Um Caderno de Capa Castanha XVI - O Vestuário Masculino
Os Homens
«Apesar de ao falar de moda se pensar mais frequentemente nas mulheres, isso nem por sombras quer dizer que não existisse moda masculina. Mais sóbria é certo, a elegância rimava com discrição, mas nem por isso menos vaidosos. Olha que sim!
Evidentemente que se compararmos com os séculos anteriores, os gibões de veludo de cores vivas, calções tufados e meias altas, capas coloridas, os homens da metade do século passado, com fatos de linhas direitas, calças tubulares, cores escuras, parecem quase uma outra raça… Mas lá que seguiam a moda não tenhas a menor dúvida, Clara!
Também entre os homens se notava nessa época a diferença de classe social. Um trabalhado, mesmo que não vestisse o fato-macaco não se podia confundir com um
burguês. Começando pela cabeça – o trabalhador andava muito mais vezes de boné enquanto o senhor não largava o chapéu. Lá nos anos 40, via-se mais o chapéu mole, de feltro. Obrigatório tapar a cabeça. Por mais descontraído e desempoeirado que se fosse, não se saía de casa de cabeça descoberta. Até para se poder cumprimentar. O cumprimento bem-educado, à distância, era exactamente levar a mão ao chapéu e levantá-lo um pouco. Nessa época juro-te que não me lembro de ver o meu pai ou avós, ou os seus amigos, sem o seu chapéu. Impossível.
Depois o fato. O que hoje chamamos «fato completo», era o normal. Calças, casaco e colete, tudo a condizer do mesmo tecido. Claro que podia haver alguma fantasia, como por exemplo o colete ser de um tecido contrastante, de veludo, de camurça. Mas as três peças eram o habitual. Claro que sempre com gravata. Bom, podia haver quem usasse um lacinho em vez de gravata, algumas personalidades mais ‘originais’, mas não se devia ver o cós da camisa. O punho da camisa apertava com os botões de punho, que variavam conforme o gosto e posses de cada um. Dizes que hoje também há botões de punho, mas não é a regra, a diferença está que hoje é mesmo um enfeite.
E quando falo em moda masculina, é a sério. Um ano as bandas dos casacos eram mais estreitas, e tudo começava a estreitar as bandas dos seus casacos; se no ano seguinte voltavam a alargar lá começavam os esforços para ver se as costuras davam para essa engenharia. As calças podiam ter a bainha virada para cima ou sem. (Ouvi uma vez numa conversa, que essa história da bainha virada tinha nascido de um VIP da época – o príncipe de Gales? – que ao andar de bicicleta tinha dobrado a bainha para não a enlamear e se esqueceu de a endireitar…) Essa mudança era fácil, não precisava de alfaiate, qualquer simples costureira refazia a parte inferior das calças para ficarem à moda do ano. Aliás era uma profissão, costureira de alfaiate, e sobretudo a costureira de calças que os casacos implicavam mais arte para caírem bem.
Falta-me falar nas gravatas mas isso era um mundo. Era onde a moda parecia mais exigente, aliás o toque de cor numa indumentária descolorida de um modo geral. As gravatas podiam ser largas, estreitas, com nó grande ou pequeno, lisas ou enfeitadas. A largura e o tamanho do nó, também dependia da moda, o padrão já era apenas o gosto de cada um. E nem sempre era fácil oferecer uma gravata!...»
Clara
«Apesar de ao falar de moda se pensar mais frequentemente nas mulheres, isso nem por sombras quer dizer que não existisse moda masculina. Mais sóbria é certo, a elegância rimava com discrição, mas nem por isso menos vaidosos. Olha que sim!
Evidentemente que se compararmos com os séculos anteriores, os gibões de veludo de cores vivas, calções tufados e meias altas, capas coloridas, os homens da metade do século passado, com fatos de linhas direitas, calças tubulares, cores escuras, parecem quase uma outra raça… Mas lá que seguiam a moda não tenhas a menor dúvida, Clara!
Também entre os homens se notava nessa época a diferença de classe social. Um trabalhado, mesmo que não vestisse o fato-macaco não se podia confundir com um


E quando falo em moda masculina, é a sério. Um ano as bandas dos casacos eram mais estreitas, e tudo começava a estreitar as bandas dos seus casacos; se no ano seguinte voltavam a alargar lá começavam os esforços para ver se as costuras davam para essa engenharia. As calças podiam ter a bainha virada para cima ou sem. (Ouvi uma vez numa conversa, que essa história da bainha virada tinha nascido de um VIP da época – o príncipe de Gales? – que ao andar de bicicleta tinha dobrado a bainha para não a enlamear e se esqueceu de a endireitar…) Essa mudança era fácil, não precisava de alfaiate, qualquer simples costureira refazia a parte inferior das calças para ficarem à moda do ano. Aliás era uma profissão, costureira de alfaiate, e sobretudo a costureira de calças que os casacos implicavam mais arte para caírem bem.

10 comentários:
E é mesmo assim.
A «fama» vai só para as mulheres, mas a verdade é que a moda era tão severa para um como para o outro género.
????
Eu, como realmente sou doutra colheita, ainda me faz alguma confusão, estas normas tão rígidas.
Porque não me parece nada de mais que se use isto ou aquilo, o estranho é «ter-de-ser-assim», como tu explicas.
Joaninha, palavras acertadas, sim senhora!.
Raphael, tinha que ser assim, porque era assim, não havia escolha. Os tecidos e o desing eram como a Clara explica e só mesmo essas pequenas mudanças, como o tamanho das abas dos casacos e até do feitio do casaco, lembro os "acertoados", em que a banda direita se sobrepunha à esquerda, e se abotoava com dois botões, nada de novo, pois ainda hoje se usa. As camisas preferncialmente brancas ou de cores muito suaves, um azul ao um pérola e pouco mais. Nas gravatas, aí sim havia diferenças, nos coletes, que nem todos usavam e muito menos nas abotoaduras, que diferênciavam bem, as classes sociais. Os chapéus, eram também peças importantes e distintivas. Deixa-me lembrar uma peça importantíssima das classes mais abastadas, os "pelainitos", que sobrepunham às botas ou aos sapatos. Enfim, tempos idos...
Ninguém se lembra das chamadas calças à golf que muita gente puxava para logo abaixo do joelho como uma espécie de calção comprido?Só os rapazes é que usavam(quero dizer não os homens)ah, é claro, e o Tim-Tim.AB
Por acaso existe aí uma fotografia do avô Eduardo,de polainitos ....na praia do Guincho.Quanto ás abotoaduras tb.existem por aí um par ou dois de ouro, que eram usadas no "dia de S. Porco"ou em traje de jantar de cerimónia ou de ir à ópera.Alfinetes de gravata e botões de punho idem.E chapéus desde o feltro mole ao á "diplomata"passando pelo Mazantini e até alguns bonés de grande aba para suportar óculos de condução.E (isso ainda hoje me fascina)os "foulards de soie "para "marcher en vainqueur"como cantava a Piaf que sabia muito bem do que falava.E falando de ópera ,o meu avô não era grande apreciador do género, mas devia achar graça às "sobrettes"e o "ter de aparecer"era uma desculpa social aceitável em quási todas as familias(ainda hoje)...assim lá ia "adormecer",como ele dizia ,para S.Carlos.E para que os efeitos do sono se não tornassem visiveis durante a representação o meu avô tinha uns sapatos especiais de ir à ópera.Dois numeros abaixo.Assim,incomodado não adormecia com toda a certeza.AB
AB, duas palavras.
A primeira de agradecimento pela correcção dos "Polainitos", lembrava-me do termo mas não da grafia, mais uma vez, obrigado.
A segunda, tem a ver com as calças "à golf", mas como tive umas, que detestava, apesar de me ter lembrado delas e de ter feito intenção de aqui as pôr, na hora da escrita, esqueci-me.
Já agora, tive umas botas, de que muito gostei. Eram tradicionais da Madeira, sim dessas com a lista vermelha.
Outra coisa, lá, na minha terra talvez pela proximidade com o resto da Ibéria, usava-se muito. a boina.
Lembro-me dos chapéus, sim senhora. Como aqui se diz a grande diferença é que hoje também há quem ponha um chapéu por gostar, por achar giro, e às vezes até para «ser diferente» enquanto nesses tempos, era o oposto, chamava a atenção pela extravagância quem se vestisse de um modo diferente.
Shocking!!!
Ora essa Zé Palmeiro!AB
AB, mais uma vez o teu «comentário» está tão interessante que vou passá-lo a post...
As calças à golf, estava com esperança que «um comentador» que por vezes passa por aqui, FJ, dissesse de sua justiça, porque sei de fonte segura que era peça de vestuário que odiava completamente. Antes os calções!
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