O “antes” e o “agora”
Este fim-de-semana li no Sol uma entrevista a António Arnault, o homem em grande medida responsável de que se tivesse criado um Serviço Nacional de Saúde em Portugal.
É completamente compreensível a desilusão que ele ali demonstra.
Foi um sonho que teve, eleimaginou acreditou quando as bases foram lançadas que, exactamente 30 anos depois, os problemas iniciais estariam resolvidos. Nunca, nessa altura, lhe teria passado pela cabeça, que inversamente ao que imaginara, o edifício estivesse agora a desmoronar-se.
Contudo, a entrevista é muito interessante porque apesar desse desconsolo, o Arnault relembra-nos como era a Saúde ANTES.
Lembra que antes de Abril, muitas das pessoas que viviam em aldeias, só chamavam o médico quando estavam a morrer.
Diz que só havia maternidades em Coimbra, Porto e Lisboa, segundo parece 90% dos partos eram feitos em casa e 30 em cada mil crianças morriam durante o parto, enquanto agora são menos de três em cada mil. (a mortalidade infantil é um importante índice: na época era seis vezes superior à actual, onde é até melhor do que a média europeia!)
Diz que só havia hospitais em Lisboa, Porto e Coimbra, mais de 80 por cento de todos os recursos humanos e técnicos concentravam-se no litoral, enquanto no interior, as pessoas apenas tinham o apoio das Misericórdias.
Diz que os mais ricos pagavam a totalidade dos tratamentos, os outros pagavam em função dos rendimentos e só os pobres não pagavam desde que tivessem um atestado de pobreza.
Em 1971 criaram-se os primeiros Centros de Saúde.
Isto de «um regresso ao passado» é interessante para ver a autêntica montanha russa onde se tem andado: desde o «antes» onde, como se viu, o grosso da população não tinha respostas adequadas e apenas quem tinha dinheiro e vivia perto do litoral podia recorrer aos cuidados de saúde, à tentativa de cobertura de 90% da população quando se criou o SNS, e ao sucessivo apertar da resposta pública com o reforço da resposta privada e dos seguros de saúde e... «hoje o SNS cobre na prática só 70 por cento da população» diz António Arnault.
Estamos bem melhor do que já estivemos, sem dúvida, mas pior do que os planos de 79 e a grande distância do sonho de António Arnault.
É completamente compreensível a desilusão que ele ali demonstra.
Foi um sonho que teve, ele
Contudo, a entrevista é muito interessante porque apesar desse desconsolo, o Arnault relembra-nos como era a Saúde ANTES.
Lembra que antes de Abril, muitas das pessoas que viviam em aldeias, só chamavam o médico quando estavam a morrer.
Diz que só havia maternidades em Coimbra, Porto e Lisboa, segundo parece 90% dos partos eram feitos em casa e 30 em cada mil crianças morriam durante o parto, enquanto agora são menos de três em cada mil. (a mortalidade infantil é um importante índice: na época era seis vezes superior à actual, onde é até melhor do que a média europeia!)
Diz que só havia hospitais em Lisboa, Porto e Coimbra, mais de 80 por cento de todos os recursos humanos e técnicos concentravam-se no litoral, enquanto no interior, as pessoas apenas tinham o apoio das Misericórdias.
Diz que os mais ricos pagavam a totalidade dos tratamentos, os outros pagavam em função dos rendimentos e só os pobres não pagavam desde que tivessem um atestado de pobreza.
Em 1971 criaram-se os primeiros Centros de Saúde.
Isto de «um regresso ao passado» é interessante para ver a autêntica montanha russa onde se tem andado: desde o «antes» onde, como se viu, o grosso da população não tinha respostas adequadas e apenas quem tinha dinheiro e vivia perto do litoral podia recorrer aos cuidados de saúde, à tentativa de cobertura de 90% da população quando se criou o SNS, e ao sucessivo apertar da resposta pública com o reforço da resposta privada e dos seguros de saúde e... «hoje o SNS cobre na prática só 70 por cento da população» diz António Arnault.
Estamos bem melhor do que já estivemos, sem dúvida, mas pior do que os planos de 79 e a grande distância do sonho de António Arnault.
6 comentários:
OK!
Num certo sentido, e ao arrepio do que dizes logo aqui abaixo (pelo menos do que eu disse!) aqui a comparação pode dar um certo ânimo. Temos andado vários passos atrás, mas andamos também muito para a frente.
Aliás, nesse campo da mortalidade infantil, podemos estar mais animados (e contudo continuo com uma dúvida: como é que isso se passa, e não duvido que o seja, com a falta de pediatras que temos?)
Não sei se se chamavam «atestados de pobreza» mas era ou é mesmo assim. E creio que quem os passava eram as Juntas de Freguesia.
Não li a entrevista do António Arnauld, mas vi-o há semanas na TV, num registo similar. Quem, como eu e os da minha idade, vivemos estas mudanças todas, desde os médicos à periferia, a primeira vez em que havia médicos para toda a gente e em que se criaram ligações sentimentais para toda a vida. Hoje nada disso existe, cá estão os passos atrás, e não sei onde vamos chegar. Espero que a factura não seja para todos nós pagarmos.
Quanto aos atestados de pobreza, eram passados nas Juntas e era e é, se não estou em erro, ainda hoje.
É das tais coisas, não nos consola lá muito, mas temos de concordar que realmente «dantes» era bem pior!
O que nos desespera são os passos atrás, é o comparar com o que já foi e sobretudo com o que podia ser...
Uma nota- já tenho falado com quem sabe mais do que eu, e realmente essa coisa da mortalidade infantil é das poucas de que nos podemos orgulhar. Foi uma diferença completamente radical, de entre os piores da Europa, para ficarmos entre os melhores da Europa. Pena que isso não se veja noutras áreas...
Se não tivessemos melhorado nada,então caramba!Os tempos também vão passando,as coisas vão evoluindo e imaginem,também já não se vê gente descalça....Não sei se estas comparções são prudentes.AB
eu fico mesmo má quando alguém me diz, a propósito de alguma coisa "dantes é que era bom"!!
é que não era nada!
essas pessoas normalmente têm saudades é de serem novos e não dos tempos em que se vivia.
as condições de vida t~em vindo sempre a melhorar, e ainda bem!
claro que às vezes há esta sensação de que estamos a andar para trás, que não é nada boa!!
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