segunda-feira, setembro 10, 2007

O «Caderno» da AB

Em comentário a este post, a minha amiga AB disse o seguinte:

Como há que começar por algum lado cá vai... Se eu fosse francesa e tivesse o talento do Vian ou mesmo brasileira e estivesse "na bossa" arranjaria ritmo e humor para alinhar numa canção os objectos e materiais usados nesse tempo por exemplo numa limpeza...águarráz (água-raz), cardoa, sabão amarelo, escova de cerdas, palha de aço, flanelas amarelas, flanelas brancas, panos brancos e jornais, panos de lã, (para o lustro final) joalheiras, (para os joelhos da Sra. Maria dos Anjos) soda caustica, lixívia, lixas de várias espessuras (para as lâminas das facas pelo menos duas) vassoura dura, vassoura suave, piassaba para os "cantinhos", pincéis para o pó dos relevos das madeiras trabalhadas, cera "Encerite" amarela para o chão de madeira e vermelha para as marquises e Solarine para os amarelos... bancos e escadotes qb. e no "lustre de cristal de saco bem como no espelho veneziano ninguém mexe", "tapa-se primeiro com lençóis e eu limpo no fim"- palavras de pelo menos duas limpezas "a fundo" por ano: a da Primavera com mudança de roupas de dentro dos armários e a de antes do Natal, que não dava jeito nenhum, porque as gavetas com os pontos escondidos por causa das notas eram despejadas em cima da cama e "toca a arrumar que isso já nem se abre"...Ah! a goma para as toalhas da época natalícia e os alfinetes, pregados no pano da tábua de engomar para esticar as rendas... e o rabo da Sra. Maria dos Anjos, a dias, (a rapariga coitada não pode fazer tudo sozinha) enchia o corredor de lado a lado numa dança para cá e para lá no vaivém das escovas e dos baldes (vejam lá se despejam com jeito senão fica tudo mais sujo que limpo")

Se havia algum vislumbre terrorista na vivência daquela casa eram com certeza estas alturas.

AB

Nota - Para quem goste de embalagens e saiba o que são cera "Encerite" e solarine "Coração" ainda há à venda na drogaria da R.da Graça antes de chegar ao Largo, do lado direito. AB


Penso seriamente em lhe arranjar um caderno de memórias à parte. Até porque vem já aí (amanhã) um outro post de lembranças suas...

9 comentários:

cereja disse...

Sinto um toquezinho um tanto esquizofrénico, de estar a comentar «de fóra» um post de o meu blog! Mas neste caso, tem de ser...
Ao ler o que a AB escreveu, de repente perdoei à minha avó. Toda a vida pensei que ela apesar de ser um amor era um tanto desequilibrada, pela «mania das limpezas». Eu observava lá em casa um afã deste tipo, onde havia um pano do pó para limpar as pernas das cadeiras e outro para as costas das mesmas, porque seria porcaria limpar os pés que estão junto ao sobrado com o mesmo pano que se limpa as costas que devem estar mais limpas... e a variedade incrível de produtos de limpeza conforme era madeira ou cabedal ou vidro ou louça ou metal branco ou metal amarelo, ou...ou... Mas ontem, ao telefone com a AB, vi que essa dos dois panos do pó, era mesmo a norma!
Tadinha da minha avó! Por este testemunho ela nem era nada de mais, pelos vistos os meus pais é que eram um tanto trapalhões...

Anónimo disse...

:D
Ufff... Mas que canseira!
Entende-se que ser dona-de-casa fosse um trabalho a tempo inteiro e precisasse de ajuda!
E ainda a gente se espanta com a variedade de produtos que os Supermercados apresentam, na área da "drogaria". Isso era bem mais completo, só que os produtos eram autênticos! (quero dizer puros)

Anónimo disse...

Eu tinha ontem lido este comentário (?) e disse de mim para mim que ainda o via aqui em primeiro plano. Ganhei!
Está muito engraçado. E visto pelos olhos dela que devia ser uma pitinha na altura, é ainda mais giro. Estou a imaginá-la a ser sacudida de sala para sala, nas tais «limpezas da Primavera»: sai daqui, que atrapalhas!
Hoje ainda se fazem grandes limpezas aí uma vez por ano, mas nada que se compare ao que a AB descreve! É mais aspirar em sítios onde não se costuma ir, ou lavar cortinados e colchas, ou os vidros das janelas por dfóra.
Falo daquilo que vejo, que por mim, não me meto nessas habilidades. Talvez os meus filhos, que isto da paridade é sempre em fente!

cereja disse...

Ainda voltei ao Pópulo porque me lembrei de um texto do livro da 3ª ou 4ª classe, que vem mesmo a matar...
Já o deixei lá em cima.

Anónimo disse...

Oh God!jamais pensaria que a minha lista da drogaria tinha assim tanto exito.E a seco,sem a música que eu gostaria humoristicamente que a acompanhasse...Mas a propósito de caderno se tivesse que ter uma côr seria o "de capa verde"que o avô deu ao "Jorge"...AB

josé palmeiro disse...

Que dizer?
Inteiramente merecido, porque verdadeiro e, acima de tudo, escrito com muito humor.
A Encerite e o Coração, são marcas que nos marcaram indelevelmente. Lembro-me também, dum produto Coração, muito usado, na altura, refiro-me à fita para apanhar moscas. Aqui há uns anos, numa ida a Braga e numa drogaria, do centro da cidade, ainda vi à venda.
Falando de limpezas deixa-me lembrar, essa grande epopeia que eram os "cobres", limpos com "estuque" e limão.
Não sei se reconhecem o "estuque" que refiro, mas, na minha terra era o pó que se obtinha, desfazendo a pedra mármore (calcáreo), que misturado com o limão (ácido), deixava os "cobres", num brinco.

Anónimo disse...

È verdade Zé Palmeiro os "cobres" e os "arames"...Mas o "estuque" não conhecia...mas conheci o "cré".Mais para as pratas suponho.AB

cereja disse...

AB - OK, o «caderno» pode ser verde, mas isso era a capa do livro que foi realmente dado pelo avô mas ao Pedro. Esse é que o deu ao Jorge a guardar, e teve de o ir buscar para a tia Mariana ver a gravura do caçador
:))
Olha Zé Palmeiro, fui parva porque aqui na net não há bonecos (pelo menos não encontrei nem da encerite, nem sa solarina Coração, mas eu tenho uma latinha e era só fotografar... Mas acontece que a deixei na minha casa de férias.
(Se calhar ainda meto a foto nem que seja daqui a 8 dias!)

Anónimo disse...

Tens toda a razão mas eu ando numa de refazer a história (mentira,troquei mesmo os personagens e da tia Mariana já nem me lembrava)...mas "vou já buscá-lo":))))AB