sábado, outubro 13, 2007

A questão da natalidade

O Expresso traz hoje um artigo-reportagem bem interessante.
É sabido que um pouco por toda a Europa se reconhece uma baixa de natalidade. Por cá ultimamente tem-se chamado a atenção para isso, para o envelhecimento da população, até por um motivo digamos que «egoísta» - o facto de dentro de anos os descontos de quem trabalha não chegarem para a reforma dos que já trabalharam. Mas, se em Portugal a questão é grave porque a nossa quebra de natalidade bate recordes, a questão põe-se também noutros países como sabemos.
Quando disse que a reportagem era interessante é que ela compara duas famílias - uma vivendo em França e outra em Portugal, as duas com 3 filhos. Claro que 3 filhos, hoje, em Portugal, já se vê pouco…
É importante reflectir – e quando foi da discussão sobre a IVG esse ponto foi tratado até mais não se poder – que nunca se pode combater a baixa de natalidade pela repressão, ou seja ‘obrigando’ os casais a terem filhos, mas pelo estímulo, mostrando que se pode ter mais filhos sem que as dificuldades aumentem a um nível incomportável. E aqui vem o exemplo do que se passa em França que reverteu a tendência e neste momento já está a ter 2,1 filhos por mulher (gosto sempre destes 'vírgula tal' :D) o que dará ao país um novo fôlego.
Veja-se a Licença de Maternidade. Nós consideramos uma vitória o actual regime português, 4 meses, mas por exemplo em Inglaterra pode ir até às 52 semanas, mais de um ano, e nem falemos nas facilidades que se dão nos países nórdicos… Depois os subsídios familiares. Nem vale a pena comparar os nossos com o resto da Europa. E os benefícios fiscais?... Notem que no caso do casal francês estão isentos de pagar IRS. Nem mais!
É assim. Só quando se deixar de brincar com este assunto e encarar uma política de família a sério, se vai reverter esta tendência.
Até porque os portugueses gostam mesmo de crianças.


8 comentários:

Anónimo disse...

É interessante o artigo da Única (não fizeste link porque aquilo é tudo pago, creio eu; ou também será porque não estás no teu pc?)
Mas repara que o casal dos 3 filhos que entrevistaram em Portugal é de uma classe média alta. O casal «francês» é doutra condição, a mãe é porteira...
Mas o importante é a base: que política de família? O resto é o modo como cada país a interpreta. Parece-me que tanto faz escolher aumentar a licença de maternidade ou escolher aumentar o número de creches (apesar de o primeiro caso ser preferível) o que importa é haver respostas.
Escuso de lembrar o que se passa em Portugal.

josé palmeiro disse...

Oportuníssimo, o teu escrito.
Eu sou filho único, pela simples razão de que, os meus pais, não tinham condições para pôr, mais gente no mundo, vivia-se o pós-guerra, senhas para comprar tudo. Não eram ricos, o que, junto a alguma consciência e conhecimento da vida, também ajudou à decisão. Depois eu e a minha mulher, numa outra conjuntura, tivemos três filhos, e só não tivemos mais porque, não havia possibilidades. Todos foram gerados, depois de analisadas as situações e de verificarmos que seriam, bem vindos. Agora tenho dois netos, de um deles e dos outros, ainda nada. Como ter filhos, nesta sociedade, eonde os apoios escasseiam eos incentivos são pura demagogia?
Fazer comparações com os outros, só para mostrar a mentira em que vivemos. Que futuro para os filhos, têm estes pais e mães, que se vêm despedidos e sem possibilidades de emprego no horizonte, curto ou longinquo? E os outros os que sugeitos à nova lei da mobilidade, (que lindo), ara garantirem um percário posto de trabalho, como se gere uma situação dessas, relativamente à saúde mental e física dos filhos? E mais e mais perguntas, que ficam por fazer!!!

Anónimo disse...

A «comparação» que também vi no Expresso, é impossível! Aliás, como a Joaninha chamou a atenção, a família portuguesa não se compara à francesa porque são de outro meio social bem diferente.
Nesta altura do campeonato onde um infantário custa um SMN, qual a escolha dos portugueses? Que um dos pais desista de trabalhar? e uma família de 3 ou 4 pessoas sobrevive com o ordenado de uma única pessoa?...
Também fico possesso quando oiço ou leio senhores muito doutos e sabedores dizerem arrogantemente que em Portugal a natalidade tem baixado por as pessoas serem egoístas e preferirem viver bem do que ter filhos. Sinto cá um ódio nessas ocasiões que nem vos digo.
Aqui o que disse o Zé Palmeiro ilustra bem as voltas da sociedade portuguesa: os pais dele só puderam ter um filho; ele já conseguiu ter 3; mas os filhos dele como vai ser? Até admiro a ginástica do filho dele que conseguiu mesmo assim ter dois...

Anónimo disse...

Tens razão Emiéle. É que na generalidade o povo português até gosta de crianças ao contrário dos franceses que são um tanto ou quanto indiferentes.
Portanto se a natalidade tem baixado, como se sabe, temos de procurar as causas, que não são como o Raphael sublinhou, o tal egoísmo. Muito pelo contrário, egoísta é quem faz um filho (um bebé é tão engraçadinho...!) como quem tem um brinquedo novo.

Anónimo disse...

Estou completamente de acordo com o que foi dito. Hoje cada filho tem que ser bem pensado, é preciso que os recursos cheguem para lhes darmos oportunidades na vida, aprender, estudar, ter acesso ao desporto, á cultura, ao lazer.....hoje não se aplica tão fácilmente a expressão "onde come um comem dois", não é só alimentar os nossos filhos o que nós queremos.
De facto, o nível médio dos ordenados versus custos com infantários, fraldas, pediatras, etc, faz com que uma família de classe média que tenha dois filhos, já é um caso de ginástica financeira.
Querem que os portugueses tenham mais filhos? Criem ordenados compatíveis, estabilidade no emprego, um estado providência justo e completo, etc. Não é com "rebuçados", tipo abonos de família mais altos que a taxa de natalidade vai aumentar, antes pelo contrário, a conjuntura actual aponta mais para uma contracção da natalidade.

Anónimo disse...

Há uns anitos já, no Alentejo, foi entrevistado um homem paupérrimo com uma quantidade enorme de filhos.Interrogado como fazia para sustentar tudo aquilo deu esta resposta espantosa"Ah!Cria-se tudo...um bocadinho de pão e a brincadeira".Mas tb.houve quem respondesse "Isso é gado que morre muito"...AB

saltapocinhas disse...

não é com "prémios" pontuais que se aumenta a natalidade, mas criando condições às mães, principalmente locais onde deixar os filhos, com boas condições e gratuitos. e muitos!
nem era preciso mais nada para haver diferenças neste quadro negro!

cereja disse...

Olha AB, apesar de eu também pensar que como a Joaninha, que na generalidade em Portugal se gosta de crianças, o que contas de alguma indiferença sobretudo antigamente quando a mortalidade infantil era tão alta que as pessoas não se ligavam tanto às crianças, também já tinha ouvido contar uma muito semelhante. Dizendo a um homem que tinha tido 10 filhos que eram muitos ele disse nesse tom indiferente «Isto morre muito...» Creio ser realmente no tempo em que os filhos eram o «seguro de reforma».
Quanto aos vossos outros comentários, creio ser evidente que não é com medidas pontuais mas com uma verdadeira política de família que se chega lá. Com apoios verdadeiros tais como uma rede de jardins de infância a sério e não o que hoje se faz.