terça-feira, fevereiro 26, 2008

Muitos a mandar

Demasiados.
Um acidente com péssimas consequências (a morte de dois turistas alemães numa falésia algarvia) vem chamar a atenção para um defeito de que sofremos em diversos sectores: quando há demasiadas entidades a mandar a responsabilidade é uma bolinha de pingue-pongue, salta de um lado para o outro sem ser assumida por ninguém.

Este caso é paradigmático.
Existe uma falésia (ou muitas até, pelos vistos) que é perigosa para os visitantes.

Mas…

Não é a autarquia onde se situa esse local que manda ali. Parece que aquela zona depende do Instituto do Património Arquitectónico, Parque Natural da Costa Vicentina e Sudoeste Alentejano e Capitania do Porto de Portimão
A pessoa que foi entrevistada afirma que essas entidades "não têm a noção da realidade nem dialogam com a autarquia, sendo apenas meros emissores de pareceres através de ofícios".
Acredito.
Não faço a menor ideia do que se passa ou passou neste caso, mas conheço o modelo, infelizmente. Quando há muitas colheres a mexer no mesmo tacho muitas vezes a comida esturra-se. E é muito complicado definir claramente as diferentes “coutadas”: o poder é muito atractivo, mas as definições de onde começam e acabam os diversos territórios são
quase sempre muitas vezes indefinidas.
Tenho assistido na minha vida profissional a verdadeiras «peixeiradas» entre pessoas supostamente controladas e educadas porque imaginam que colegas seus lhes estão a entrar nas suas competências.

Assim não vamos lá! Enquanto as tais competências (serão?) estiverem demasiado divididas, também as soluções ficam compartimentadas, e a responsabilidade pelos erros é muito difícil de atribuir.
E isso verifica-se por todo o lado, e a todos os níveis – este caso foi apenas mais visível porque aparatoso e porque meteu turistas o que, naturalmente, é péssimo para a imagem que gostaríamos de transmitir.


6 comentários:

méri disse...

Há quanto tempo não via este reizinho.
Há muitos, muitos anos aparecia no Primeiro de Janeiro! (a preto e branco, claro!)

Anónimo disse...

Estou como a Méri - fez-se saudades o boneco, mas não pode estar mais apropriado. Há demasiados reizinhos...
Na minha áea de trabalho também há tantos «poderes» sobrepostos que a coisa chega a paralizar por não se saber a quem compete fazer o quê!

Este caso é tão mediático que decerto ai provocar mais ondas do que se fosse um pescador que andava à ameijoa...

josé palmeiro disse...

Infelismente, apesar dos contínuos desaires que têm acontecido, essa interminável cadeia hierarquica, continua a existir e a culpa é sempre do outro. Não podemos, também, deixar de dizer que os turistas em causa, eram pessoas experimentadas a lidar com o perigo, pois eram elementos de tropas especiais alemãs, que perante os avisos, insistiram, na perspectiva da melhor foto. Mas lá que é triste, isso é e o governo se quer poupar, deve acabar com essas capelinhas e entregar a gestão desses casos a quem convive com ele todos os dias, as autarquias, o elo mais fraco e onde tudo vai desaguar. Por isso deveria dotá-las dos meios necessários e suficientes, para arcarem com essa responsabilidade, sabendo que elas, porque no terreno, estão mais aptas e sensibilizadas para as cumprir.

Anónimo disse...

As tais colheres a mexer no mesmo tacho (a imagem é inocente, Emiéle?...é que 'tacho'...)podem começar é a andar à batatada como a colher - espera aí, aquilo era uma pá! - da Padeira de Aljubarrota...

josé palmeiro disse...

Sobre o "poder", se tiverem paciência, passem pela "sesta", que trás uma reflexão sobre o problema.

Anónimo disse...

(já lá vou, Zé; nem sempre deixo ficar nada escrito que me atrapalho com aqueles números...)

Estas conversas sobre o Poder são curiosas. Temos sempre em vista o GRANDE PODER, o tal poder político, mas esse é sem dúvida o mais grave, mas o que nos vai moendo o dia a dia é o poderzinho dos quadros intermédios. Os tais vices-reis, o assistente do patrão, o nosso chefe imediato. Aí é que se vê muitas vezes coisas bem mesquinhas, e lutas idiotas mas que nos chateiam, pela posse de uma secretária ou quem deve falar em primeiro lugar!
Todos gostam do poder nem que seja «à sua maneira» pequenina e mediocre.