As bruxas, «Pão-por-Deus» e os mortos
Este desaparecimento de fronteiras culturais teve para já uma consequência óbvia: deixamo-nos invadir por usos que não eram nossos e, por coincidência, associados a práticas consumistas. Foi o Dia de S. Valentim, santo que era desconhecido aqui para o sul da Europa mas que provoca um surto de troca de prendas que equilibra as balanças de muitas lojas de brindes, e o 'Dia das Bruxas' ou Halloween, que também neste formato não me lembro que fosse conhecido mas quanto a «abóboras iluminadas», chapéus em bico, cabeleiras etc e tal faz gastar uma nota a muita gente.
OK, o comércio faz por sobreviver.
Mas é interessante que este dia de Todos-os-Santos (que se une ao dos mortos, que acontece que afinal é hoje, dia 2) era conhecido em Portugal como o do pedido do «Pão por Deus» uso que tem muito a ver com o «trips and traps» anglosaxónico. No nosso caso é à luz do dia, e não há ameaças, mas são também grupos de miúdos que de minuto a minuto nos batem à porta com uns saquinhos onde recolhem os doces que lhes queiramos dar. (Claro que não estou a falar dos grandes centros, aí o costume desapareceu) Ontem, foi um tal corrupio que, apesar de eu estar preparada com alguma coisa para dar, às tantas tive de confessar que se tinha esgotado o meu saco – mesmo com um único rebuçado a cada uma das crianças dois ou três quilos não chegavam!)
O interessante é pensar o que tem a ver a alimentação com esta associação com os mortos. Não é por acaso decerto que o Pão-por-Deus é na véspera do «Dia dos Finados« ou dos «Fieis Defuntos», ou como é que se chama. Ora, quando vivi em Macau, encontrei uma cerimónia dos mesmos moldes e não me lembro se pela mesma altura do ano: em frente das casas, na rua, montavam-se mesas cheiinhas de comida que ficavam ali toda a noite. Era para os espíritos que nessa noite vinham à terra e precisavam de restabelecer as forças.
Para a nossa mentalidade é bem mais simpático que sejam as nossas crianças a aproveitar desse maná uma vez por ano, mas não me digam que é coincidência esta cerimónia se passar exactamente neste dia…
OK, o comércio faz por sobreviver.
Mas é interessante que este dia de Todos-os-Santos (que se une ao dos mortos, que acontece que afinal é hoje, dia 2) era conhecido em Portugal como o do pedido do «Pão por Deus» uso que tem muito a ver com o «trips and traps» anglosaxónico. No nosso caso é à luz do dia, e não há ameaças, mas são também grupos de miúdos que de minuto a minuto nos batem à porta com uns saquinhos onde recolhem os doces que lhes queiramos dar. (Claro que não estou a falar dos grandes centros, aí o costume desapareceu) Ontem, foi um tal corrupio que, apesar de eu estar preparada com alguma coisa para dar, às tantas tive de confessar que se tinha esgotado o meu saco – mesmo com um único rebuçado a cada uma das crianças dois ou três quilos não chegavam!)
O interessante é pensar o que tem a ver a alimentação com esta associação com os mortos. Não é por acaso decerto que o Pão-por-Deus é na véspera do «Dia dos Finados« ou dos «Fieis Defuntos», ou como é que se chama. Ora, quando vivi em Macau, encontrei uma cerimónia dos mesmos moldes e não me lembro se pela mesma altura do ano: em frente das casas, na rua, montavam-se mesas cheiinhas de comida que ficavam ali toda a noite. Era para os espíritos que nessa noite vinham à terra e precisavam de restabelecer as forças.
Para a nossa mentalidade é bem mais simpático que sejam as nossas crianças a aproveitar desse maná uma vez por ano, mas não me digam que é coincidência esta cerimónia se passar exactamente neste dia…
4 comentários:
Se não estou em erro já o ano passado escreveste sobre o tema.. Mas não nesta visão.
Realmente que fome?! Mas é simpático um mimo para as crianças, paesar de o sistema saxónico da «ameaça» me parecer antipático.
Esse culto, lá na China, já mo tinham contado.
Depois não há-de haver ratos, baratas e bicharada! Com comida posta nos passeios para se banquetearem...
Mal empregada, pensamos nós. Mas noutro custume deve bater tudo certo.
"Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso", só que agora, com esta globalização galopante, acompanhada de um consumismo aviltante, tudo se confunde e difunde. A mim parece-me correcto, não perder os nossos hábitos e costumes, evoluindo-os e adaptando-os às novas realidades, mas sempre os nossos, porque fonte de afirmação de uma cultura, necessáriamente, diferente da de outros povos, nem melhor, nem pior, só diferente, e eu gostava tanto dos "santinhos".
È uma época que me deprime imenso...Pior só o Natal.AB
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