quinta-feira, junho 28, 2007

Tristes crianças

A reportagem não é de hoje, mas infelizmente os casos que reporta também não são de hoje, nem de ontem, nem irão acabar amanhã.
Acontece que um jornal acompanhou um dia de uma CPCJ e ficou admirado:
as crianças negligenciadas não pertencem necessariamente a famílias de fracos rendimentos económicos
Há meninos que têm quase tudo o que o dinheiro pode comprar e não têm exactamente aquilo que não se compra com dinheiro – a atenção dos pais. E pelo que se vai vendo não é um caso completamente excepcional, encontraram-se vários.
Crianças filhas de quadros superiores, frequentando colégios caros, habitando uma boa casa, que poderiam ter uma boa qualidade de vida, mas estão sinalizadas para uma CPCJ por negligência familiar.
São crianças para quem por um lado os pais «não têm tempo» e vivem entre a escola e os seus brinquedos e que por outro lado assistem a tristes cenas de violência doméstica. Mesmo não sendo vítimas directas dela, o facto de assistiram é também uma violência para uma criança.
E, diz a reportagem algo que facilmente se adivinha: a dificuldade que os técnicos sentem de intervir nestes casos é maior do que numa família também disfuncional mas de fracos recursos económicos. «Estas pessoas sentem-se muito mais invadidas na sua privacidade», dizem-nos. Natural. Calculo que nas famílias pobres isso também aconteça… mas defendem-se pior.
Mas o mais importante não será respeitar a privacidade das famílias, mas o bem-estar das crianças, a capacidade educativa destes pais.
Talvez umas aulas de formação, se são pessoas tão importantes e ocupadas, talvez aceitassem melhor as suas obrigações se lhes chegassem em formato de power-point.

10 comentários:

josé palmeiro disse...

Tudo verdade! Quantas e quantas vezes isso acontece, pois só tem a ver com as pessoas, e o facto de terem dinheiro e posição não é sinónimo de maior afecto e de cuidado. Concordo em absoluto contigo.

Anónimo disse...

(Olha!!!! Cruzei-me com o Zé!! Olá, Bom Dia!)

Histórias tristes.
A verdade é que em classes sociais «favorecidas» as coisas dantes ficavam maius escondidas. Como agora de tem de participar, aparecem mais os podres. Mas olha que isso é mesmo transversal à nossa sociedade - muitos pais 'compram' o seu sossego com as vontades que fazem aos filhos, e umas prendas extra, e toca a andar! Em todas as classes sociais.
E a tal 'violência doméstica' como tu já aqui tens dito, infelizmente aparece em todas as classes, só que até agora, a malta vip conseguia encobrir mais...

cereja disse...

É isso mesmo Joaninha. Sabemos que a tal violência doméstica se espalha trasnversalmente na sociedaqde mas há uma mais visível do que outra.
Neste caso, o que aqui se conta são mesmo crianças negligenciadas. Reparem que vai ao nível da higiéne! Então aqueles pais nem olham para os filhos para repararem se andam lavados ou porcos?????

Anónimo disse...

Eu penso que estes casos apesar de tudo são raros. Quero dizer, casos que cheguem mesmo a uma CPCJ, o que quer dizer que são casos graves dessa negligência. Mas cada vez se vê mais, crianças e adolescentes, que andam «mal-educados» no sentido verdadeiro da palavra. Há cada vez mais, pais que se sentem muito culpados por as suas vidas não lhes permitir estarem mais tempo com os filhos e portanto o tempo que estão não são capazes de os contrariar em nada. E portanto há uma geração criada sem regras, sem limites, que consegue obter tudo o que materialmente deseja porque os pais não são capazes de lhes dizer que não. Não são crianças felizes. Mas o certo é que os pais sentem uma culpa que não é justo sentir, porque a vida que fazem não foram eles que a ‘escolheram’, foi a que tiveram de viver. Esta questão preocupa-me muito, lido com estes problemas por profissão, e tive de escrever este ‘lençol’ no comentário porque não pude deixar de o dizer: Não são os pais que não querem estar com os filhos é toda a estrutura social que não os deixa. E os pais, que são homens e mulheres para além de pais e mães, deviam ter também tempo para si próprios, para viver a sua vida sem culpabilidade.

Anónimo disse...

Essa da «formação» tá bem apanhada! Para certos snobismos intelectuais é mesmo assim!

Anónimo disse...

O meu comentário entrou ao mesmo tempo do da Mary, só agora o li.
Pensando bem, ela tem razão. Não tenho filhos ainda, mas tenho amigos que vivem em função das crianças, que se tornam completamente egoístas e uns tiranetes. E, como a Mary disse, lá no fundo há um grande complesxo de culpa por não terem mais disponibilidade, só que a culpa não é deles!

Contudo, esses senhoritos, muito youpies, muito profissionais, quando têm filhos metem-nos no inglês, ténis, informática, o diabo a 4, mas parece terem medo de se ocupar deles...

saltapocinhas disse...

eu sempre imaginei que houvesse crianças com problemas nessas classes sociais, mas isso não é muito falado (eu nunca tinha ouvido falar).

Lembras-te do filme "adeus pai"? é um bom exemplo e esses casos nem devem ser tão raros como pensamos!

Rita Inácio disse...

Faltando o amor a uma criança já se trata de uma negligência, seja em ricos ou em pobres...
Mas parece que isso é mais evidente em quem têm dinheiro!!!
Enfim!Que tristeza!

cereja disse...

O comentário da Mary não foi lençol nenhum, e foi muito importante. Ela tem toda a razão. Os pais «modernos» pecam por um excesso de complacência em relação aos seus únicos filhos, e sentem-se ‘culpados’ até porque toda a sociedade está orientada nesse sentido, de não darem o suficiente aos filhos. Essa relação também não é boa. É péssimo, quando a criança é abandonada, negligenciada, e foi nesse sentido que escrevi o post. Mas quando a Rita diz, e muito bem, «faltando o amor a uma criança já se trata de uma negligência», é também importante saber «amar bem». E o BOM AMOR é o que dá carinho e dá regras, o que sabe dizer Sim ou Não com segurança, o que prepara a criança para o mundo adulto.

cereja disse...

Tens razão, Saltapocinhas, essa história é mesmo um bom exemplo.
O meu comentário anterior saiu um pouco emocionado demais, mas é que este é um tema que considero particularmente importante.