quarta-feira, junho 06, 2007

Dívidas

O último episódio da série «Conta-me como foi» (que continuo a recomendar) mostra como é que pouco a pouco o vírus do consumismo começou a entrar em nós. Primeiro comprava-se a prestações coisas que eram indispensáveis, depois vieram as coisas que tornavam a vida mais agradável, depois as coisas que seria um “luxo” mas com as quais sonhávamos e os nossos conhecidos já começavam a ter – e isto por meio de ‘letras’ e prestações.
Não sei se se recordam de uma campanha do tempo de Mário Soares com o slogan «Temos de viver com aquilo que temos!». Era um pouco esse o espírito, que pela altura em que se passa a série começou a desaparecer e essa campanha procurava ‘pescar’…
Mas por outro lado, ontem falando com uma amiga sobre as próximas férias, pasmámos as duas de como tem caído o nosso poder de compra! Inacreditável a pouca qualidade de vida de hoje quando comparamos com alguns anos atrás…
Isso pode justificar que
o nível de endividamento dos portugueses tenha aumentado no ano passado, até aos 124 % do rendimento disponível.
A análise de quem escreve o artigo conclui que houve «uma diminuição da taxa de poupança» (qual poupança…?!) e que «uma parte significativa da dívida dos particulares está relacionada com a aquisição de habitação».
E esse fenómeno devia ser analisado. É certo que andamos a gastar muito, e esse fenómeno tem a ver com a qualidade da publicidade e a dificuldade em resistir ao seu apelo por muita gente.
Mas a habitação é uma primeira necessidade. Que devemos pagar de um modo justo. E por justo entendo que corresponda a uma parte razoável do salário de cada um. Se por um lado parece absurdo que existam famílias a pagarem ao senhorio uma percentagem de menos de 5% do seu rendimento, menos do que pagam por um par de sapatos, por outro, absurdo é que nas contas dum casal mais de um salário seja para a renda ou a amortização da casa
Assim entende-se que haja tanta dívida!

6 comentários:

josé palmeiro disse...

Passando do que escreves, para a minha realidade, só posso dizer que confirmo em absoluto a tese da habitação. Nunca, por filosofia, quis ter uma casa. Estava bem, no mercado de aluguer, e de qualquer maneira, não encaixava comigo, essa coisa de ser proprietário. Só que as coisas, como dizes, alteraram-se, e como fui um trabalhador de grande mobilidade, nunca tive a sorte de ter rendas "baratas" o que me levou a embarcar no crédito à habitação. Foi um embarque consciente de que, levaria a vida inteira a pagar, como se de renda fosse, uma casa que demora e demora, a ser minha, tendo-a pago já imensas vezes! Os tais fabulosos lucros da banca.

Anónimo disse...

Primeiro, faço tuas as minhas palavras quanto à série em questão. Sendo leve e bem disposta, não é uma coisa que fique chata de seguir e «erudita», ensina muito a quem nasceu agora!
E esta coisa da habitação é muito importante. Nem o 8 nem o 80. Também conheço famílias que vivem francamente bem, e a renda que pagam ao seu senhorio é, tal como aqui dizes, menos do que o preço de uns sapatos e nem é preciso serem de marca! Depois os senhorios nãofazem obras e torna-se um ciclo vicioso.
Para porem as barbas de molho, as rebds actuais são disparatadas! De tal modo elevadas que então as pessoas apostam em ter casa própria. mas para isso passam a vida toda empenhadas. E muitas vezes, quando pagaram todos os juros ao banco e a casa já é deles, está tão velha que os filhos para a aproveitarem vãogastar em obras o preço de uma nova...
Que ciclo vicioso.

Anónimo disse...

(olha, hoje o Zé chegou à minha frente; eu comecei por cima e só agora vi que ele já tinha passado por aqui há um bom bocado!)
Para falar também no meu caso pessoal, a 'minha casa' é do senhorio, e não achava mal uma actualização decente. Mas decente não é actualizar pela bitola dos preços de hoje que me iam levar 2/3 do ordenado!!! Aliás porque eu própria é que tenho feito obras de melhoramento, e se a casa está agradável isso foi feito com o dinhero que fui pedindo ao Banco para melhoramentos.

Anónimo disse...

Lemvro-me muito bem desse «Temos de viver com aquilo que temos«, quando Soaraes era primeiro ministro. Onde isso vai!...
Já na altura a gente refilava, porque queríamos era TER mais para poder viver melhor.
Contudo, o problema do consumismo é grave. Quando o tempo de lazer das famílias é uma voltinha num abominável Centro Comercial, o que é que se espera...?!

cereja disse...

Até aí tens razão, King, e sem dívida que a Publicidade está cada vez mais refinada e criativa! E a tal «voltinha dos tristes no centro comercial» é horrível para estimular o excesso de consumo desnecessário.
Mas o que aqui se nota é que a maior parte desas dívidas são para pagar a habitação. E voltamos ao tal problema que o Palmeiro também disse - dantes estávamos bem com casa alugada. [Nem era tão exageradamente barata como podia parecer, «um conto cento e dez» para quem ganhava uns três contos ainda era um terço do vencimento] mas fazia-se logo conta com isso, e não era incomportável. Mas realmente o mercado de aluger
hoje é um disparate, a as pessoas pensam que se custa tanto a amortização como o aluguer... então compra-se!
Mas eu acredito que se encontrássemos habitações decentes aí a 250 €, muita gente voltaria a alugar, e já não tinha um peso tão grande de d+ividas para toda a vida!

Leonidas disse...

Eu própria nunca me tinha imaginado a comparar casa, para além de não gostar da ideia de contrair uma dívida para toda a vida, já habitei várias casas alugadas e sei que o ambiente com a vizinhança é uma espécie de "totoloto" daí ainda menos me imaginava a fixar-me numa casa...! Mas aconteceu, quando apareceram os créditos vantajosos, com prestações equivalentes aos alugueres, o argumento "deixar património aos filhos" pegou! Hoje, dificilmente vendo o apartamento, isto porque Braga numa dúzia de anos se tornou um labirinto de edifícios, e porque a moda agora é comparar uma "vivendazinha geminada nos arredores, com quintalzinho"...., ou seja, acho que mais de metade do meu prédio está à venda por um ou outro motivo.
O grave nestas situações é que a realidade finaceira de muitas famílias se alterou também o que as obriga a recorrer a créditos em cima de créditos....a culpa não é deles, estão desesperados e a publicidade a linhas de crédito invadem-nos por todos os meios!
Mas tudo isto não é só por acaso, há grande conveniência da política económica e financeira. A título de exemplo, fui obrigada a fastar um "pipa de massa" para efectuar obras indispensáveis para consolidação do edifício, que sendo eu proprietária era obrigada a contribuir com a minha quota parte. Ass~im foi, juntamos o dinheiro, mais algum que tinhamos de lado e pagamos a obra. No final do ano, quando fui declarar o meu IRS incluí essa gasto nas despesas com a habitação e, surpresa das surpresas, só são dedútíveis as despesas deste género desde que sejam através de empréstimo bancário....."e esta ehm!?"
Parece mesmo um estímulo ao endividamento das famílias, não? Mas não deve ser, é apena coincidência!!!