quinta-feira, outubro 25, 2007

O inquérito deveria ser ao contrário

É que o resultado das respostas vem tão ao arrepio daquilo que se constata dia a dia que é impossível estar certo.
O «eurobarómetro» que faz inquéritos sobre tudo e mais uma coisa, inquiriu agora, à escala europeia, quem é que’ trabalha sem declarar às Finanças’. E, imagine-se que a média europeia é apenas de 5% isto porque os valores na Dinamarca (18%) e na Suécia (10%) são os esperados, mas em alguns países sul-europeus ou de leste são "surpreendentes" porque muito baixas.
Lá como é nos outros sítios, eu cá não sei.
Mas o que se passa entre nós não precisa de nenhum estudo. Quem nunca chamou um canalizador, electricista, pintor, lhe pagou e o deixou ir embora sem passar uma factura como deve ser, que ponha o dedo no ar. E quantas mulheres-a-dias não pedem que não se diga que trabalham para nós, e nós aceitamos por termos pena ou receio de não arranjar outra? E quem é que pede uma factura, quando vai a correr tomar a bica ao café? Aliás em imensos restaurantes temos de especificar se queremos uma factura quando pagamos a conta. Até mesmo profissões liberais, alguns têm o supremo descaramento de dizer que com factura é um preço e sem factura outro…
E depois, este mundo corresponde... a 3%! Só por brincadeira. Ou… por medo de responder ao inquérito!
Se o inquérito fosse feito a quem paga esses serviços o resultado seria outro. Ou talvez não, por receio de ser considerado conivente no crime.
É que isto é tema delicado…

8 comentários:

Anónimo disse...

As nossas «economias paralelas» entram pelos olhos adentro. Nem só aquilo que citas, a todo o momento se constata que pagamos coisa que nunca entram nos livros de contabilidade. Cá por mim, tenho a convicção que metade do dinheiro que me sai do bolso não é contabilizado. Cabeleireiros, pastelarias, os «cibercafés», muitas vezes as garagens, e as empregadas domésticas que mesmo quando estão na Segurança Social é abaixo daquilo que ganham. Para não falar nas gratificações que não é tão pouco como isso - há trabalhadores que 'fazem' mais em gratificações do que os ordenados...

Anónimo disse...

Esta história lembra-me sempre aqueles guias brasileiros dos bugs de praia que perguntam lá de cima daquelas dunas de tirar a respiração"com emoção ou sem emoção"?Sem factura e sem a emoção de receber a cartinha das finanças ou com emoção de pagares aquilo que nem percebes como é que o ano passado era metade e agora o dobro?'Além de que nessa história da exigencia das facturas nos cafés e retaurantes ninguém me paga o "suplemento" de policia.AB

Anónimo disse...

Amigos, isso implica uma «consciência cívica» que está nos antípodas da nossa mentalidade. Nossa, e pelos vistos do Sul da Europa.
Por outro lado, será que alguém acha que o dinheiro desses impostos é investido nalguma coisa que lhe seja favorável...???
O 'segredo' esta no 'uso da massa'.

josé palmeiro disse...

Isto entronca com o escrito das "VERDADES", e esta que aqui trazes hoje, para mal de nós, é a nossa verdade.
Depois há a acrescentar o nosso papel. Para que me servem a mim as facturas? Posso-as descontar em alguma coisa? Servir de bufo? Porque teremos nós, cidadãos pagantes de, para lá de pagarmos os nossos impostos, servir o estado, sem receber nada, a denunciar os outros?
Nem todos podemos pagar dívidas de 12 milhões, ou lá o que é e, se calhar, ainda ter benesses por isso, da do o investimento.

Anónimo disse...

Como disse muito bem e com graça o King «o segredo está [no uso] na massa»
Se houvesse a noção de que o dinheiro dos impostos, fossem eles quais fossem, ia servir de facto para o bem geral, acredito que seriam pagos com menos relutância. Claro que relutância existe sempre, e até esses países nórdicos que são dados como exemplo, reconhecem que também fogem a eles. Aqui o que acontece é que se tem a convicção de que 'ladrão que rouba a ladrão...' Mas depois há vergonha ou medo de o reconhecer.
As ditas 'economias paralelas' só me chateiam um tanto é pela injustiça do desequilíbrio - um sujeito vem cá a casa desentope-me um cano num quarto de hora e pede-me 40 €. Com 5 canos ( 5 quartos de hora) faz 200 €. Se trabalhar 5 dias dias por semana, são 4.000 € ao mês. Um caixeiro num Centro Comercial, entra às 10 da manhã sai às 10 da noite, ganha um décimo disso e se calhar é pago a recibo verde. Tá mal!

cereja disse...

É certo que estou plenamente de acordo que andar a fiscalizar que paga e não paga é servir de bufo e não agrada nada; contudo identifico-me muito com o que disse a Gui, sobretudo estes trabalhadores que fazem trabalhos ao domicílio e se fazem muito rogados para aparecerem - estamos horas à espera o que dá para pensar que têm decerto muito que fazer, e depois levam quase tanto dinheiro como uma consulta médica mas sem passarem recibo! É o chamado dinheiro limpo, porque muitos nem sequer têm uma oficina para pagarem renda. É tudo lucro.

Anónimo disse...

Muito certo... é por estas e outras razões que o país está como está... e depois ainda vêem dizer que a culpa é do "...", a culpa é de todos nós que nos deparamos todos os dias com estas situações e não cumprimos com o nosso dever... esperemos que isto um dia mude... talvez "resar um cadito resulte"...mas a situação mais cómica de todas a apresentadas é, quando vamos a um advogado (exemplo), sem recibo são 60€ com recibo é 70€... enfim fico triste de viver num país que finciona assim...

cereja disse...

Olá Quintal! Não te tenho encontrado nestas caixas de comentários, e dou-te as boas vindas!
É de facto culpa de todos nós, como dizes. E muitas vezes o silêncio sobre coisas erradas é também conivência por aceitação passiva.