quinta-feira, dezembro 20, 2007

Na paragem

Quando se viaja bastante em transporte público, vamos descobrindo até que ponto Lisboa não é essa cidade de completos estranhos que muitas vezes nos parece.
A paragem onde costumo apanhar o meu autocarro, muitas vezes dá a ideia que estamos na província.
Primeiro, há o hábito de quem chega cumprimentar que já lá está. Bom Dia! Ou Boa Tarde! Quase sempre seguido de um comentário Mas que tempo… ou Faz cá um frio… o que frequentemente é a deixa para o resto da conversa.

Ontem, quando cheguei à paragem já havia lá umas tantas pessoas.
Encostei-me ao lado, que o abrigo já estava cheio, mas logo abriram um espaço «Chegue-se p’ráqui… chegue-se p’ráqui, que aí faz muito vento». Agradeci, como é natural, e comentei pelo meu lado que estava muito frio.
Estava mesmo! Um gelo!

-Ah, mas já disseram que vai chover.

-Oxalá, quando começa a chover a temperatura sobe um pouco.
-É. A gente não gosta da chuva, mas faz falta.

-Atchim!!

-Santinha. Agasalhe-se.

-Pois é. O meu marido está com gripe e estou a ver que também fico.
-Elas andam aí. Lá na minha casa já todos tivemos.
-Mas o céu está muito escuro. Já viu? Isso vem aí chuva.

-Ai, ai… e eu que não trouxe chapéu!!!
-Eu ando sempre com um. Destes pequeninos.
-Se começa a chover, compro um qualquer, desses dos 300.
-Esses não duram nada … mas os outros também não! (risos gerais)
-Agora quando se estragam é deitar fora. Já não há lojas para concertar as varetas.

-Ainda se vêem algumas, mas o preço é o de um novo.

-Agora é tudo assim. Olhem, lá vem o 30!!

-Não me serve, mas boa viagem!
Lá subiram uns tantos e a tertúlia continuou. Não há como uma paragem para se socializar…

8 comentários:

Anónimo disse...

:)))
Post bem engraçado.
Mas, na minha perspectiva, se por Lisboa há também tanta gente que fala assim com desconhecidos, pode ser visto como alguma solidão. A necessidade de falar sem no dia a dia ter possibilidade faz que se fale seja com quem fôr.

Anónimo disse...

Tchiiii!
Faltam umas tantas vírgulas.
Desculpem lá, não vou repetir o que escrevi, mas a última frase necessita de umas 2 vírgulas pelo menos :)

Anónimo disse...

Tal e qual!
Oiço diálogos desses quer no autocarro quer no metro, mas mais no autocarro.
Se um modo geral são senhoras de certa idade, e como diz a Mary imagino que se sintam solitárias.

Anónimo disse...

O pior são os interminaveis relatórios das doenças.E parece que se revezam nas paragens.,,há sempre quem entre e dê continuidade ao assunto...AB

Anónimo disse...

Tenho de confessar que não tenho esta experiência. Também é verdade que ando mais de carro, ou de metro... E nas estações de metro não é vulgar estas conversas.
Mas está muito bem apanhado!!!

Anónimo disse...

Mas olha que essa de agora os guarda-chuvas serem "descartáveis" é mesmo verdade. Os tipos que amolavam as facas e tesouras e também concertavam guarda-chuvas são hoje uma espécie em vias de extinção. Pelas ruas desaparecerem, e algumas casas que ainda estão abertas ao público são pouquíssimas e creio que com pouca clientela.
Com os preços dos novos, ninguém conserta nada.

Anónimo disse...

Eh eh.
Ainda bem que usas os travessões porque senão este diálogo bem que passava por um excerto do Saramago.

josé palmeiro disse...

Depois de ler o teu escrito e os comentários, surgiu-me uma dúvida. Não será por se ter deixado de falar, nos andares nem bom dia se dá e quando se dá, há sempre um olhar de desconfiança, dizia eu por se ter perdido o hábito de falar, se acha essa conversa, que relatas, estranha, ou no mínimo objecto de solidão? É possível que também seja, mas não é só isso e por esse motivo, concordo contigo.