Deseducar
Estava eu ontem numa loja, quando ouvi uma voz masculina, perguntar num tom meio ansioso meio suplicante: «...e uma pistola? O que achas? Gostas?»
Aquilo caiu-me mal. Estranhei. O quê??? Estranhei tanto que dei a volta às prateleiras ‘expositoras’ para investigar. Deparou-se-me uma cena curiosa.
Protagonistas, um miúdo de uns 7 ou 8 anos e um senhor possivelmente seu avô, pelo menos pela diferença de idades assim parecia. O rapaz mantinha-se semi-encostado a um expositor dos mais variados brinquedos, olhando-os com uma expressão de enjoo e enfado, como um adulto blasé olharia para alguma coisa que considerasse profundamente desinteressante e abaixo da sua importância. O senhor, depois de não ter recebido resposta à sua sugestão da pistola, apresentou-lhe sucessivamente um jogo, uma bola, um outro jogo, e pela atitude parecia que lhe implorava que, por favor, POR FAVOR, aceitasse um presente. O miúdo nem se dignava responder. Encolhia os ombros e mantinha a tal expressão de enfado e superioridade.
Não era nada comigo.
Ninguém me agradeceria qualquer intervenção.
Fiz portanto a compra que precisava e apressei-me a sair da loja.
Mas a imagem de um mundo de pernas para o ar, não me largou o resto do dia.
Que se dê uma prenda a uma criança, nada de mais natural. É uma prova da nossa ternura, do nosso amor por ele. Mas que se lhe suplique o favor de a aceitar!?...
Que monstrozinho de egoísmo vai sair dali. O Mundo deve-lhe tudo e ele só deve ter de estalar os dedos para que os seus desejos se realizem.
Que jovem e adulto infeliz se estava ali a gerar.
...com a melhor das intenções.
Aquilo caiu-me mal. Estranhei. O quê??? Estranhei tanto que dei a volta às prateleiras ‘expositoras’ para investigar. Deparou-se-me uma cena curiosa.
Protagonistas, um miúdo de uns 7 ou 8 anos e um senhor possivelmente seu avô, pelo menos pela diferença de idades assim parecia. O rapaz mantinha-se semi-encostado a um expositor dos mais variados brinquedos, olhando-os com uma expressão de enjoo e enfado, como um adulto blasé olharia para alguma coisa que considerasse profundamente desinteressante e abaixo da sua importância. O senhor, depois de não ter recebido resposta à sua sugestão da pistola, apresentou-lhe sucessivamente um jogo, uma bola, um outro jogo, e pela atitude parecia que lhe implorava que, por favor, POR FAVOR, aceitasse um presente. O miúdo nem se dignava responder. Encolhia os ombros e mantinha a tal expressão de enfado e superioridade.
Não era nada comigo.
Ninguém me agradeceria qualquer intervenção.
Fiz portanto a compra que precisava e apressei-me a sair da loja.
Mas a imagem de um mundo de pernas para o ar, não me largou o resto do dia.
Que se dê uma prenda a uma criança, nada de mais natural. É uma prova da nossa ternura, do nosso amor por ele. Mas que se lhe suplique o favor de a aceitar!?...
Que monstrozinho de egoísmo vai sair dali. O Mundo deve-lhe tudo e ele só deve ter de estalar os dedos para que os seus desejos se realizem.
Que jovem e adulto infeliz se estava ali a gerar.
...com a melhor das intenções.
12 comentários:
Eu se fosse a ti tinha pedido ao gerente da loja lápis e papel e tinha posto um cartaz ao pescoço da criancinha-"Vende-se em Saldo".AB
:)))
Só em saldo!!
Mas a sério AB, apetecia-me sacudi-lo! Se visses a atitude de minúsculo snob, só à estalada. E o senhor de idade, suplicante, a tentar adivinhar-lhe os desejos.
Vai ser um adolescente fresco, aquele!
Se calhar além dos pais de fim de semana também existem avôs nessa categoria...AB
E sabe-se lá se não era mesmo pai.
É que os pais serôdios, quando fazem um segundo casamento com uma menina bem mais nova e obtêm uma criancinha já quase no fim do seu prazo, têm atitudes para com estes seus rebentos de uma condescendência extrema.
Vemos frequentemente cenas destas. talvez não tão irritantes como a que descreves, mais tipo birra, mas com sucesso. E se calhar essa era um «birra sofisticada». O puto queria alguma coisa que o avô tentava 'trocar' por outra e ele assumia essa atitude.
A mim o que mais me dana é quando esses tipos minúsculos olham para nós como se fôssemos uns atrasados mentais e eles o supra sumo da inteligência. Uma arrogância que me deixa fula!
É o vulgar, Joaninha. O mais vulgar. Falarmos com um fedelho, e se nos diz uma qualquer coisa que não entendemos à primeira, trata-nos de uma forma malcriadíssima e 'superior' como se nós fôssemos uns palermas completos.
Aliás, se formos a ver bem, o anúncio até com alguma graça da TMN do puto que aconselha o pai e a mãe, afinal está nessa linha. A gente sorri, mas...
Mary, sorrimos no anúncio mas exactamente por, como disse a Emiéle, colocarem o mundo de pernas para o ar, e o puto usar a conversa e o tom que os adultos usam para as crianças. No caso de isso ser a norma, achas que tinha graça?...
Estas questões de educação são uma bola de neve - começa com uma coisa insignificante, que cria um precedente, que serve de razão a outra coisa que provoca mais uma é às tantas estamos submergidos em atitudes que não controlamos.
E o pior é que temos essa consciência, mas não travamos nada.
Acho a tua história perfeitamente paradigmática. é mesmo isso, não só se atascam os putos de prendas como até se pede que as aceitem!!!!
Nessa história parecia fácil, dizer: - «O que é que queres? Não queres nada? OK, toca a andar, vamos embora.»
E pronto.
seria o que me fariam se eu tivesse essa veleidade aos 7 anos!
Já que estamos a pensar nas atitudes certas e erradas, leiam este artigo
«Em nome da Criança
Dá para pensar, ou não?
Emiele li a crónica que referiste e realmente é mesmo verdade: como educar uma divindade?!
A prova disso está no triste episódio que presenciaste, nas atitudes de certos jovens que por aí temos lido e outras situações com que nos deparamos no dia-a-dia.
Falta o sentido da responsabilidade nos seres que de inofensivos actualmente já nada têm, pois rapidamente aprenderam as leis da negociação e da chantagem. Culpa deles? Não me parece. A consequência de novos tempos em que a necessidade de esquecer as dificuldades passadas em outros tempos deixou perder valores tão importantes.
Beijos
Estes são daqueles que chegam na segunda rodada e nem de propósito, pois acabei de ver o noticiário e passa hoje o 8º aniversário do massacre de "Columbaine".
Que estamos a fazer às nossa crianças?
Sim senhora gostei de ler o "Destak".
Estou completamente de acordo com as vossas reflexões e interrogações, pois são preocupações que, como avô, também tenho.
Só para emendar uma informação, não são oito mas sim nove anos.
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