tal só se passar no Centro Histórico, ainda sublinha mais a hipocrisia da medida! Aliás o responsável justificou-se dizendo que os outros também fazem, neste caso, «que várias cidades turísticas de Itália já proibiram a mendicidade».
A mim faz-me espécie.Que se proíba uma vigarice, é normal. Se uma pessoa for pressionada a dar dinheiro sob falsos motivos, isso é errado, é um crime. E isso tanto dá em quem nos bate à porta a angariar fundos para projectos inexistentes, como a quem peça esmola com a ajuda de criancinhas emprestadas ou exibindo moléstias teatralizadas.
Mas proibir a mendicidade num local porque aí há mais turistas, é cínico, é varrer o lixo para debaixo do tapete.
Em Lisboa temos notado um aumento impressionante de mendicidade. O que uma Acção Social decente deveria fazer era estudar os casos e tomar medidas. Ver um por um (e tinham aí trabalho que nunca mais acaba) analisar de que vivem, e porque é que andam a pedir. Uma vez que existe um RSI, essas pessoas não têm acesso a ele? E porquê? Se o têm ele é insuficiente? Não se lhes consegue arranjar trabalho decente? Muitas questões que deveriam ser respondidas e procurada uma solução.
Por vezes ouvem-se histórias, que nem sei se são ‘lendas urbanas’, se realidade, de pedintes que vivem muito bem das esmolas. Custa um pouco acreditar que se escolha o «pedir» como meio de vida, mas perante certas mazelas fica-se a pensar o que move aquelas pessoas. No outro dia, um homem sem pernas ‘andava’ a pedir no meio dos carros que paravam no sinal vermelho; o perigo de ser atropelado por quem não o visse era enorme! E também todos conhecemos os cegos do metro (aqui tão bem descritos!) que talvez tenham feito nascer a tal lenda.
Mas o facto de se proibir a mendicidade, seja como for, é sempre chocante porque, como entra pelos olhos dentro, ela é o produto de alguma coisa que está mal e não a sua causa.
10 comentários:
Todos nós pensamos nisto, de vez em quando.
É mesmo certo que a mendicidade está a aumentar de um modo assustador. E custa-me aceitar que as pessoas responsáveis não vêm. E se vêm cruzam os braços?
Vais ver que ainda vão considerar que eles devem pagar IRS, e talvez seja o modo mais fácil de acabar com a mendicidade.
Melhor que varrer para debaixo do tapete.
Para já acho alguma graça,uma vez que a cidade é Veneza proibir no "centro histórico".Ou é um eufemismo para declarar a proibição absoluta da mendicidade,porque fora do centro histórico Veneza muda de nome...Depois não se proibe,por exemplo uma das coisa que então durante o Verão francamente incomoda com a insistencia é ...a prostituição,sob a forma de "making lovers"(diga-se de passagem que a maior parte é lindissima)que se pro´~oem a tudo qt.é americana com várias camadas de correntes de óculos pendurados,não descurando nenhuma das outras nacionalidades turisticas...E em tempo de festivais então é uma praga...mas talvez isso faça parte da economia da cidade...e do " cartaz turistico" digamos assim logo não é uma demonstração de pobreza mas de mercado...AB
Também tinha ideia de que Veneza (não conheço bem, foi mesmo só de passagem, sniff...) era toda ela «Centro Histórico»!
A AB tem razão quanto à prostituição, mas quem já foi ao oriente, tem uma ideia do que isso seja. (Quando digo 'oriente' falo em zonas turísticas, é claro!)
Têm toda a razão. Mas em Portugal tambem já foi proibida no tempo de Salazar.E talvez alguns se lembrem ainda de "reservado o direito de admissão", que queria dizer mais ou menos o mesmo.
Tens razão, FJ. No tempo do salazar, os que eram apanhados iam para a Mitra. O pior é que agora há filas de espera para se poder ir para a Mitra!.....
Mas o que o FJ diz, acentua a hipocrisia do regime salazarista, realmente. Não se resolvia nada (como os socratista de hoje) mas escondiam os pobrezinhos.
Vocês lembraram o que também me tinha ocorrido quando estava a escrever: que nesses tempos antigos era «proibida a mendicidade». E também havia uma coisa horrorosa, as famílias mais abastadas tinham «o seu pobrezinho» pessoal. Aí uma vez por semana batia à porta (de serviço, claro!) um pobrezinho a quem se dava de comer e algumas moedas. A caridadezinha.
Mas ninguém se referiu ao link que deixei para a crónica tão bem escrita sobre «O Cego da Linha Azul». Merece ser lido. É um post emprestado, que o blog não é dela, mas muito bem escrito.
Muito bem feito um livro da Susana Pereira Bastos que se chama "O Estado Novo e os seus vadios"e que tem como sub-título "Contribuição para o Estudo das Identidades Marginais e da sua Repressão".È da D.Quixote e recomendo vivamente a quem se interessar por estes temas.AB
Tens razão Èmiele o artigo está muito bem feito e eu sou uma das que já me tornei cega na linha azul mas que sinto sempre um aperto estranho por aparentar uma indiferença que de facto não sinto mas há qq. coisa de muito regredido me vem ...ela fala de Bosch,pois talvez.AB
Excelentes contribuições para a problemática levantada.
Quanto ao livro, AB, desconhecia-o!
Agradeço a indicação e vou lê-lo logo que o encontre.
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