segunda-feira, março 12, 2007

A aprendizagem e a memória

É curioso que passando os olhos por dois artigos nos jornais desta manhã, encontramos o que pode parecer uma contradição. Num deles, dizem-nos que um ensino que apela à memorização de conhecimentos inúteis é um ensino fracassado podendo parecer que com isto se condena essa tal memorização. Contudo, mesmo nesta informação, pode retirar-se o que mais importa, e se para alguns o sublinhado está na «memorização» talvez para outros esteja em «de conhecimentos inúteis» o que é coisa bem diferente. Contudo, a verdade é que durante muitos anos, ao contrário do que era uso há bastantes décadas atrás, a escola pôs completamente de lado a técnica do decorar. Sabemos bem isso.
Mas, noutro artigo de informação vamos ler que
«Memorizar promove o crescimento celular» , e isto é afirmado por um reputado neurologista. «Compreender e memorizar não são coisas incompatíveis» diz ele, e afinal isso vem ao encontro do que muitos de nós pensávamos.
Parece que se quer ir contra a corrente, e já ouvi algumas pessoas indignadas com a ideia de que se está a voltar ao passado por querermos que as crianças decorem coisas. Ora as crianças decoram coisas, sim. Decoram os nomes dos seus jogadores de futebol, as cantigas da Floribella, os anúncios da TV, qualquer menino mesmo pequenino decora imensas coisas com a maior facilidade. Coisas que aprecia e, muitas vezes, escolhidas por ele. Ora aquilo que o neurologista Castro Caldas nos diz, é que a memória se treina como outra coisa qualquer e há um momento ideal para isso. A própria criança nos dá esse sinal quando, como eu disse, começa a decorar coisas sem interesse académico, apenas com interesse pessoal. E «antigamente» nos primeiros anos de escola, decorava-se muito, desde poesias à tabuada, desde a lista de todos os reis de Portugal às preposições e definições gramaticais. Até podia «não servir» para nada, mas tinha uma importante função, era treinar a memória. Uma criança – ou um adulto – quando salta dezenas de vezes no mesmo local, 'aquilo' não «serve» para nada, mas treina aqueles músculos. E todos aplaudimos a ginástica como sendo um bem, exactamente porque desenvolve os nossos músculos, a nossa agilidade, a nossa maleabilidade. Então porque nasceu essa repulsa pela memória, pela memorização com a desculpa de não servir para nada? Serve, sim. Tal como se passa com os músculos, serve para a desenvolver, para estar pronta a ser utilizada quando for necessário para as tais coisas ‘importantes’.

Era isso que professores e pais deviam ter presente, e não pouparem os seus meninos à chatice de decorar.

7 comentários:

Anónimo disse...

Não queria deixar um comentário muito longo mas há duas ou três coisas importantes:
Como em tudo os extremos são errados. A ‘excessiva’ memorização podia ter efeitos maus. A verdade é que uma criança pode começar a embirra com a escola por a obrigarem a decorar e com esforço, coisas que não entende. Contudo como diz aqui o neurologista e muitos pedagogos já o diziam, o treinar a memória na altura exacta do desenvolvimento é um bem. Como dizes, ‘antigamente’ decoravam-se poesias por exemplo (se calhar hoje decoram-se mais cantigas) e muitas coisas dessas inúteis, a mais «famosa» era as linhas de caminho de ferro de que todos já ouvimos falar!!! Mas como lembras os reis das nossas dinastias, os rios e montanhas de Portugal, etc. A História e a Geografia era um manancial para decorar coisas. Se calhar isso era o 80. mas penso que o 8 de há pouco tempo, onde a tabuada era «compreendida» e não decorada, as contas se faziam com a máquina de calcular, etc, era outro extremo, não vantajoso para a criança.
No meio termo está a virtude, neste caso. E é importante acreditar que se não treinamos a memória aos 6,7, 8, 9 anos, não é aos 30 ou 40 que o vamos fazer com sucesso.

Anónimo disse...

Acho que estão a dizer exactamente a mesma coisa, minhas senhoras e amigas. Concordo em absoluto que os extremos, principalmente nestes casos, são de excluir, logo, há que treinar a memória, como os músculos, como tudo, afinal. Deixem-me colocar aqui uma situação real, pois passou-se comigo. Estudava eu, ainda, quando o professor de Geografia me propôs que descrevesse a viagem dum carregueiro que saído do Mar do Norte, desse a volta à Europa, rumando a Sul. Lá fui puxando pela memória e pelo saber e até Gibraltar, não houve qualquer tempestade. De repente, acabou-se, não havia mais portos nem mais carga e então, o barco foi ao fundo. Foi uma situação inesperada, até para mim, que fiquei sem poder mencionar, o resto da viagem.

Anónimo disse...

Essa questão do meio termo não é fácil. E às vezes oiço alguns pais a dizerem que o filho não tem memória, mas a verdade é que como dizes sabe na ponta da língua os nomes dos jogadores de futebol! É porque a memória está lá...
Essa hostória do Zé Palmeiro é giríssima. Realmente o que está próximo de nós é fácil conhecer, o pior é o resto :)))

Anónimo disse...

Acabei de dar um peido. E cheira muito mal. Alguém quer cheirar o meu peido?

Anónimo disse...

(encontra-se cada coisa aqui na blogosfera; fui ver o blog deste Joaquim e fiquei esclarecido, escuso de lá voltar)
Quanto ao que dizes o grande comentário da 'nossa' Joaninha resume o fundamental Nestas coisas de educação, como afinal em tudo, não podemos ir atrás das modas.

cereja disse...

Como disse o Zé Palmeiro, eu e a Joaninha, afinamos pelo mesmo diapasão. Aliás ninguém inventou a pólvora, isto foi só uma chamada de atenção para um facto que nem todos reconhecem.

(aquele Joaquim Monchica quis ter graça; aliás o seu nome e o do blog indicam isso - eu não achei muita, mas pode ser que venha a mudar de ideias)

Anónimo disse...

Para mim é claro, que a memoria tem de ser treinada e estava tudo muito bem como estava,embora discorde do 80. O que me choca é de vez em quando apareceremm uns ``iluminados`` que nao sei com que artes, conseguem vender estas ideias absurdas .As pessoas com boa memória são inteligentes isso , eu já constatei, ao longo da vida.Por isso vale a pena por os meninos a decorar e a não serem preguiçosos , porque aquilo dá trabalho.