domingo, abril 29, 2007

24 de Abril - Filhos Ilegítimos e Enfermeiras

Como consequência da Lei da Concordata de que falei lá atrás acontecia que as pessoas se separavam e uniam-se com outros parceiros mas tinha de ser tudo na ilegalidade. Se no novo casal acontecesse nascer um bebé, a questão era gravíssima. Se era o pai que tinha tido um casamento anterior, a solução era a criança ser registada como filha de pai incógnito, ilegítima, mesmo que sempre vivesse com aquele seu pai verdadeiro e que bem gostaria de o assumir. Se era a mãe que vinha de outro casamento, o problema era ainda mais grave porque o bebé pertencia por lei ao “marido”, o tal marido legal dessa senhora. Se o pai fosse solteiro, poderia registar-se com o nome do pai e filho de mãe incógnita ( extraordinário!) Se os dois tinham sido casados a questão era quase insolúvel.
De qualquer modo para uma criança era uma nódoa social, aparecer perante os seus colegas como de pai incógnito…


Comentário

É curioso como hoje em dia isso parece uma questão sem qualquer interesse, uma bizantinice. Numa época onde qualquer criança tem o nome dos dois pais casados, solteiros, divorciados, até custa imaginar uma coisa destas. Aliás hoje com os testes de ADN nem há dúvidas sobre quem seja o verdadeiro pai de cada um (claro que quanto à mãe, isso então era delirante!) Mas a verdade é que gerou muito sofrimento no tempo da concordata, pelos motivos que aqui disseste. Porque não se tratava apenas de pessoas marginais, a existência de filhos ilegítimos, ‘bastardos’ ou naturais acontecia imenso no passado (sempre achei espantoso falar-se de filhos ‘naturais’ como se os outros fossem ‘artificiais’ !?!) Mas neste caso eram casais que viviam juntos, a vida inteira muitas vezes, até casados noutras terras mais liberais, e os filhos tinham essa «mancha» de verem averbado na Certidão de Nascimento filho de pai incógnito. Uma enorme vergonha de algo que as pobres crianças não tinham a menor culpa.

C.



Comentário
A concepção de profissão feminina era típica da ditadura. Já a concepção de feminino é espantosa, só faltou re-discutir se as mulheres tinham alma, porque personalidade não tinham. Pobres mulheres que tiveram de suportar aquilo tudo!
FJ

4 comentários:

josé palmeiro disse...

Que mais dizer? Está tudo dito, era assim, que o ditadorzito de Santa Comba, solteiro de profissão, encarava as MULHERES, e a forma ideal de as moldar ao sistema, de forma a moldá-las à sua medida.

cereja disse...

E a gente «comia e calava».

Anónimo disse...

Então e as professoras primárias?AB

cereja disse...

Eu falei lá para baixo, AB.
É que «desdobrei» estes apontamentos em muitas pequeninas histórias. Mas a violência que era a intromissão do governo na vida privada de cada um, era uma coisa que os miúdos de hoje não concebem de certeza.