Uma pirueta ideológica
Um amigo tinha-me falado de um artigo do Monde Diplomatique muito interessante, que depois remetia para um livro ainda mais interessante.
O livro, «Porquoi les pauvres votent à droite?», já o encomendei mas como ainda não o li não posso avançar mais nada, porém só este artigo já despoleta imensas reflexões.
A arte de fazer sonhar os pobres«No modelo marxista o trabalhador é convidado a desfazer-se da sua mentalidade servil e auto-depreciativa […] e identifica-se aos seus semelhantes, assalariados, desempregados, nacionais ou estrangeiros, por quem sente empatia e solidariedade. O génio da direita foi inverter o esquema. Agora o trabalhador identifica-se com os ricos, e compara-se com os que partilham a sua condição: o imigrante recebe subsídios e ele não, o desempregado fica na cama enquanto ele se levanta de manhãzinha para ir fossar. O seu ressentimento foi habilmente desviado do seu alvo legítimo e desenvolve-se um terrível ciclo vicioso: quanto mais as suas condições de vida se degradam, mais ele vota pelos políticos que as degradam mais.»
Este é apenas um parágrafo. Não posso fazer link porque não sou assinante do jornal, e não dá para o copiar que o artigo é grande. Mas neste parágrafo está a chave que nos ajuda a entender não apenas o interesse que existe pela vida dos VIPs e o sucesso das revistas que a narram (sempre houve histórias de príncipes e princesas) mas a atitude de confronto com os companheiros da mesma classe. Aponta-se o dedo aos imigrantes como causa do desemprego, o trabalhador que faz greve é um calão (e aliás a única greve ‘justa’ é a nossa), e instalou-se um clima de inveja e desconfiança entre pares.
E entretanto, a Direita vai-se rindo.
O livro, «Porquoi les pauvres votent à droite?», já o encomendei mas como ainda não o li não posso avançar mais nada, porém só este artigo já despoleta imensas reflexões.
A arte de fazer sonhar os pobres
Este é apenas um parágrafo. Não posso fazer link porque não sou assinante do jornal, e não dá para o copiar que o artigo é grande. Mas neste parágrafo está a chave que nos ajuda a entender não apenas o interesse que existe pela vida dos VIPs e o sucesso das revistas que a narram (sempre houve histórias de príncipes e princesas) mas a atitude de confronto com os companheiros da mesma classe. Aponta-se o dedo aos imigrantes como causa do desemprego, o trabalhador que faz greve é um calão (e aliás a única greve ‘justa’ é a nossa), e instalou-se um clima de inveja e desconfiança entre pares.
E entretanto, a Direita vai-se rindo.
10 comentários:
Abriste-me o apetite.
Foi no Monde Diplomatique de Março?
Como no link para a Amazon se vê bem a capa, vou tirar os dados e ver se encontro o livro.
Deve ter imenso interesse!
Mary é do de Abril. As transcrições estão preciosas, sintetisam muito bem.
O anónimo fui eu, fj, deu-me um toque de modéstia exagerada.
Muito interessante. Deixa-nos a pensar, e abre portas para outras reflexões diferentes mas da «mesma família».
Vou procurar o jornal, e já agora o livro que deve ser muito sugestivo.
Até me sinto envergonhada. É que ao contrário de vocês eu tinha o jornal cá em casa, vi umas tantas coisas em diagonal, um artigo ou outro li com mais atenção, e esse escapou-me!
Entretanto (depois de abrir o Pópulo) já lá fui. Realmente não podias transcrever aquilo tudo, mas está muito bem visto, na sua associação Sharkoziana. «Ao afirmar que só o mérito governa o destino dos indivíduos, a direita naturalza a ordem social: tanto os ricos como os pobres são integralmente responsáveis pela sua condição, e os eleitos podem lavar as mãos»
Muito bem visto.
Também li isso KIM.
E essa de «só o mérito governar o destino dos indivíduos» é um espanto!
E o Sarkozy fica ali com uma imagem que daria vontade de rir, se não fosse tão sério para tanta gente. A ideia de que «já sou Presidente e pronto!» Como citam ali Le Point afirma «Pour lui, la vie va commencer». E o que é que isso interessa? Ganhou um palácio em Paris, um castelo em Rambouillet, um forte em Brègançon, isto como se tivesse ganho o totomilhões e não a Presidência de uma República!!!!
Mas olhem quer os media dão e os media tiram...
Nestes jogos, o poder não está sempre onde parece. Até está muito bem dissimulado! Este caso infeliz do Sarkozy, ele é apenas uma espécie de 'testa de ferro', o Poder a sério não está visível.
Jornais, por cá, só tarde e a más horas.
Vou ver se encontro, porque como à Mary, abriste-me o apetite.
O que relatas é real e leva-me(nos) a perguntar, o que é que a esquerda tem feito e anda a fazer.
Já agora volto para dizer que tive em tempos uma mulher-a -dias que morava numa barraca num bairro que foi depois reconvertido e que se foi embora porque cá em casa era tudo "muito de esquerda"...Emigrou.
E ainda para fazer uma pergunta-a Esquerda?
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