terça-feira, outubro 30, 2007

Uma questão de proporção

Voltamos aos números.
Às vezes parece que só se pensa nisso, e o certo é que podemos mentir com tudo e decerto também se pode mentir com a interpretação que se faz aos números. O mesmo número pode ser «lido» de modos diferentes.

Dizem-nos que somos os sextos na União Europeia nas despesas com alimentação. Aliás o estudo é até um pouco mais claro ainda:
Portugal está em sexto na Europa dos 25, mas… na Europa dos 15 é até quem mais gasta
Quererá isto dizer que comemos muito bem? Não, o que significa é que pagamos demais pelo que comemos.

Quem é responsável pelas compras quotidianas numa casa sabe o que isso é. Já aqui falei na subida do leite e derivados, do pão, do arroz, e todos os dias se vai notando um ‘pequeno’ aumento num ou noutro produto. (escuso de chamar a atenção para a ausência de aumento naquilo que entra na nossa carteira ao fim do mês)

Eu sei. Tenho ouvido donas de casa resignadas que no momento em que estão a pagar, suspirando pelo tamanho da despesa que estão a fazer, ainda sorriem atirando a frase «antes aqui que na farmácia…»
Mas a verdade é que este índice é muito importante.
Todos os sociólogos apontam para o facto de que quanto mais desenvolvido é um país, menor é a percentagem do seu salário que vai para questões básicas como é a da alimentação. Porque o certo é que a comida, enquanto não pagarmos o ar que respiramos, é ainda o elemento básico à vida que mais falta nos faz.

E é grave que nos consuma uma fatia tão grande do orçamento familiar, tão grande que nos põe à frente atrás da Europa desenvolvida

8 comentários:

Anónimo disse...

As pessoas às vezes parecem «adormecidas» ou o raio! Também oiço essa frase do «antes aqui que na farmácia» e o pior é que é ALI e NA FARMÁCIA!

A vida tem subido de um modo assustador!

josé palmeiro disse...

Quando se protela a produção de produtos alimentares e se substitui pale importação massiva, dos mesmos, o resultado só pode ser o que afirmas. Ainda estamos a tempo de aprender a fazer, semear e colher, os nossos próprios alimentos, única forma de lutar contra esta situação que só tende a agravar.

Anónimo disse...

Zé Palmeiro, não sei se será só isso que afirmas.É certo que a nossa produção não chega para o consumo e para além disso, já sabemos que muitas vezes o consumidor paga mais barato o que é produzido lá fóra. E, como é natural, quem tem pouco dinheiro compra o que lhe sai mais barato. De resto, se ali na lista dos que gastam menos está a Irlanda que decerto tem uma boa agricultura, outros deles não será bem esse o caso. E aliás, na «outra Europa« onde ainda há pior do que nós, há povos que são essencialmente agrícolas. A questão que se põe é a da riqueza do país, e sobretudo a divisão da riqueza pelos seus habitantes.
Este é um índice muito sério e triste.

Anónimo disse...

Vinha dizer mais ou menos o que já disse o King. Notem que na Europa são a França, Alemanha e Itália os maiores produtores de alimentos (não é a Irlanda afinal, King) portanto, os países do norte, por exemplo, onde se vive com tanto bem estar nem por isso produzem muito. Gerem é convenientemente os seus orçamentos.
Cá, estão a dizer que temos melhorado muito - é o que diz o tal senhor, director-geral da FIPA. Então porque é que cada vez gastamos mais????

Anónimo disse...

E os preços dos chamados "directamente do produtor"?Mesmo aqueles que se encontram à beira da estrada e que se compram porque tem o "ar" genuino de ter sido colhido agora mesmo,e foram ,ali no super mais próximo?Ná,estou como o King,o problema é outro...AB

Anónimo disse...

Isso mesmo, AB! É verdade que sem intermediário as coisas podem ser mais baratas. Perto da minha casa, há um sujeito (aliás é um casal, ele e a mulher) que montam uma bancada ali no passeio e vendem umas couves, feijão verde, tomates, ou maçãs, uvas, etc. Pela pinta deles, aquilo não é cultivado na sua horta, devem é ir de madrugada ao mercado abastecedor de Loures (MARL) enchem o triciclo com os legumes e toca a vender barato.
Olhem que nem no Minipreço!
E a gente a comprar, é claro!

Contudo, nos mercados de beira de estrada, onde se pensa que o que ali está é directamente do produtor, não é nada assim, muitas vezes. A gente é que pensa logo que ali é mais autêntico... Pois sim!

Anónimo disse...

Gui, não sei se estás a brincar ou a falar a sério, mas olhem que aconselho uma visita a esse MARL!!! É inesquecível! A pena é que como só vendem por atacado, nenhuma família precisa de 100 alfaces, mas se precisasse trazia-a pelo preço de uma. Fui lá uma vez e só lamentei não ter uma arca congeladora do tamanho de um quarto que durante um ano não fazia mais compras...

josé palmeiro disse...

Concordo com voçês. Talvez não me tenha sabido exprimir, mas vou tentar.
Quando falo que deixamos de produzir e que importamos tudo, digo certo. Que ás vezes, muitas até, é mais barato, não duvido.
Agora o que eu quero dizer é que vale a pena, os que podem e têm condições para isso, produzirem os seus próprios alimentos, fazeno uma vida de auto-sustentação,e se possível e necessário, distribuirem pelos amigos e conhecidos. Por outro lado, há uma corja, que se designam por intermediários que tudo ganham, sem nada produzirem. aí é que se justificava uma intervenção directa do estado ou de quaisquer outras entidades, para não acontecerem coisas, como as que descrevo no "estounasesta", relativamente às rezes abandonadas à sua sorte, que é a morte, no concelho alentejano de Alandroal, e hoje as notícias dizem que os proprietários, vão ser multados. E quem toma conta das vacas? Quem lhes dará de comer, para que não morram? Quem aproveita com este estado de coisas?