quarta-feira, abril 25, 2007

Onde estavas à tardinha do 25 de Abril?



Nessa altura eu tinha quase 16 anos. Já tinha experimentado as dificuldades de formar uma Associação de Estudantes no meu liceu. Tinha lido muitos livros emprestados, discutia noites inteiras com os meus amigos, era uma bomba de emoções prestes a rebentar. Sentia-me revoltadíssimo com a situação do país e assustado com a perspectiva de ir para a guerra. Aquele dia parecia um sonho para mim.
Desde manhã que andava na rua com o grupo dos meus amigos e amigas. Éramos muito novos, mas loucamente entusiasmados. Íamos encontrando outros grupos, de malta do cineclube, do club de jazz, e íamos engrossando o grupo que já era enorme. Subíamos aos Chaimites, que dantes nos metiam medo por significar guerra e morte, e agora nos traziam a paz.
Estava tudo enfeitado de cravos vermelhos, um acaso que se tornou um símbolo. Vivam os cravos! Viva o MFA! Viva a Vida! Viva a Liberdade! Gritávamos palavras de ordem que se inventavam na altura, e recuperámos «o povo unido jamais será vencido» do Chile, o pobre Chile, na altura sob a pata de Pinochet. A emoção de comprar jornais que traziam na primeira página: «Este jornal não foi visado por nenhuma comissão de censura».
Claro que não havia telemóveis portanto para falar para casa andávamos a juntar moedas para ir a uma cabine. A minha mãe queria-me em casa, mas eu desobedecia: «Oh mãe!!! Hoje, que caiu o fascismo?! Hoje não me acontece nada!» A minha namorada não conseguiu falar da cabine mas falou do telefone de uma loja, porque naquele dia todos facilitavam, todos estavam solidários. Nunca se viu coisa assim!
Finalmente ‘desmobilizámos’ para jantar, também tínhamos fome. Mas combinámos dar a volta aos pais e encontrarmo-nos depois do jantar. Havia tanto que discutir, que saber, que planear…
Sabíamos que a vida estava verdadeiramente a começar.

2 comentários:

Anónimo disse...

Se bem entendo o teu modo de escrever este deve ser aí o penúltimo - post.Para a tal «unidade de tempo, espaço e acção» acho que falta o final do dia. :)
Mas gosto deste. Gosto muito, Emiéle, porque tem um tom de entusiasmo, já sem o receio que ainda sentíamos nas outras histórias. E o agradável que é ver-se o República sem ser 'visado pela comissão de censura'. Esta história é a mais feliz destas 4. talvez por os protagonistas serem tão jovens e tão determinados.

cereja disse...

Quando escrevi este post (enfim, mais ou menos 'este') o ano passado andei aqui a scanarizar com alguma dificuldade um República que guardo com carinho. Afinal a imagem anda na net e foi o que fiz, recuperei-a. Só que fica pequenina, afinal a minha é mais real...
É certo, esta história é puro entusiasmo. É o lembrar um tempo devida onde tudo é exagerado, ou se ama loucamente ou se odeia profundamente - a adolescência. E como esse dia foi visto por eles.