quinta-feira, janeiro 17, 2008

A Charia e o terceiro milénio

Comecei por escrever sobre esta história, a brincar com ela.
Depois apaguei tudo e estou a recomeçar. Mas ainda não sei bem em que ‘registo’ escrever porque tem facetas indiscutivelmente cómicas sobre uma base séria muito séria.
Sabemos que nos países islâmicos não há separação entre a religião e o direito. As leis são religiosas e baseadas ou nas escrituras sagradas ou nas opiniões de líderes religiosos, é a tal Charia. É natural que isso hoje em dia nos choque. (Digo ‘hoje em dia’ porque quem estudou História lembra-se que os reis só o eram com concordância do Papa, para não falar na Inquisição onde as águas estavam bem baralhadas)
Uma das leis da Charia diz que para uma pessoa se divorciar basta dizer três vezes em público: eu divorcio-me de ti.
Fácil e rápido. Até penso que se o ocidente adoptasse esse uso, deviam aumentar bastante os casamentos porque de cada vez que um casal discutisse saltavam montes de divórcios e seria necessário voltar a casar na semana seguinte…
E agora, pelos vistos, essa formalidade do «divorcio-me de ti» até pode ser por SMS!
Uma senhora egípcia, recebeu 3 SMS com essa declaração e está na dúvida se ficou divorciada ou não
E agora?
Este jogo das mais modernas tecnologias com as tradições mais arcaicas faz impressão. Se… quem mandou a mensagem não fosse o marido? Se… ela tivesse trocado de telemóvel? Se… a mensagem se tivesse perdido?
E uma SMS é pública? Por ir através de operadores?
Tantas dúvidas.
Mas a verdade é que para esta senhora ter levado isto a sério é porque lhe deve estar a apetecer consumar este divórcio.
Eu cá, se o meu marido me tratasse assim, era logo para responder «obrigadinha, e desaparece



20 comentários:

Anónimo disse...

ahahhahahaha não sabia dessa. Mas é demais! Tem, pelo menos, esta parte cómica. E ela, se dissesse 3 vezes ao marido "divorcio-me de ti!" ficaria igualmente desfeito o casamento ou seria apedrejada até à morte?!

Anónimo disse...

O Miguel coloca uma pergunta tão pertinente que até dói.Tenho uma enorme dificuldade neste momento em levar com humor ou mesmo com um sorriso o anedotário sobre o mundo islamico.Há uma guerra que se mete pelas costuras de tão insidiosa.Apesar desentir a agonia de uma Europa que "baila"entre tratado e tratado não gostaria de perder a minha, "nossa", maneira de viver.È disso que se trata.AB

Anónimo disse...

Estava na cara que nestes casos a mulher e o marido não podiam ter os mesmos direitos. Fui ver o que se dizia do divórcio:
Le mari peut divorcer de sa femme quand il veut. Si le mariage a été consommé, son ex-conjointe ne doit pas quitter le domicile conjugal durant trois mois. Le mari peut revenir sur sa décision durant ces trois mois en ayant des relations sexuelles avec son ex-conjointe. Si la femme est enceinte, l’ex-conjointe ne doit pas quitter le domicile conjugal jusqu’à ce qu’elle accouche. À l’expiration de ce délai, le couple est officiellement séparé[37].
La femme qui désire que son mari la divorce (Khul) doit avoir l’approbation de son mari, si approbation il y a, la femme doit rembourser la dot payée par le mari.
Sous certaines conditions (femmes battues, mari non pratiquant ou grand pécheur etc.), la femme peut demander au juge de déclarer le divorce entre le couple.
Si un homme divorce de sa femme trois fois, il ne peut plus se marier avec elle sauf si elle se remarie avec un autre homme puis divorce.


Cá está.
Mas esta de um tipo "aproveitar" as modernices de um telemóvel para exercer um costume tão arcaico do nosso ponto de vista é impressionante. Contudo, pela notícia, ela é uma mulher moderna, é uma engenheira, que deve ter alguma autonomia pelo que se lê, e sabe dirigir-se aos tribunais. Nesta caso, como dás a entender a senhora deve ter ficado a ganhar com o divórcio.

Anónimo disse...

Ena, a Joaninha foi à Wikipédia, é claro.
Se há sítio onde as desigualdades são gritantes é nos países fundamentalistas islâmicos. Mas fizeste bem na ferroadazinha, de lembrar que afinal muitas vezes é uma questão de época, também os cristãos estiveram submetidos à Igreja durante muito tempo. Até se pôs em questão se a mulher teria alma, não foi?...

Este caso, como dizes, roça pelo humor: divórcio por SMS???? E é legal? Como se prova...?

Anónimo disse...

Tiveste graça em imaginar o absurdo de uma situação dessas na sociedade actual europeia. Realmente como sugeres isso ia aumentar era a taxa de casamentos, porque se estaria sempre a dar o dito por não dito.

Anónimo disse...

Entendo o que diz a AB. Por vezes pode parecer de mau gosto certas graças, mas se não nos pudermos rir de tudo voltam a ter razão os críticos das caricaturas do Mahomé.

-pirata-vermelho- disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
-pirata-vermelho- disse...

E...
porque é que leio aqui uma difusa animosidade em relação 'ao homem', uma espécie de misoginia inversa?

eMe-a-eMe disse...

fantástico.
mas...eu no outro dia queria apagar umas sms do meu telemóvel e em vez disso voltei a enviá-as; é o que faz a pressa.
isto das novas tecnologias tem muito que se lhe diga.

Anónimo disse...

A história das caricaturas é mais uma.E claro que se pode rir. E ainda bem que se consegue rir.Aliás o que temo é não poder rir quando me apetecer.AB

Anónimo disse...

??? «difusa animosidade», Pirata?
Faz uma ginástica mental, vai ler a Charia, e imagina-te a viver numa terra dessas. Que género preferias ser? e porquê?

josé palmeiro disse...

Tem toda a razão o Miguel. Ainda ontem assinei uma petição da Amnistia, para acabar com as lapidações no Irão.
O que as religiões fazem às pessoas!
Vivam as uniões de facto!
Não ao casamento!

Anónimo disse...

Essa das tecnologias...!
Olha M&M, há uns tempos enviei uma mensagem de resposta a outra. Não pensei mais no caso. Meia hora depois recebo um 'telefonema de voz' da pessoa a quem tinha respondido a pedir fosse ver o que se passava que de minuto a minuto recebia a mesma mensagem. Acabei por desligar o telemóvel e voltar a ligar. No final do mês veio a conta (tenho assinatura): tinha enviado trinta e tal vezes a mesma mensagem!!!

Anónimo disse...

ab, penso que uma tentativa de alteração do nosso modo de vida levará inevitavelmente a uma de duas situações: revolução e/ou guerra.

Anónimo disse...

A bem dizer, o meu caso não foi muito diferente...

susana disse...

isso daria um jeitão! bom costume a doptar, ´so te digo - desde que paritário...

cereja disse...

Caramba!!! Nunca pensei que este post recebesse tantos comentários...
(Olá Susana!!! Sejas bem aparecida! Ao tempo que não davas aqui um saltinho)
Bom, numa certa medida, entendo a AB, por isso comecei por dizer que escrevi inicialmente isto de uma forma irónica e depois o re-escrevi. Porque o tema é delicado. Mas naturalmente que temos sempre tendência para nos projectar nestas situações e imaginar que «se fosse cá» a confusão que não era. Como disseram a Ciranda e a Susana, uma divórcio tão fácil (se fosse de parte e parte) era uma tentação. Foi por isso que no texto do post acrescentei que devia depois haver mais casamentos, imagino que muita gente se arrependesse de um divórcio tão vertiginoso!
Por outro lado o Miguel está cheio de razão, uma mudança de alteração do nosso modo de vida era bem perigoso.

Anónimo disse...

Miguel, a guerra já existe.AB

saltapocinhas disse...

se cá fosse assim, que aconteceria aos advogados???
Taditos!!

cereja disse...

Que compaixão, saltapocinhas....
:)))