sábado, março 03, 2007

Mudar de emprego

Ontem à noite, num zapping em frente do televisor, apanhei na 2, um pedacinho de uma entrevista a Maria João Rodrigues.
Não vi a entrevista toda, portanto pode ter-me escapado muita coisa importante. Mas quando liguei ela estava a dizer com muita veemência «As pessoas têm de perder o medo de mudar de emprego!» e, pelo que entendi, a conversa - onde até referiam que a manifestação daquela tarde tinha sido enorme – era sobre a mudança de mentalidades que as pessoas tinham de sofrer em Portugal. Maria João Rodrigues insistia «o tempo onde se tinha um emprego para toda a vida está definitivamente ultrapassado» explicando que isso foi uma época histórica, que teve as suas razões mas agora a economia e a sociedade regiam-se por outros moldes. As pessoas, habituadas a terem um único emprego agora tinham medo de mudar, mas esse receio tinha de passar. E insistia «não se pode ter medo de mudar de emprego, por toda a Europa é o que se passa: começa-se por um, tempos depois há condições para outro diferente, e mais adiante um terceiro com melhores condições».
Eu pensava que estava com alucinações, que estava a ouvir mal, até que a jornalista lá disse a frase mágica «o receio não é mudar de um trabalho para outro, é mudar do emprego para o desemprego!» e aí houve um momento de pausa da entrevistada, pareceu reflectir…
Creio que a Maria João Rodrigues e talvez os seus familiares não tenham o menor receio de 'saltar de um emprego para outro'. Eu acredito que haja ainda quem tenha esse medo porque, apesar de tudo, o famoso «emprego para toda a vida» dá uma tranquilidade agradável. Mas, nesta altura do campeonato, já não se trata disso, não é a 'mudança' que inquieta os portugueses senhora doutora. Não se trata da mudança mas da ausência. As pessoas não têm já medo de mudar de emprego, o medo que têm é de o perder sem alternativa.

6 comentários:

Anónimo disse...

Tocaste no problema, o medo, não está em mudar de emprego, está em cair no desemprego. Vidé os trabalhadores/as, da Alcoa, que emprego para eles, Maria João Rodrigues, e são só 480?

cereja disse...

Tal e qual. Acredito que se lhes fosse proposto «uma mudança» agarrassem logo a oportunidade, não «têm medo de mudar», a questão é outra.
Sinceramente, o que penso é que a Maria João estava a pensar num tipo de pessoas, que realmente existiram e se assustavam com tudo o que fosse alterar aquilo que tinham por seguro. Só que acho que desta vez quem está 'desactualizada' é ela. Já quase ninguém pensa assim...

Anónimo disse...

É certo. Ainda há pouco tempo havia quem não gostasse de mudar, mas creio que hoje se nos agarramos com unhas e dentes ao que temos é porque se o perdemos nada diz que vamos encontrar outro...

cereja disse...

Zé e Joaninha, o que ontem me impressionou foi a sensação de que ela estava a falar de realidades que só conhece de estudos ou dos livros. Tanto quanto sei tem os seus bens pessoais, e teve sempre bastante que fazer como professora, como ministra, como investigadora, etc. Ela sim, podia «mudar» de emprego com a maior facilidade. Até «escolher» o emprego. Mas quando vejo jovens que tiraram um curso, uma licenciatura por vezes, com tanta dificuldade e andam a bater a todas as portas sem arranjar que fazer, quando vejo trabalhadores com o caso Alcoa de que fala o Zé Palmeiro, que não vão «mudar» para nada, sinto-me muito revoltada com a abordagem que se faz ao problema.

Anónimo disse...

O problema é que Maria João Rodrigues e amigos terão sempre emprego garantido para toda a vida. Os políticos protegem-se entre si, e sempre há uma cunha prestável.

Não há emprego para toda a vida, e como poderão as pessoas sobreviver? E os mais idosos? É que se é proibida as discriminações, basta abrir os anúncios de emprego: "até 30/35 anos de idade". Se isso não discriminação, o que será?

Estamos num ponto de inversão, em que todos os direitos conquistados através de sangue e muita luta são agora dizimados para satisfazer um entidade superior que é o Mercado. Se nunca como antes foi criada tanta riqueza, porque então a miséria aumenta nos países e fosso de rendimentos é galopante? São essas as respostas que nunca são dadas...

Explíctio

cereja disse...

Certo, Explícito, aqui tens toda a razão. Revolta-me um tanto ver alguns senhores e senhoras falar do alto da sua «não-experiência» do que TEM DE SER segundo a sua visão, mas sempre com as costas quentes. Apetecia por uma magia fazê-los viver uns tempos a vida dos outros a ver se ainda falavam com tanta desenvoltura...
Até os seus filhos ou sobrinhos, acabam os cursos e conseguem lugares de assessores cá com uma facilidade...