Diferenças de geração
Estive este fim-de-semana com uma amiga que já não via há muito. Ao mesmo tempo gostei e não gostei de a ver.
Dez anos marcam uma diferença de geração. É claro que as grandes diferenças vão da nossa para a geração dos nossos pais ou dos nossos filhos, contudo quando as idades diferem dez anos ou mais, já se sente algum peso. Claro que no início da vida, essa diferença é colossal! Uma criança de 10 anos e um rapaz ou rapariga de 20 têm muito pouco em comum. Depois, pouco a pouco, isso vai-se esbatendo. Entre os 23 e os 33 não é esse abismo de diferença. Assim como entre os 45 e os 55. Temos a sensação de que a outra pessoa teve uma vivência diferente, mas revemo-nos nela. Gostamos do mesmo tipo de literatura, temos interesses políticos afins, tivemos amores semelhantes, podemos rever-nos naquele espelho.
A certa altura, a imagem do espelho deforma-se um pouco. E aqui entram factores que já podem variar de pessoa para pessoa. Há quem se mantenha invulgarmente ‘jovem’ dentro do seu grupo de idade, quem se integre inteiramente nesse grupo, e quem de mostre ‘envelhecido’. Vemos de tudo.
Esta minha amiga, aqui há uns 10 anos estava numa forma incrível! Encontrávamo-nos muitas vezes na praia e não tinha um grama de celulite, desempenadíssima fazia durante horas enorme caminhadas com o marido, e de uma grande cultura estava a par de tudo o que se passava na actualidade quer por cá quer no estrangeiro tendo opiniões fundamentadas sobre imensos assuntos, enfim era uma companhia muito agradável em todos os aspectos e quase sentíamos um certo ciúme da sua excelente forma física.
A penúltima vez que a encontrei, na FNAC, já estranhei. Estando as duas num local de cultura, digamos assim, ela contra o seu costume não falou de livros, de música, de pintura, e sim de médicos, análises, check-ups.
Huuummm….
Este domingo visitou-me. Ia abandonar a casinha que tem na mesma aldeia onde eu tenho a minha, porque lhe dá muito trabalho. Com o que gasta ali prefere passar a fazer férias numas termas, por exemplo, onde lhe tratem de tudo e possa descansar. Eu até entendo, muitas vezes sinto o mesmo, férias a sério são num sítio onde «me façam tudo» e não tenha que pensar em nada. O que me chocou não foi isso foi o que estava subjacente. Muitas queixas de mazelas físicas e muita confusão mental. Tinha comprado um telemóvel novo mas era um enorme problema, não se entendia com aquilo. Quando lhe falei na net, olhou-me desconfiada. O desmanchar da casa (uma chatice, sem a menor dúvida!) estava ser um drama assustador.
E afinal só temos 10 anos de diferença.
Fiquei com um aperto no coração – aquela será a minha imagem dentro de uns anos…?
Dez anos marcam uma diferença de geração. É claro que as grandes diferenças vão da nossa para a geração dos nossos pais ou dos nossos filhos, contudo quando as idades diferem dez anos ou mais, já se sente algum peso. Claro que no início da vida, essa diferença é colossal! Uma criança de 10 anos e um rapaz ou rapariga de 20 têm muito pouco em comum. Depois, pouco a pouco, isso vai-se esbatendo. Entre os 23 e os 33 não é esse abismo de diferença. Assim como entre os 45 e os 55. Temos a sensação de que a outra pessoa teve uma vivência diferente, mas revemo-nos nela. Gostamos do mesmo tipo de literatura, temos interesses políticos afins, tivemos amores semelhantes, podemos rever-nos naquele espelho.
A certa altura, a imagem do espelho deforma-se um pouco. E aqui entram factores que já podem variar de pessoa para pessoa. Há quem se mantenha invulgarmente ‘jovem’ dentro do seu grupo de idade, quem se integre inteiramente nesse grupo, e quem de mostre ‘envelhecido’. Vemos de tudo.
Esta minha amiga, aqui há uns 10 anos estava numa forma incrível! Encontrávamo-nos muitas vezes na praia e não tinha um grama de celulite, desempenadíssima fazia durante horas enorme caminhadas com o marido, e de uma grande cultura estava a par de tudo o que se passava na actualidade quer por cá quer no estrangeiro tendo opiniões fundamentadas sobre imensos assuntos, enfim era uma companhia muito agradável em todos os aspectos e quase sentíamos um certo ciúme da sua excelente forma física.
A penúltima vez que a encontrei, na FNAC, já estranhei. Estando as duas num local de cultura, digamos assim, ela contra o seu costume não falou de livros, de música, de pintura, e sim de médicos, análises, check-ups.
Huuummm….
Este domingo visitou-me. Ia abandonar a casinha que tem na mesma aldeia onde eu tenho a minha, porque lhe dá muito trabalho. Com o que gasta ali prefere passar a fazer férias numas termas, por exemplo, onde lhe tratem de tudo e possa descansar. Eu até entendo, muitas vezes sinto o mesmo, férias a sério são num sítio onde «me façam tudo» e não tenha que pensar em nada. O que me chocou não foi isso foi o que estava subjacente. Muitas queixas de mazelas físicas e muita confusão mental. Tinha comprado um telemóvel novo mas era um enorme problema, não se entendia com aquilo. Quando lhe falei na net, olhou-me desconfiada. O desmanchar da casa (uma chatice, sem a menor dúvida!) estava ser um drama assustador.
E afinal só temos 10 anos de diferença.
Fiquei com um aperto no coração – aquela será a minha imagem dentro de uns anos…?
18 comentários:
Focas um problema de grande importância. O que descreves é assim mesmo, e depois a foto que escolheste é duma força terrível! Belíssimo escrito!!!
Hoje tenho andado sempre atrás do Zé... Parece ensaiado, mas olhem que não! :)
Fiquei com um nó aqui na boca do estômago. É que conheço um caso a papel químico desse. Uma senhora que se manteve impecável quer física quer intelectualmente, e depois em pouco tempo parecia outra. Como nos iogurtes quando o prazo de validade acaba...
Contudo, tal como dizes, há outros casos bem diferentes. Sou amiga de pessoas (pelo menos estimo-as muito, não sei se 'amiga' dado a diferença de idades está correcto) com setenta, setenta e muitos, até oitenta, com uma frescura e uma capacidade intelectual - e até física, relactivamente - que impressiona.
Estou como o Zé. O texto e a imagem estão em sintonia e tocam-nos muito!
É mesmo isso. Na infância e na velhice as diferenças tornam-se claras. Aí entre os 20 e os 50 fica muito diluido.
Mas está bem visto, quando se entra nessa 3ª idade tudo pode acontecer - há quem 'resista' muito bem, quer homem quer mulher, e quem se vá abaixo de um modo notável.
Gostei.
Fico sentimental quando leio coisas destas...
Como virei eu a ser?...
Muito bem escrito.
E dá cá que pensar....
Obrigada pelas palavras simpáticas.
A verdade é que essa coisa da idade é muito complicado!!! Ainda hoje em conversa com o meu filho lhe dizia que para mim cada um de nós tem a idade com que se sente.
O meu pai, com 80 anos era um adolescente, com uma juventude espantosa, uma alegria, um entusiasmo que muitos jovens não têm. Por outro lado conheço (poucos) indivíduos, ainda novos mas com «espírito velho». É importante o que se sente.
Contudo há casos (e este que contei é um ) onde a mesma pessoa tem uma queda a pique em pouco tempo. E isso é um pouco assustador.
Eu acho que a tua amiga deve ter perdido o combóio, ficou para trás. Também estou convicta que há riscos que alguns de nós não corremos. Tem mais a ver com a personalidade de que com a idade.
Tenho uma para a troca que não sei se é menos dramática mas como o contexto foi um bocado outro deu para reflexões menos ,como direi,sérias...Morei anos num bairro de Lisboa que resolvi revisitar outro dia.Para isso convidei um "rapaz" da minha geração,morador no bairro na altura da nossa adolescencia,mas que na altura os meus pais me proibiam de frequentar...coisa das chamadas classes, que nos tais bairros que ao virar da esquina já são mais para o popular, eram corriqueiras e comuns,mas adiante, porque se a Dona Mónica que morou mais ou menos no mesmo sítio e na mesma época não deu por isso é porque não é cientifico...Bom lá fomos e no caminho fomos passando por várias das chamadas "vilas"e numa delas lembramo-nos de que existia ali uma senhora imensa de seios enormes,onde se dizia,ela deitava os netos,filhos duma filha e de vários pais,filha essa que era o terror dos marçanos e droguistas do sitio porque na velha tradição do "evaristo tens cá disto" atirava mãos cheias de feijões e outras vitualhas aos rapazolas atrás do balcão.A mãe para reforçar a figura dava pelo nome de "ti Generosa".Rindo dessas e doutras lá fomos descendo a calçada ao contrário do poema predileto da Odete Santos e enfiamos numa outra "vila" da qual eu não me lembrava e lá estava arranjadissima que nem o Leitâo de Barros faria melhor.Admirando a coisa fomos interpelados por uma velhinha muito simpática,cabelo completamente branco,bata e canadianas que nos perguntou se andavamos a ver casas para alugar.Que não senhora,que só tinhamos vivido por ali, mas mais acima quando eramos miudos e estávamos a ver se reconheciamos os sitios e tal...E lá veio a lágrima da criatura pelo marido recem morto que algum havia de ir primeiro e a saudade da sua santa mãe que talvez os senhores se lembrassem vivia numa vila mais acima e se chamava Generosa...Quem diria que a respeitavel velhinha (82 disse ela )era a moçoila dos feijões e terror dos marçanos.A idade se alguma coisa faz é tornar tudo respeitável...Que remédio!AB
Desculpa lá mas saiu duas vezes porquê?AB
AB, acho que a Emiéle compreende o duplicado. Eu gostei muito.
Entendo também a autora quando diz, da queda abrupta, da senhora, dá que pensar.
Oh! Apaguei o duplicado da AB, antes de ler o que o Zé escreveu. (para quem só chega agora o comentário/história saiu repetido e eu apaguei a 2ª dose)
Que excelente história AB!
São estas recordações e memórias que vale a pena deixar por aqui. A tua é óptima. Muitas vezes (como hoje) os comentários só por si, valem o post.
Que bom ler estas coisas. Cá por mim tenho ainda a idade de sempre. Mas lá que me doem os joelhos, lá isso doem!
Que bom ler estas coisas. Cá por mim tenho ainda a idade de sempre. Mas lá que me doem os joelhos, lá isso doem!
Desta vez é o computador que está com dores e não me deixa saír sem me repetir. Quem dá uma ajudinha?
Idos de Março
Ainda te vou ver na televisão daqui a muitos ano numa daquelas reportagens fantásticas já imagino o título "Avó de 112 anos é a blogger mais antiga do Mundo no activo"
Sabes que eu noto isso das diferenças de idade no relacionamento com o meu irmão que é 7 anos mais novo que eu, houve alturas em que a diferença se notava de uma maneira abismal, e por exemplo neste momento estamos sempre os dois, saímos juntos, etc...
o farpas já disse o que eu ia dizer sobre ti...
nem todas as pessoas envelhecem da mesma maneira.
eu cá espero vir a ser uma velha gaiteira e blogueira!!
Olá Idos-de-Março! Olha essa dos comentários gaguejarem acontece a muito boa gente! Quem o fazia sempre era aqui o comentador FJ, a quem saiam sempre a dobrar, o que era óptimo porque me aumentava a «tiragem»... Hoje foi a vez da nossa A.B. que também bisou, mas eu apaguei-lhe a repetição. O teu deixei ficar, já agora... e isso dos joelhos se calhar passa com os calores do verão.
Farpas e Saltapocinhas - Realmente se eu ainda por aqui andasse daqui a 10 anos ninguém já me podia ouvir!!! E olha lá até aos 112 anos TAMBÉM AINDA FALTA MUITO!!
:))
E esqueci-me de responder ao Farpas: como vês é isso mesmo que eu digo. Um rapaz de 17 anos e um puto de 10, poucos interesses têm em comum. Mas já um de 19 e outro de 26 não fazem aí grande diferença...
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