Em Maio há 40 anos
Uma vista de olhos, quer pelos media, quer aqui pela blogosfera chega para confirmar que a data não vai ficar esquecida.
Há quarenta anos, em Maio de [19]68 acendeu-se um enorme clarão em França. Mesmo que hoje 60% dos nossos estudantes universitários não tenham nenhuma ideia do que isso foi (e, lá por isso, possivelmente os adultos que não pertençam a uma elite intelectual acredito que também não e, do que tenho lido, até em França o panorama não é muito diferente) a verdade é que os acontecimentos desse Maio mudaram muita coisa e ficaram como um símbolo.
Passou-se cerca de meio século, e então? Não é por uma coisa estar mesmo a acontecer que é importante nem por fazer parte de um passado que o deixa de ser. A Revolução Francesa foi há muitíssimo mais tempo, e mudou a História. E afinal, a invenção da roda ou a descoberta do fogo…
Não podemos avaliar a importância que um acontecimento tem para nós pela distância a que se situa, não é? Por algum motivo Sarkozy afirmava na sua campanha eleitoral que era preciso acabar com a memória de 68. É porque ainda o incomodava.
Quando em Paris se afirmava «sous les pavés, la plage», essas pedras da calçada que se arrancavam para construir barricadas, mas que podiam ocultar por debaixo de si a beleza e liberdade da praia, a poesia da frase era todo um programa. Os ideais que se defendem mesmo à pedrada já de doutra forma não era possível.
O tempo passou. Muitos desses ‘soixante-huitards’ acomodaram-se, aceitaram o sistema, sabemos disso. Mas… As pessoas são pessoas, os ideais existem enquanto se acreditar neles, e não necessariamente por aqueles que os criaram e defenderam.
De qualquer modo é muito agradável este relembrar daqueles dias onde tudo parecia possível. As análises estão aí, para quem as quiser ler. Eu vou apenas, como homenagem, manter aqui no Pópulo um apontamento diário colocando em cada dia um dos muitos cartazes que nesse Maio faziam falar as paredes de Paris uma linguagem de provocação, de graça, de festa.
10 comentários:
Realmente, de livros, a artigos, não só em França como em Portugal parece não se querer deixar cair a data.
Impressiona muito ver o envelhecimento de quem tanto se admirou na altura - e por envelhecimento não falo da parte física, mas exactamente da acomodação, ao sistema. Até parece uma praga.
Mas a memória ainda permanece.
Mary tem razão: é avida ( ou é a economia, estúpio numa versão mais crua ).Mas já viste bem comoum ex lider rebelde, audaz, corajoso e criativo, bem "absorvidinho" pode dar um "ótimo" executivo?
Lá, como depois, por cá aconteceu essa mudança. Constitui para muitos uma traição, pois nada melhor que nos mantermos coerentes com o pensar e o agir, sem que o que afirmo, não impeça de avançarmos no tempo e de fruir os bens que o progresso nos trás.
Quanto ao Maio/68, também eu apostei no tema e coloqui, lá na "sesta", um conjunto de slides de cartazes da época. Se se tivessem cumprido aquelas palavras de ordem, certamente, não teríamos regredido tanto.
O Maio está por cumprir.Aliás não sei muito bem se o que o Sarkozy disse tem o significado que a Emiele referiu.Mas ao lado dele estava Glucksmann quando ele proferiu a frase e...extraordináriamente riu-se...e explicou que se ria porque lhe parecia qe era Cohn-Bendit contra Cohn-Bendit.Não li ainda o livro que ele escreveu a meias com o filho, mas aí pela net diz-se que não há guerra de gerações.Talvez não haja,mas isso o que é que significa?Cohn-Bendit é deputado no parlamento europeu e curiosamente,dentro daquele "Cinza" daquele plenário continua a ser um tanto provocador.Se calhar até um bocadinho mais que o mano Portas de Esquerda(sem ofensa).Depois há Guy Debord, o "situacionismo" cujos manifestos só chegaram aqui depois do 25 de Abril, com os emigrados politicos de "volta viagem"(devo ter por aí ainda fotócopias dos folhetos)e quem se atreve a dúvidar da sociedade espectáculo (edições Afrodite,Ribeiro de Melo muito atento)e a "mangeuse" do Poulantzas e por todo o lado que não só a França (Hei Jude,alguém se lembra?)muitas ondas se levantaram,a Itália,a Holanda,a Inglaterra.As mulheres.Os movimentos feministas(decerto a Diana Andringa há-de falar nisso)...E o Libé...e o Sartre a ver se não perdia a mão sobre aquela juventude que o tinha feito sentir jovem até tão tarde e o PCF a perder completamente a mão de tudo e a agarrar a corrida (toma lá mais uns operários)...e sous les pavés(era bom explicar que os Pavés foram substituidos por chão liso porque o General estava mais habituado à areia que por acaso não era a da praia mas a do deserto argelino)e esqueço-me agora do nome do 3º dirigente, mas se calhar não tem muita importancia, e os cineastas que aproveitaram para se insultar uns aos outros de Polanski a Godard, e Aragon (não tinha que haver sagrados,ele devia ter pre-.sentido isso )a tentar discursar na Sorbonne e a ser apupado...E depois...de todo esse puzzle o que é que restou?Porque é que sempre que existe uma rebelião (os franceses são óptimos nisso)se diz que "parece o Maio de 68"?(creio que é mais por aí que vai o Sarkozy)Sabemos todos as palavras de ordem,as poeticas palavras de ordem,mas que fizemos delas para além de fichas excelentes que encheram as citações de quási todas as conferencias,meetings,politicos ou culturais, durante anos a fio?Não sei.Aliás não sei tirar conclusões ,nem sei se se podem tirar para já.Por isso digo que está por cumprir.Ou está ou estará em "situação de "acontecer"AINDA.Mas já se perfilam por aí os teoricos da coisa(estavam em Paris),todos os villaverdes da coisa e irão explicar convenientemente às massas ignaras o que provavelmente não tem explicação.Como é que se explica um golpe de asa para a liberdade?Como é que se explica a juventude?Como é que se explica a poesia?Deve haver uma grelha...tem que haver uma grelha onde caiba tudo bem arrumadinho-para descanso das almas inquietas.AB
O Maio de 68 foi importante apenas pela liberdade sexual. Fazer o que quisermos uns com os outros, a fazer o pino, com as mamas ao léu, com manteiga, ao natural, na praia, na cama, ao suor do Verão. Isso sim! Agora, o resto, só veio prender-nos a ideias inúteis.
Ontem não consegui vir cá e hoje ainda não «chegaste» :D
Este post tem muito que se lhe diga, a como chego tarde já quase tudo foi dito. A AB escreveu um longo comentário.
Tanto quanto sei o
Glucksmann diz agora exactamente aquilo que adivinham. Não li o livro, mas li vários artigos sobre ele. Parece mesmo uma traição, mas a palavra é pesada.
A primeira frase da AB é a que eu diria: Maio está por se cumprir.
Acredito.
E eu passo a correr, que o contador da net paga ao minuto não pára. Só passo para dizer olá, e a AB já disse imenso.
Palmeiro, ainda não vou ao Sesta que por aqui é mesmo o mínino dos mínimos... Em Lisboa logo me desforro.
Por mim vou deixando todos os dias um boneco, para não fazer esquecer.
É que diga-se o que se disser continua e continuará a ser um símbolo de Liberdade. A Imaginação ao Poder.
A fotografia é espantosa, iconográfia. O texto lê-se por gosto.
Mas Emiele, faz-me um favorzinho, não me lembres que Maio 68 foi há 40 anos. Como diz o outro, eu fui tão feliz em Maio 68. Até fugi para ir a Paris e muita fominha rapei.
Se faminto fui mais faminto voltei e não falo de pão, muito menos de sexo. 40 anos...que disparate.
Obrigado pela visita "N.Phillips", não sei se tens blog que não deu acesso. Ia retribuir a visita...
Pois é. Quarenta anos.
E muito?
É muito, sim, mas tal como dizes tudo depende também do modo como se olha para esses dias.
E, já agora, olha amigo não posso mudar porque foi o título que decidi dar a toda a série...
Mas é um gão de areia do ponto de vista da história. Quarenta anos? Pfff...
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