sexta-feira, fevereiro 23, 2007

O concerto do Coliseu




Hoje é já uma recordação «histórica», mas quem o viveu nunca o poderá esquecer.
Tinham sido anos muito duros para o Zeca. Os álbuns editados com dificuldade, doente, expulso do ensino, apesar dos prémios que recebe a sua vida é dura e difícil. Em 73 é preso pela Pide e experimenta na pele a prisão de Caxias.
Em fins de Março de 74, organiza-se um Concerto no Coliseu onde o Zeca está rodeado por outras vozes suas amigas – Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire, José Jorge Letria, Barata Moura, Fernando Tordo…
Era um mar de gente o Coliseu. Sabíamos que estávamos do mesmo lado da barricada, havia uma cumplicidade enorme, um entusiasmo, uma alegria, que só se entende por pairar no ar alguma coisa de indescritível mas que era a premonição de que um mês mais tarde o país estaria livre e aquelas canções seriam cantadas por multidões ao ar livre.
Ali ainda não. Em 29 de Março de 74, a plateia do Coliseu cantava em coro o refrão das canções que todos conhecíamos, mas sabíamos que à porta estariam agentes da PIDE a assinalar quem ali tinha ido. Mas ali e agora, havia força, havia comoção.
O concerto terminou com todos de pé a cantar Grândola, Vila Morena, de braço dado com o vizinho do lado. Era uma canção de unidade e força, premonitória do que se ia passar menos de um mês depois

10 comentários:

Anónimo disse...

Uma sugestão, Emiéle: porque não deixas este post na categoria Abril? Acho que merece.
Fez-nos sentir outra vez o tempo onde se estava tão unido - que saudades...

Anónimo disse...

Este escrito, não tem comentário.
Recordo o Zeca, para complementar, em Estremoz, 1975, no Largo de S.José, em cima do reboque de um tractor, no Vimieiro, nas mesmas condições, e em tantos e tantos sítios e com tanta e tanta gente, que, nem sei explicar...

rui disse...

a memória é curta. passados vinte anos parece que há mais pessoas interessadas em "re-avaliar" as "obras" do Marcelo e do Salazar. Entre elas muitas há que devem ter estado nesse concerto.
Por outro lado, esta é uma comemoração da nostalgia "unitarista".
o Zeca Afonso foi o produto de um momento histórico muito particular que se viveu no nosso País.
Um tipo de rebelde com causa que viveu numa época em que foi possível o seu reconhecimento público e até a sua mitificação, mas que por vários motivos é dificilmente compreensível na actualidade.

rui disse...

Esta a escrever o comentário e nem tinha reparado que o comentário da Joaninha é um bom exemplo do que eu referi quanto ao "unitarismo".
Resta acrescentar que se o ZA era uma das (raras) figuras consensuais, muito desse unitarismo não passa disso, unitarismo. A realidade era bem diferente.

Anónimo disse...

O ambiente foi inesquecivel, realmente, tudo junto, com o 25 de abril e o 1 de maio, datas quase iguais, talvez de unidade.fj

Anónimo disse...

Boa e comovente memória esta, de um tempo onde era «fácil» a unidade, coisa bem complicada hoje como lembra o Rui (bom blog o teu! vou passar por lá sempre que tiver tempo)

Anónimo disse...

Bom, eu não estava lá...
Estavam os meus pais, que já me têm falado de como a malta se cotizava para apoiar o Zeca com tantas dificuldades económicas, expulso do ensino oficial e evidentemente que sem conseguir viver, ele e a família do rendimento dos discos.
Deve ter sido um momento único!

Farpas disse...

Eu não estava lá, mas no meu post de homenagem acabo com a frase com que ele acabou o concerto: "A utopia com que sempre sonhei é concretizável."

cereja disse...

Tens razão, Joaninha, acho que vou seguir o teu conselho.
Rui, FJ, Zorro, esse aspecto da «unidade» era fácil quando o inimigo era tão óbvio. Hoje ele mascara-se com tantas peles de cordeiro que muita gente se baralha...
FJ - tens toda a razão, o momento desse concerto, o 25 e sobretudo o Primeiro de Maio, foi o triunfo da unidade. Pena ter sido tão curto.
Raphael, aproveita a vivência dos teus pais que te podem contar coisas interessantes.

rui disse...

obrigado, Zorro.