domingo, junho 17, 2007

Amor

Há dias, a Mar deixou no Ponto Sem Nó um post que me tocou fundo.
Ela ‘limitou-se’ a citar uma frase da filha, acompanhada pela reprodução de um quadro de Klimt. Disse-lhe a Raquel:
"Mãe, quando eu te abraço assim, sinto o amor todo cá dentro".
O post era «apenas» isto.
E resume tudo o que é a indescritível relação de afecto mãe-filho.
Tenho pensado que eu, que gosto tanto de poesia e li tantos e tantos poemas de amor lindíssimos, conheço muito poucos que falem deste amor tão intenso, cego, absoluto, que nos une àquela coisinha gerada por nós e que tem mais valor do que tudo no mundo!
O que conheço mais próximo desse sentimento foi escrito há muitas dezenas de anos, é o
Poema da Maternidade .



Na nossa vida há relâmpagos, recordações de momentos que nos marcaram por qualquer motivo. Há bastantes anos, o «meu rebentinho» tinha entrado para a escola. Era pequenino mas eu sempre desejei que fosse autónomo, de modo que quando passou da creche para a primária ensinei-o a vir para casa sozinho. Tinha combinado com a educadora e, quando ele saía o portão, ela ligava-me para casa a avisar e eu ia para a janela ver se o via.
Às vezes não resistia e ia mesmo esperá-lo a meio caminho!
Certo dia estava à espera e comecei a vê-lo ao longe, muito sério e compenetrado. Notei a camisola que eu tinha tricotado, de riscas largas azuis e verdes, a gola branca da camisa a emoldurar a carinha de olhos grandes e cabelo cortado ‘à pajem’. A certa altura ele viu-me. A expressão de alegria que o inundou marcou-me como dos momentos mais felizes da minha vida. É que de repente como se acendeu uma luz atrás daqueles olhos, a boca abriu-se num enorme sorriso, e largou numa corrida louca de braços abertos até se atirar para o meu colo.
A recordação deste momento, é uma chamazinha que me aquece em alturas onde me sinto mais desanimada. Não a trocaria por nenhum tesouro deste mundo.

11 comentários:

Anónimo disse...

Esta uma sujeita a manhã toda sem abrir a net, vem agora ao Pópulo e apanha logo com um texto destes!!!
Os posts que clasificas de Intimidade são completamente especiais.
Fui ainda ao Ponto sem Nó ler a Mar e de facto está lindo o post «minimalista» dela, mas olha que aqui comovi-me a sério.
O poema da Fernanda de Castro é maravilhoso, tinha-o lido há séculos, na minha adolescência, e nunca mais o tinha apanhado; ainda bem que o encontraste! ( gente até se esquece do marido...)
O teu filhote está descrito de uma forma que até o vemos. É mesmo como dizes, às vezes parecem iluminados quando olham para nós. Não há nada melhor no Mundo.

Anónimo disse...

:)
Lindo.
E verdadeiro.

josé palmeiro disse...

Lindo, difícil acrescentar, seja o que fôr!
Como diz a Joaninha, a meio do dia,somos surpreendidos e ficamos, sem palavras.

Anónimo disse...

Fui ler o Ponto sem Nó, voltei cá, e continuo um pouco comovido.
Há afectos que são leves como uma pena e fortes como uma corrente de navio. Lembrei-me da minha mãe, como olhava para ela quando era puto, era a mulher mais maravilhosa do Mundo todo.
(ainda é!)

cereja disse...

Olá! (tens razão, Joaninha, ela tinha 'o defeito' de ter aquele marido, mas este poema é comovedor)
De vez em quando dá-me assim um vaip, e apetece-me escrever uma pieguice como esta, mas o que é a vida sem estes sentimentalismos.
E a história que conto, desse momento em que o surpreendi e ele se abriu todo num sorriso e correu de bracinhos abertos batendo com os calcalhares no rabo tal a força da corrida, ficou gravado para sempre!

Mar disse...

E que te dêem muitos destes vaips, Emiéle, fico feliz por ter sido eu a despoletá-lo, desta vez.

Muito pouco podemos acrescentar, de facto, à descrição que fizeste, à frase que transcrevi. Só podemos mesmo experimentar e, como disse lá no POnto, aproveitarmos o ter a sorte de poder viver essa magia que é vermo-nos replicadas numa coisinha saída de nós. ;-)
O Amor, esse, é indescritível.

Anónimo disse...

E a foto não pode vir mais a propósito! Não sei se vem do Google, se a apanhaste em qualquer sítio, se é pessoal, mas a cabecinha encostada no ombro mostra um tal abandono qe é lindo de se ver...
(não pode ser é do tal «rebentinho» que já vem a correr da escola! esse nem sei se gatinha :D )
Mas também fiquei com um nozinho na garganta; do post e do poema!

méri disse...

:)) = sorriso comovido!

cereja disse...

Fico muito enternecida que este meu desabafo tivesse tido tão boa recepção.
É Mar, às vezes leio coisas que vão despoletar outras que tinha guardadas. Foi o caso do teu post e desta recordação muito doce que me ajuda quando me sinto mais infeliz e frustrada. Já tive aquele sorriso para mim!
(não, a foto não foi do google) :D

cecília r. disse...

é muito bonito, o que escreves. e é o que nos fica, realmente. o mais forte, o mais importante. há aspectos em que temos sorte por sermos mulheres. :)
conto-te o que me disse hoje o meu pequeno. «mãe, eu quando era pequeno tinha muitas saudades quando estava longe de ti. mas aos seis anos aprendi um truque para se ter menos saudades: é uma pessoa lembrar-se da outra! de coisas que fizeram juntos, e isso...»
querido, não é? :)

cereja disse...

É mesmo, Cecília (by the way, obrigada pela visita!) sabes que penso nisso, na sorte de ser mulher e ter esta ligação profunda e física com aquele ser...
O «teu mais pequeno» descobriu um belo segredo. É tal e qual, dizem que o tempo é um grande remádio, mas é mentira, a memória é que é o maior remédio para as saudades.

Belo pensamento o do teu cachopo. Eles são formidáveis!!!