segunda-feira, setembro 17, 2007

Continuação do «Caderno» da AB

Mais uma vez, a partir deste post , a AB veio acrescentar um pouco das suas recordações de criança.

Florinda

Desde sempre a Florinda e a sua cara pálida, o nariz comprido e uma arte imensa. Um sorriso sobre o bastidor e o "crivo" que fazia como ninguém, o "cheio" e o "matiz"tão perfeitos que causavam o louvor (coisa difícil) até da minha avó.
Solteira, filha única de pais que me lembro velhotes, numa casa minúscula com um pátio e um cágado. Da agulha de bordar passava às "cinco agulhas" para as" meias de linha e para as cuecas com "picôt" simples, nas cavas das pernas e na cintura, com que se ia enchendo a gaveta da roupa branca. E de novo ao "ajour" nas camisas de baixo e nas de dormir. Nos vestidos de "meio quarto" fazia os "favos de mel"..."Vejam o avesso, vejam o avesso." Perfeito.
A Florinda costurou-me o presente daquela altura e o futuro, porque a partir dos meus quatro anos, ela principiou o meu enxoval.
Ainda hoje, em dias de festa, a obra da Florinda saí à mesa em monogramas de guardanapos e entremeios de toalhas. A Florinda, de seu apelido "do Espírito Santo", desaparecida por volta dos meus dezoito anos está na mesa comigo e várias vezes nas dobras dos lençóis e almofadas.
Quando tenho quem depois as engome...
AB


6 comentários:

Anónimo disse...

Esta é que é uma profissão não em vias de extinção, penso que mesmo extinta! Não falo nas bordadeiras da Madeira ou desse tipo, mas quem borde à mão, como aqui se descreve, isso foi-se...
O texto da AB é de uma grande ternura e deixa-nos também de lagriminha ao canto do olho. Ela gostava mesmo da D. Florinda, isso está bem claro.

Anónimo disse...

Entende-se que não tenha entrado como «comentário» ao post do vestuário, porque se desvia um pouco, mas gostei muitíssimo de o ler. Como disse aqui a nossa Joana, está escrito de um modo comovente, «A Florinda costurou-me o presente daquela altura e o futuro» é uma frase que fica.
Boa a aquisição da AB para o nosso Pópulo!

Anónimo disse...

Eu tive «uma Florinda» na família. Era a minha avó, com umas mãos de fada, coisa que ela costurasse ou bordasse, ficava de tirar as palavras a uma pessoa.
Mas como diz a AB, o complicado hoje é conseguir passar a ferro essas obras de arte. Só em casas profissionais, eu já tentei, do avesso, com panos húmidos, eu sei lá, mas não fica bem...

josé palmeiro disse...

A ternura com que a AB fala deste assunto, deixou-me, como diz a Joaninha, de "lagriminha no olho".
Depois, passa-se por aqui algo semelhante. A minha mulher que é dos Açores, tem uma infinidade de materiais, de tal qualidade, que passamos, as passas do Algarve, para as conseguir pôr como estavam, normalmente, esperávamos pelo Verão, para as levar para a origem e tratar delas, mas hoje até isso é difícil, vale que estamos mais tempo, por lá. Quanto às "costuras", ainda hoje tenho arranjos feitos pela minha mãe, que são autenticas obras de arte.

Anónimo disse...

King não entrou como comentário ao post do vestuário mas podia ter entrado, porque os "favos de mel"da Florinda eram as frentes dos vestidos de "meio quarto" da minha 1ªinfancia...Ab

cereja disse...

Essa de vestido de «meio quarto» também é conversa que parace chinês para muita gente. Vou vasculhar lá no alto dos armários a ver se encontro um boneco que deixe aqui a explicar de que é que falas
:)
Creio que a referência aos 'favos de mel' sse entende melhor, e mesmo essa...
Gui - muitos de nós tivemos «Florindas» nas famílias, que deixaram ficar a sua assinatura nas dobras dos lençois, em colchas, em toalhas. Hoje são preciosidades.