segunda-feira, abril 30, 2007

24 de Abril - Guerra

É impossível falar do “24 de Abril” sem falar na Guerra.
Guardei este ponto para o último dia talvez por ser tão grave que devia ter um lugar à parte. A guerra colonial. Foi a gota de água, o tsunami que fez finalmente cair o fascismo. Hoje em dia, em que o serviço militar nem é obrigatório - e, mesmo quando ainda o era, tratava-se de uns meses aborrecidos em que se tinha de interromper os planos de vida para frequentar um quartel e fazer uns duros exercícios físicos - não se pode imaginar o que era a angústia das famílias portuguesas que viviam o terror de perderem um filho ou de o receberem mutilado para toda a vida. E tocava a todas as famílias. Havia alguns casos, em menor número, em que os rapazes decidiam não partir. Eram os refractários (se desapareciam antes de serem chamados) ou os desertores (se desapareciam já com o treino militar recebido). Contudo, nesse caso a angústia dos pais era outra: sabiam-nos longe das balas mas muito distantes de si, nem sempre recebiam notícias sabiam apenas que estavam num país estrangeiro, vivendo sabe-se lá como… E ali não havia escapatória, mesmo quem tivesse dificuldades de saúde servia para a manutenção militar, para serviços menores, mas partia na mesma para África. Foi um terrível ceifar de vidas, sem uma saída à vista, porque Salazar dizia-se “orgulhosamente só”.
Comentário
Não esquecer também o aspecto «castigo». Havia incorporações antecipadas para os «mal comportados». A única saída era só a emigração ilegal.
FJ
Uma história verdadeira entre muitas: Um amigo meu foi incorporado. Foi para Moçambique. Odiava aquela guerra, estava contra ela, e foi por que a isso foi obrigado. Em pleno «teatro das operações» perante uma granada quase a rebentar, atira-se para cima e salva todos os camaradas. É reenviado para Portugal como heroi, e é chamado a uma cerimónia no Terreiro do Paço para receber uma comenda. Coerente com o que pensava, recusa-se e não vai receber coisa nenhuma. É então castigado, volta para a guerra despromovido, como soldado raso. Cumpre todo o tempo a que é 'condenado' depois de ter sido 'heroi'.
Voltou, vivo.
Mas por pouco tempo. Anos depois atirou-se de uma janela. Stess de guerra?
AB

4 comentários:

josé palmeiro disse...

Tudo verdade e bem vivo, na memória dos que a viveram.

Anónimo disse...

A expressão stress de guerra aparece muito tempo depois.Era mais desgosto de vida ou se quiseres "orgulhosamente integro"...AB

cereja disse...

Tens razão, AB. Hoje chamar-se-ia assim. Acho «desgosto de vida» mais sentido e mais bonito.

Zé, nós sabemos mas hoje há quem não saiba ou adultere as coisas a seu gosto para provar sabe-se lá oquê!!!

Anónimo disse...

Fechaste est série com chave de oiro. E o depoimento do AB é muito importante para quem arrogantemente 'arruma' quem não quis ir à guerra como snedo um conjunto de cobardes. Nesta história, cobardia é que não há. Uma ponta de loucura talvez, mas muita valentia, nas suas diversas vertentes.