«Conta-me como foi»
Ontem o episódio da série «Conta-me como foi» parece ter sido escolhido de propósito.
Já aqui falei muitas vezes dessa série que tem sido de aplaudir. Teve um intervalo mas quando recomeçou foi nos mesmos moldes e num horário muito razoável. Sendo uma obra de ficção, pretende ser ‘leve’, basta a história ser contada na primeira pessoa por uma criança de 8 anos, traquina e ingénua, para se prestar a cenas engraçadas e de brincadeira. Em todos os episódios há o cuidado de introduzir uma cena de humor.
Mas impressionou-me que ontem se falasse do caso do filho mais velho da família protagonista, que sendo estudante de direito, através da namorada começa a tomar consciência das actividades de contestação que se passam na Academia e a ficar cada vez mais envolvido nessa contestação.
A namorada, filha de gente de importância no regime, é rapariga decidida e informada, e ‘arrasta-o’ a ir levar uns comunicados a uma assembleia de estudantes em Coimbra, só que no caminho são interceptados pela PIDE e presos. Como a série é “leve” apesar de rigorosa, neste caso o pai da moça interfere com um telefonema ao ministro ela é solta rapidamente e, por insistência dela junto do pai, também se consegue que o jovem saia ao fim de 48 horas. Ficou com um enorme susto e uma lição inesquecível pelo que se observa da sua expressão nas últimas imagens que se viram.
Mas quando comecei por dizer que o ter ido para o ar exactamente ontem foi uma coincidência, é que hoje, 21 de Janeiro, faz 43 anos que se deu uma das maiores rusgas e detenções no meio universitário.
A 21 de Janeiro de 1965 foram presos dezenas de estudantes, desde jovens quase finalistas e miúdos dos liceus, sob a acusação de que estavam a pôr em perigo a Segurança do Estado. Não saíram ao fim de 48 horas como no «Conta-me como foi». Estiveram em diversas cadeias durante muito tempo. Sofreram interrogatórios duríssimos. Estiveram sem dormir, sem verem a família, incomunicáveis, muito tempo.
Faz hoje anos.
E há ainda quem não o esqueça. É bom não ser esquecido.
Já aqui falei muitas vezes dessa série que tem sido de aplaudir. Teve um intervalo mas quando recomeçou foi nos mesmos moldes e num horário muito razoável. Sendo uma obra de ficção, pretende ser ‘leve’, basta a história ser contada na primeira pessoa por uma criança de 8 anos, traquina e ingénua, para se prestar a cenas engraçadas e de brincadeira. Em todos os episódios há o cuidado de introduzir uma cena de humor.
Mas impressionou-me que ontem se falasse do caso do filho mais velho da família protagonista, que sendo estudante de direito, através da namorada começa a tomar consciência das actividades de contestação que se passam na Academia e a ficar cada vez mais envolvido nessa contestação.
A namorada, filha de gente de importância no regime, é rapariga decidida e informada, e ‘arrasta-o’ a ir levar uns comunicados a uma assembleia de estudantes em Coimbra, só que no caminho são interceptados pela PIDE e presos. Como a série é “leve” apesar de rigorosa, neste caso o pai da moça interfere com um telefonema ao ministro ela é solta rapidamente e, por insistência dela junto do pai, também se consegue que o jovem saia ao fim de 48 horas. Ficou com um enorme susto e uma lição inesquecível pelo que se observa da sua expressão nas últimas imagens que se viram.
Mas quando comecei por dizer que o ter ido para o ar exactamente ontem foi uma coincidência, é que hoje, 21 de Janeiro, faz 43 anos que se deu uma das maiores rusgas e detenções no meio universitário.
A 21 de Janeiro de 1965 foram presos dezenas de estudantes, desde jovens quase finalistas e miúdos dos liceus, sob a acusação de que estavam a pôr em perigo a Segurança do Estado. Não saíram ao fim de 48 horas como no «Conta-me como foi». Estiveram em diversas cadeias durante muito tempo. Sofreram interrogatórios duríssimos. Estiveram sem dormir, sem verem a família, incomunicáveis, muito tempo.
Faz hoje anos.
E há ainda quem não o esqueça. É bom não ser esquecido.
14 comentários:
Esquecemos demasiada coisa, Emiele. Mas tens razão: a série é engraçada.
Boa semana.
É muito interessante, sim senhor! E a receita foi muito habilidosa, porque tem graduado coisas simplesmente giras como o festival da canção, ou o uso do bikini, com outras muito meis sérias como o que se passou nos dois últimos episódios. Penso mesmo que o tom está a "aquecer" gradualmente, de coisas mais frívolas para outras muito sérias. Contudo, mesmo ontem, apesar de o tom do episódio ser dramático com os pais desesperados a pensarem no filho a sofrer na prisão, teve o intermezo cómico do Carlitos a imaginar o rapto da Gertrudes Tomás para a trocar pelo irmão.
Essa prisão de 65 está esquecida. A gente lembra 62, e lembra 68, mas o que tu falas foi mais «político», e está mais nas brumas do tempo. Tive de procurar relembrar isso, que confesso nem me lembrava...
Eu lembro-me, King.
Muitos desses estudantes presos são hoje, ou já o foram, pessoas com responsabilidades. E afinal...
(Claro que nem todos, nem todos!!!!)
Mary, o teu comentário é duro, mas infelizmente verdadeiro. aquilo que se defende na juventude nem sempre se mantem ao longo da vida. E a verdade é que segundo o velho conceito «o poder corrompe» e isso vai-se verificando...
Por outro lado, nessa altura havia muitíssimo menos universitários, portanto os que se distinguiam de algum modo, eram os que tinham mais capacidades de liderança ou qualquer outro aspecto. É normal que mais tarde se distinguissem...
Claro que nem sempre pelos melhores motivos. mas isso não desmerece que há 40 anos tivessem sofrido e muito.
Conheço alguns.
Estava ainda no Alentejo, fazia dezanove anos e já estava, com as malas feitas para a capital, escapei-me, mas depois, na de 68, fui não para Caxias, mas para Mafra, juntamente com muitos que também hoje, têm grandes responsabilidades, mas esqueceram tudo por que lutaram, um deles é o Alberto Martins, que era do meu pelotão em Mafra e hoje um socrático convicto. Eu talvez porque nunca esqueci as minhas origens, as milhas dificuldades, as minhas convicções, por aqui continuo, apesar dos sessenta e dois, que hoje completo, lutando qual D. Quixote, contra os castelos de vento.
Ontem, não vi a série, fui ao cinema ver o filme "Mandela: Meu Prisioneiro, Meu Amigo", nem de propósito.
Primeiro que tudo há que felicitar o Palmeiro.Idadezinha respeitável,etc,etc,Parabéns Zé Palmeiro.
Depois não tenho cá vindo,os astros não têm estado em conjuntura favoravel e eu gosto de partilhar boas disposições.Mas,olhando para os últimos posts e, a partir sobretudo lá mais de baixo, dos livros,dá para reflectir, que quási tudo o que aqui se tem escrito é sobre "heranças" sejam elas de afectos,de objectos,de vivencia,e até o olhar que temos agora, reflecte heranças várias,vindas de vários quadrantes,sociais, politicos familiares.Claro que não é nenhuma descoberta assombrosa mas, nesta pressa, que é um bocadinho inimiga da reflexão, com que assinalamos que passamos por aqui, nem sempre nos apercebemos que não falamos só do que dizemos em meia dúzia de linhas.E "que farei eu com esta herança"?È capaz de ser tarde para perguntar, mas se mudarmos o tempo do verbo,ou seja,"que fiz eu com ela"que fizemos nós todos com as nossas heranças de vida ...E por aqui me fico.AB
Isto é galo, vir depois da AB! Mais um bocadinho - ou se tivesse começado por cima - vinha antes dela e o que escrevesse não tinha importância, mas assim aquilo que disser fica muito chocho (e por isso não digo nada, pronto!)
Bem, mas os parabéns aqui ao Tio Zé, tenho de os deixar! Que contes muitos mais, e com o espírito interventivo de que dás mostras!
é uma série fantástica e os meus filhos, por exemplo, ficam admirados com algumas coisas que aconteciam naquela altura.
Apesar de, como tu dizes, ser bastante "leve" cumpre bem os objectivos!
Parabéns Zé!!
OK, OK, o que escrevi era a brincar (menos os parabéns). Realmente a reflexão da AB sobre o significado das "heranças" é coisa para pensar e portanto sobre isso nem digo nada, fico mas é a pensar como deve ser :D
Contudo a série de que falas, se não tenho visto todos os episódios, tenho-a seguido. Por acaso ontem fui apanhado de surpresa porque não tinha visto o outro e não sabia da prisão do Toni... A minha ideia é que nem sempre as coisas eram assim tão relativamente fáceis, mesmo que os pais fossem gente importante. Depois de terem sido presos não eram soltos em 48 horas, é o que me dizem os meus pais. Mas como é uma série permitem-se certas liberdades, imagino.
este comentário andou para aqui em bolandas, foi escrito, apagado, apareceu com outro nome, reescrito, e vamos ver agora como é que sai; a net tem manias...
(pois foi Raphael, passaram-se umas coisas estranhas, o teu comentário apareceu com o meu nome (?), mas já está tudo bem)
Primeiro - Parabéns Zé. Um grande abraço!!! (dúvida, és o último capricórnio ou o primeiro aquário...?)
Segundo - é claro que este tema tem pano para mangas... Por um lado as tais heranças e memórias de que fala a AB. Eu tenho andado muito por essas bandas. Não tenho melhor nem pior memória do que os outros, mas a minha é um tanto selectiva, e isso não me incomoda, pelo contrário. Realmente a "herança" dos livros e até de toda a casa, com tanto objecto significativo, foi muito pesado para mim. Ainda estou um tanto abalada. Se pudesse tinha ficado com tanta, tanta coisa dali...e devo dizer logo que assim que eu mostrava interesse fosse por que fosse a minha prima mo oferecia logo! Mas a verdade é que a nossa família tem características muitíssimo marcadas, e essa herança até a reivindico!
Quanto às memórias evocadas a 21 de Janeiro, são de outra qualidade. Não de família mas sociais. e em grande medida aparecem retratadas na série e por isso a tenho 'publicitado'...
A memória das pessoas é naturalmente curta e especialmente selectiva para factos desagradáveis. Se recordar não for viver pode pelo menos ser um modo de aprender algo ou um modo de evitar que males se repitam.
Mas Rui, neste caso temos duas recordações podemos dizer. Aquela a que a série faz referência, a existência de uma polícia política que impedia a expressão da liberdade de pensamento, e é uma má recordação. Mas eu relembrei aqui também a prisão daquelas dezenas de estudantes, fez hoje 43 anos, e essa é uma boa memória. Porque se resistiu, porque hoje se podem reunir e sentirem-se contentes por estarem juntos e apesar das diferenças dos caminhos percorridos, há um fio de amizade que não se partiu.
Obrigada por teres passado por aqui e deixado a tua opinião :D
Volto, como é meu dever, para agradecer as manifestações de que fui alvo. Obrigado a todos.
Uma resposta à Emiéle: Sou Aquariano, pois começa a 20 de Janeiro e eu nasci a 21, segundo a minha mãe, às 17h30.
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