quarta-feira, março 19, 2008

Decepção

Tinha lido no outro dia uma notícia espantosa. Quero eu dizer, espantosa não a notícia em si, mas a forma como era contada e a repercussão que tinha tido nas pessoas. E pensei logo uma série de coisas que comecei a rabiscar aqui.
Ontem, ao passar pela «Cabra de Serviço» reparo que a Teresa tinha agarrado a mesma história, e na mesma perspectiva. A história deveria reduzir-se a uma notícia pequena, meia dúzia de linhas: uma banda de música, com um concerto agendado, teve de adiar esse espectáculo devido a uma amigdalite do seu vocalista.
Chato.

Contudo o concerto "foi remarcado para o próximo dia 29 de Junho e os bilhetes serão válidos para esse espectáculo, a não ser que se pretenda a devolução do dinheiro".

Normal.

É fácil de imaginar, até porque todos nós já passámos por situações onde uma grande expectativa não se pôde realizar, a desilusão dos espectadores. Calcula-se que enorme, imagina-se que, como muitos deles eram adolescentes, aquilo lhes parecesse o fim do mundo, a maior desgraça possível. E isto porque é muito duro lidar com a frustração em todas as idades e quanto mais jovem mais difícil.
O acidente não devia valer mais do que uma notícia de jornal de algumas linhas.
Mas não. O que nos contam é que se assistiu a "um espectáculo deprimente com milhares de crianças a chorar e adolescentes a desmaiar em pleno recinto" o que já é demais. Mas, o que ainda é demais do demais [:D inventei agora este superlativo] é a reacção das mãezinhas que acompanharam as suas crias ao evento, e em vez de os ajudar a aceitar a frustração e ensinar a lição de que a vida por vezes tem desagradáveis surpresas, pelo contrário mostravam que tinham tanta dificuldade em lidar com a frustração como os seus filhos. “As crianças estão apavoradas, a chorar baba e ranho” declara uma delas, muitas outras afirmam que estão indignadas, em choque, insistindo em que algumas das crianças estavam ali desde há dois dias a marcar lugar!
Se assim foi está mal. Muito mal. Miúdos de 13 / 14 anos, a faltar às aulas, para assistir a um espectáculo, é um erro. Que eles o façam, é natural, estão “no seu papel” de adolescentes. Mas os acompanhantes, adultos, a colaborarem é que não.

Na minha opinião, aquela grande desilusão, que não nego que o tenha sido, era até uma excelente ocasião para um bom educador ter uma bela conversa com o seu filho e, partilhando o desencanto que o miúdo estava a sentir, fazer-lhe ver que era uma situação imprevisível (o vocalista não adoeceu porque quis) que se teria de aceitar e ainda tinha o consolo de não se perder tudo, apenas se adiava – porque ficavam com bilhetes para Junho.

Que situação pedagógica desaproveitada, porque os pais se mostraram tão imaturos e frustráveis como os seus filhos!!!

9 comentários:

josé palmeiro disse...

Sem entrar em grandes considerações, dado o lado obscuro de tudo o que, eu, também vi, direi que é com estes pais que a ministra quer avaliar os professores. Gente assim é fácil de arregimentar.
Desculpem ser tão mauzinho!

Anónimo disse...

Colocaste este post na categoria Educação, e ao princípio não estava a ver onde querias chegar. A gente tem a mania de ligar Educação a Ensino, o que também é... mas não só!
Mas afinal faz todo o sentido a tua chamada de atenção. Tinha também passado os olhos pela notícia e para ser franca, hesitei. Por um lado lembrei-me do histerismo que algumas bandas provocaram na malta, mas aqui não só é maltinha minúscula como, o que é estranho, é que os pais (mães!) se misturaram à dita histeria ainda 'batendo no ceguinho'. Pensando bem, a coisa não faz sentido.

Anónimo disse...

Exactamente.
Nem digo mais nada, que este post nem precisa!

Anónimo disse...

Palmeiro, olha que realmente há muitas Associações de Pais que 'estão do lado' da Ministra. Não sei se serão tão bons «educadores» como estes que ficam indignados por um vocalista adoecer, mas não me espanta.

Anónimo disse...

Tu pões o dedo na ferida de uma coisa que tenho reparado (não sei se por ser mais velho): a dificuldade com a gente mais nova tem de dominar a frustração. Imagino que, mães e pais de putos de 12/13 anos, estejam na casa dos 30, por onde eu já passei há algum tempo :D
E, a verdade é que cada vez se vive uma vida do «agora e já», aceitar que alguma coisa não vai ser como desejamos, é quase impossível.

Anónimo disse...

Venho já atrás, reforçar o que foi dito. Tenho observado muito isso, mesmo gente mais velha, não consegue aceitar uma espera. Então como é que hão-de ensinar o que os próprios não sabem?....

Anónimo disse...

Giro, o boneco que juntaste ser de uma manga qualquer japonesa. É esse o espírito.

Anónimo disse...

A decepção, como lhe chamaste, é sempre tristíssimo. Eu até entendo muito bem a reação dos putos. Querem lá saber se o cantor tem dor de garganta! Foram ali para os ouvir, com sacrifício e tudo e agora nada!...
(Claro que desmaios e essa cena toda é um tanto demais...)
Mas como vocês disseram, o cómico é as mamãs mais histéricas do que os filhos!

Anónimo disse...

Já disse no blog da Teresa, para onde fui muito bem mandada por ti (tenho que a adicionar ao bloglines, gosto do que ela escreve) que eu não li essa notícia dessa forma de mães histéricas. Pareceu-me que aquela mãe estaria a achar deprimente os miúdos estarem lá desde há dois dias e se porem a desmaiar. Quanto a desatar tudo num pranto, são adolescentes, miúdas, hormonas todas baralhadas, chora uma, choram duzentas mil. :D A única coisa que me parece lamentável é os pais deixarem os miúdos acampar à porta de um concerto, isso sim.
Mas também eu não dou crédito nenhum a esse jornal, a verdade é essa, acho essa notícia puxadíssima pelos cabelos. Na volta, desmaiou um puto qualquer por causa de estar apertado e choraram dez ou vinte.

beijinhos!