domingo, fevereiro 03, 2008

Um Caderno de Capa Castanha XXII– Carnaval – Domingo Gordo


Bem, estou à espera da continuação, do Carnaval de menina…

«E eu vou contar:
Como te disse, por um lado vestíamo-nos a preceito para ir a casa dos amigos e para ir brincar para os jardins públicos com outros meninos, mas o mais importante eram umas matinés que os cinemas ou teatros faziam para crianças durante estes dias – sábado, domingo, segunda e terça.
A história que se ia ver não interessava lá muito porque o que era importante eram os intervalos. E nesses dias havia imensos intervalos! Não te sei agora dizer, mas creio bem que num filme de uma hora e meia, faziam aí uns 5 intervalos – de 15 em 15 minutos abriam as luzes para se brincar.

As brincadeiras eram sobretudo umas batalhas quer de serpentinas que se atiravam o mais longe possível fazendo uma teia imensa naquelas plateias e balcões, os papelinhos e sobretudo os saquinhos.
Esses saquinhos eram feitos em casa, aproveitava-se para isso, uns restinhos de tecido que sobrassem de outras costuras, porque bastavam uns 10 cm para se fazer um saquinho, e recheava-se de serradura. Imaginas a variedade de colorido que daí saía… Quando eram só de serradura, mesmo apanhando com um em cheio não magoava muito, mas algumas almas mais maldosas punham-lhe não sei se arroz, (?) fosse o que fosse já aleijava. Aí perdia a graça, mas não havia muitos desses maus, até porque depois podiam apanhar com ele de volta! Mas essas tardes com batalhas de saquinhos, serpentinas, papelinhos e… bisnagas, eram memoráveis! O Carnaval em pleno.
Também muitas vezes, havia umas
organizações que chamavam ao palco os meninos mascarados e davam prémios – o mais original, ou o mais rigoroso, ou o mais luxuoso, ou o mais trapalhão, já nem sei bem. E, para além dos prémios dos vencedores das diversas categorias, todos os que subiam ao palco traziam uma lembrança de consolação, uns rebuçados, uns bonecos de estampar. Claro que os vencedores vinham todos inchados, eles e os papás que tinham investido na fatiota. Hoje, acho um tanto deseducativo, essa espécie de competição infantil, mas na época ficava toda empolgada torcendo por que ganhassem aqueles que eu achava mais bonitos.
E nem sempre assim era, que o meu gosto não devia ser lá grande coisa…

Clara

7 comentários:

Anónimo disse...

Este pst completa realmente o de há 8 dias. E justifica-se bem o ir para o Era uma vez... porque estas festas em cinemas e teatros já não há. Hoje os cinemas sujam-se de pipocas mas não de serpentinas!
Também entrei nesses 'concursos' de meninos mascarados, com muita vergonha e por insistência da família. Nunca ganhei nada, é claro, mas havia prémios de consolação para todos. Como aqui dizes não era tanto a fatiota que era importante mas a bagunçada de atirar serpentinas e os tais saquinhos, que às vezes aleijavam. E as bisnagas! As lutas com pistolas de água eram inesquecíveis.

josé palmeiro disse...

Bom lembrar e dar a conhecer coisas que nunca mais voltam e esta é uma delas. Sinto-me muito no espíriti evidenciado pela "CLARA". O que eu gostava mesmo era de ir para casa do meu tio Prudêncio e com os meus primos, João Armando e a Maria Felismina, irmos àquelas malas, onde a tia Flôr, guardava os fatos das suas avós, e remexermos tudo à procura do melhor disfarce. Esse sim era nosso carnaval!
Depois, na província, a realidade era outra e as brincadeiras, se bem que semelhantes, tinham as suas diferenças.

Anónimo disse...

Que memórias...
Tal como o Palmeiro, a gente aproveitava muito do que havia para servir de fato de Carnaval. Depois a mãe ou avó lá costurava qualquer coisinha para completar a toilette. Mas era uma grande paródia que transbordava dos 3 ou 4 dias da praxe. Realmente em Lisboa ainda é um pouco do meu tempo - apesar de os primos mais velhos é que contavam bem como era - essas cowboiadas nos cinemas que faziam imensos intervalos só para a brincadeira.

Anónimo disse...

Aquela ciganinha deve ser a entrevistada, não?
:D
Muito compenetrada!

Anónimo disse...

Mais um para a colecção.
Aqui estas «memórias» já quase davam um livro. (quanto ao Carnaval, fica por aqui ou ainda vem os bailes de adolescência...? a AB tinha dado um lamiré)

Anónimo disse...

Tem de ser Mary. Aquilo é foto da época, vê-se a olho nu. Não por ser a preto e branco, a composição é que é tudo. E a miúda fazia uma pose daquelas... :)))

cereja disse...

Olá!!
Pois é, talvez ainda arranje tema para uma terceira parte ainda sobre o Carnaval, mas já na adolescência...
De resto a menina ciganita é de facto dessa época. Encontrei outra, até talvez mais gira, (estava mais risonha) mas esta tinha mais «ar».