terça-feira, novembro 13, 2007

Insónia e poesia

Esta noite tive uma insónia.
Acontece a toda a gente. Mas desta vez, depois de ler um pouco, tomar um leite quente, virar-me na cama, não conseguia voltar a dormir porque me vinha à memória com a nitidez espantosa de quem tem um microfone ligado à cabeça, um poema bem antigo. Sabem como é, queremos 'limpar a cabeça' mas muitas vezes é uma música que aparece insistentemente, desta vez era o poema..
Eu tive, há muitos anos, vários livros de uma colecção chamada «Poètes d’aujourd’hui» que, para além do livro em si, traziam um pequeno disco (talvez de 45 rotações) com vários poemas recitados ou pelo autor ou por um actor famoso.
Ora esta noite, de olhos fechados, eu ouvia uma voz dizer-me «Que voulez-vous… la porte était gardée». Uma voz que vinha lá dos fundos da minha memória. Não, a voz não era do Paul Eluard, era do actor Gérard Philipe que o recitava no disco que acompanhava o livro.
O interessante é que o poema vinha todo de chofre, e não me saía da cabeça. Tive de me levantar, procurar o livro para confirmar e lá estava, tal como o estava a ouvir. Nem será dos mais famosos, mas hoje à noite insistia em sair da sombra.


Couvre - feu

Que voulez-vous la porte était gardée
Que voulez-vous nous étions enfermés
Que voulez-vous la rue était barrée
Que voulez vous la ville était matée
Que voulez-vous elle était affamée
Que voulez-vous nous étions désarmés
Que voulez-vous la nuit était tombée
Que voulez-vous nous nous sommes aimés


A memória é uma coisa fantástica!

12 comentários:

Anónimo disse...

O Eluard hoje em dia é recordado pelo seu «Liberté» e esquecido por tanta poesia belíssima.

A tua referência fez-me lembrar realmente umas poesias ditas pelos autores, há «séculos»... Onde isso vai. Logo à noite vou ver se remexo nos meus vinil e ver o que tenho lá. Fiquei a matutar.

Anónimo disse...

Emiéle, nem te vou comentar mais nada agora.
O link para a imagem do Gérard Philipe atirou-me para tantos anos atrás que agora vou ficar a ruminar nisto e só mais tarde volto ao Pópulo.
Mas que raio!!! Fico para aqui com uma coisa na garganta que não desce...

Anónimo disse...

Claro que quando me espetas um texto em francês, fico de cara à banda...
Isso dos autores lerem os seus poemas, usa-se bastante não sabia que há tanto tempo já era costume.
E achei graça a «teres na cabeça» um poema. Eu, é mais músicas!!!!

Anónimo disse...

Há poetas que se «apagaram» um pouco.
Modas?...
Foi bom esta lembrança.

Anónimo disse...

É por isto que eu gosto do Pópulo.
:D
Olhem bem para os posts de hoje e vejam se não há mesmo para todos os gostos...

Claro que o Eluard é uma referência pelo Liberté, mas tem outros poemas lindíssimos.

Anónimo disse...

Estou a aqui a sorrir feita parva, tal como a Mary (devemos ser da mesma colheita) pela foto do meu querido.
Este post podias ir para a secção do Era uma vez.
É mesmo um post de saudades.
(foi por isso que te deu a insónia, Emiéle, saudades...)

josé palmeiro disse...

Que memória mais extraordinária!
Estou omo a Mary, não sei que dizer, tantas e tantas as imagens que momentaneamente nos assaltaram.
E como a Gui infere, que bela insónia!
Da colheita não falo, ainda está em muito boas condições.

Anónimo disse...

Bom já agora e de memória respondo à Emiele e ao Zé(peço desculpa se os versos não ficarem bem divididos ou faltar algum é mesmo de memória)

Nous vivons dans l'oubli de nos métamophorses
Le jour est paresseux mais la nuit est active
Un bol d'air à midi la nuit le filtre à l'use
La nuit ne laisse pas de poussière sur nous

Mais cet écho qui roule tout le long du jour
Cet écho hors du temps d'angoisse et de caresses
Cet enchaînement brut des mondes insipides
Et des mondes sensibles son soleil est double

Sommes nous près ou loin de notre conscience
Oú sont nos bornes nos racines notre but

e por aí fora.Se calhar as insónias tem aqui uma resposta .È Eluard tb.(e já cá volto)AB

Anónimo disse...

E pronto já cá estou de novo mas não vou terminar o poema. Quanto ao Gérard Philipe não há (espantosamente)em CD o Prokofiev dito por ele.Mas como a Emiéle parece estar a precisar de prendas aqui vai mais um poeminha do Eluard,que espero não esteja muito atraiçoado pela tal de memória


Âne ou vache coq ou cheval
Jusqu'á la peau d'un violon
Homme chanteur un seul oiseau
danseur agile avec sa femme

Couple trempé dans son printemps

L'or de l'herbe le plomb du ciel
Séparés par les flammes bleues
de la santé de la rosée
Le sang se irise le coeur tinte

Un couple le premier reflet

Et dans un souterrain de neige
la vigne opulente dessine
Un visage aux lévres de lune
Qui n'a jamais dormi la nuit

Este poema chama-se Marc Chagall.AB

cereja disse...

:) Realmente junta-se tudo, AB, o pintor de que gosto com a poesia. Mas olha que existe realmente o Pedro e o Lobo em CD. Eu tenho.
E comove muito ouvir a voz dele...
Aliás esses discos de 45 rotações com as poesias, devo ter na «outra casa» que ée onde ainda tenho uma aparelhagem que toca vinil.

Anónimo disse...

Então esgotou porque há sim mas dito por outros.Já agora qual é a etiqueta?AB

cereja disse...

«Le chant du Monde»
É em pequenino exactamente igual ao que tenho em vinil.