segunda-feira, janeiro 22, 2007

Apoios (?) à Família

Quem conheça um pouco da «nossa história» em questões de apoios à família sabe que nunca foi famosa. Uma profunda contradição entre o desejo expresso oficialmente de que a natalidade em Portugal aumente e a prática que mostra que para isso acontecer seria necessário um apoio ao agregado familiar que de modo nenhum existe. Com a justificação da famosa crise que dura há anos e cada vez está pior, o Estado tem andado a descartar-se de tudo o que pode custar-lhe dinheiro mesmo que sobretudo quando se trate de um «investimento a longo prazo» como é o caso das políticas sociais.
No caso da Infância os casos são gritantes e só não sabe quem anda afastado dos problemas. Os meses de licença que a mulher trabalhadora tem por parto aumentaram um pouco, é certo. Agora podem ser 4 meses, e o pai pode também ter uma licença para ficar ao pé do seu bebé. Contudo, estes 4 meses como sabemos é ainda muito pouco e a o certo é que a partir daí o casal terá de deixar o seu bebé num sítio seguro para ir trabalhar. E é aí que começa o drama!
Cada vez mais vão desaparecendo os pouquíssimos serviços oficiais que dão resposta a essa necessidade com uma verba que corresponde àquilo que os pais podem despender. A nossa Segurança Social tem passado, de um modo que começou lento mas tem vindo a acelerar rapidamente, essa responsabilidade para outras mãos. Afirmam (será que o acreditam?) que fica tudo na mesma e as crianças são igualmente bem tratadas numa instituição privada, o custo é identico e os pais não têm que se preocupar.
Obviamente que qualquer coisa não está certo. Se essas instituições pretendem ter lucro, não podem funcionar nos moldes de um serviço público. O caso de uma delas que neste momento
está debaixo dos holofotes é apenas um exemplo, a pontinha do icebergue. Os pais desta instituição, uma IPSS com diversos infantários e creches, afirmam que se verificou «uma política de diminuição do número de funcionários da instituição». E note-se que não se estavam a comparar com uma correspondente no sector público, estavam a comparar com ela própria. Mesmo assim, começam a cortar nos trabalhadores porque evidentemente que quanto maior for a rácio adulto/criança, menor os custos que têm…
O que se deve pensar é que este é apenas UM caso. Há milhares deles. Mesmo para se deixar uma criança pequena num infantário do sector privado onde se paga o valor de um SMN, tem de se pedir por favor ou ir para uma fila de espera. E a percentagem de vagas para famílias carenciadas, que as IPSS têm de ter por acordo com o Governo uma vez que são subsidiadas, é mínima.
Assim vai a nossa política de apoio à Família.


7 comentários:

Anónimo disse...

É malhar em ferro frio. Neste aspecto temos andado para trás muitos anos. e depois querem comparar-se à Europa de 1ª. Só por anedota!

josé palmeiro disse...

Tal como dizes e a Joaninha, acentua, é uma verdadeira regressão o que se verifica nessa área.
Mais uma vez, a MULHER, é a parte mais fraca da cadeia, tudo é uma imensa desgraça. Eu agora tenho o exemplo perfeito da situação descrita, com os meus netinhos. A sorte é terem uns pais maravilhosos que se desdobram, até mais não poder, mas eu pergunto?
Até quando, conseguirão, eles, aguentar?

Anónimo disse...

Tal e qual!
Um infantário que nem é «de luxo» pode levar 300 € por uma criança! Quem tiver dois, faça as contas!
Uma vez uma psicóloga aconselhou meio a sério, meio a brincar, que um casal meu amigo fazia melhor em contratar uma empregada doméstica, porque era mais barato e ainda lhe arrumava a casa. E os meninos não iam apanhar contágios de doenças na escola.

Anónimo disse...

O que é curioso é que muita gente pensa que lá por se chamarem IPSS (o SS quer dizer «solidariedade social») quer dizer que são uns benfeitores e trabalham por amor à causa...! No fundo é tanto ou melhor do que um privado, porque também têm lucro e têm muito menos peso de impostos. Claro que devem receber um X de clientes carenciados, mas essas vagas são logo entupidas e o resto é a pagar!

Farpas disse...

São negócios... enquanto as carências familiares continuarem a ser negócio as coisas vão ser sempre assim, tudo o que tem uma base de negócio tem de dar lucro... eu acho que esse tipo de instituições deveria funcionar ao contrario, as vagas a preencher seriam as dos não necessitados e em número suficiente para albergar os necessitados...

saltapocinhas disse...

Eu inscrevi o meu filho numa creche quando ele era bebé e ainda estou à espera que o chamem...
Quando finalmente o chamarem e o virem lá vão ficar espantados com o tamanho dele. Temo que não o aceitem por causa disso!

Agora a sério: conheço muita gente que tem só um filho por causa disso!
São mesmo lerdinhos das ideias estes senhores que não vêem um palmo para além do lucro imediato (patrões e governos)

cereja disse...

Exactamente Farpas, era o que fazia sentido. Aliás, aqueles que eram da Segurança Social, era mesmo assim. A prioridade era para quem necessitava e guardava-se uns lugares (poucos) para pessoas com mais posses. Tentava-se que não fosse demais para aquilo depois não ser «o guetto dos pobrezinhos», coisa horrorosa.

LOL, Saltapocinhas, quase apetecia desejar que realmente o chamassem... Por acaso também inscrevi o meu quando nasceu, mas quando chegou aos 3 anos e fui ver como estava 'aquilo' o infantário (que era excelenete!) tinha fechado!!!!!! Ganda galo!